João Duarte Dantas
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João Duarte Dantas (Teixeira, data de nascimento desconhecida — Recife, 3 de
outubro de 1930)
foi um advogado
e jornalista
brasileiro.Seu nome está ligado à História da Paraíba, principalmente porque foi o autor disparos fatais que vitimaram o então Governador do Estado, João Pessoa Cavalcanti de Albuquerque. João Pessoa era candidato a Vice-presidente do Brasil na chapa encabeçada por Getúlio Vargas, contra o grupo paulista de Júlio Prestes. A morte é considerada o estopim da Revolução de 1930, quando Getúlio ascendeu ao poder, após um levante popular contra uma suposta fraude nas eleições.
João Dantas era adversário político de João Pessoa e aliado de José Pereira, chefe político da cidade de Princesa, o qual liderava uma intensa oposição às medidas governistas contra os interesses comerciais do grupo sertanejo. José Pereira recebia apoio dos irmãos Pessoa de Queirós, de Pernambuco, primos de João Pessoa e proprietários do Jornal do Commercio.
A atitude de João Dantas costuma ser atribuída não à divergência política diretamente, mas a uma questão de cunho pessoal. O embate político travado entre ele e Pessoa, através da imprensa, inclusive com ataques ao pai de Dantas, Dr. Franklin Dantas, e outros familiares, acendeu o ódio mútuo. Nesse contexto, a Polícia da Paraíba, sob o Governo de João Pessoa, invadiu escritório de Dantas, à Rua Duque de Caxias, e, além de outras coisas, apoderou-se de cartas íntimas entre ele e a professora Anayde Beiriz.
O jornal estatal, A União, fazia suspense diariamente, ao comentar sobre documentos imorais que haviam sido encontrados no escritório de João Dantas. Acrescentava que os interessados poderiam ter acesso ao material, na sede da Polícia. À época, em decorrência de uma reforma no Palácio do Governo, o mandatário do Estado, João Pessoa, despachava em prédio defronte à sede de A União. Segundo o livro Órfãos da Revolução, de Domingos Meirelles, os mais íntimos de João Pessoa sabiam que nada era publicado no jornal oficial, sem sua aquiescência. A correspondência veio a público, dias depois da invasão.
A intriga fez que amigos de João Dantas o convencessem a se mudar para Olinda. Por ocasião de uma visita de João Pessoa a Recife, amplamente noticiada, com o objetivo de receber uma homenagem, João Dantas armou-se com seu cunhado, Moreira Caldas, e foi à Confeitaria Glória, onde disparou contra o desafeto. Caldas e Dantas atiraram simultaneamente, de modo que não seria possível assegurar de onde saíra a bala fatal.
Após serem presos na Casa de Detenção de Recife, foram encontrados degolados, a 3 de outubro de 1930, no início da Revolução de
A história já inspirou filmes, livros e peças teatrais. Até hoje, desperta muita polêmica quanto aos detalhes e interesses subjacentes às ações de ambas as partes.
Textos Escolhidos
O ano de
1930 nascera sob maus presságios. Poucos meses antes, o crack na bolsa de Wall
Street em Nova Iorque já estava repercutindo negativamente sobre a economia
brasileira, com a crise na cafeicultura e nas exportações.
A
sucessão presidencial ia num crescendo preocupante. Antônio Carlos, presidente
de Minas, era o candidato natural à sucessão de Washington Luís, um paulista de
Macaé, e que, findo o seu quadriênio no Catete, deveria ser sucedido por um
mineiro, em obediência à tradição republicana.
Citado
por Alzira Vargas do Amaral Peixoto, no livro Getúlio Vargas, Meu Pai - Ed.
Globo - Pág. 47, o catarinense Lauro Müller, com a frustração dos sonhos de seu
estado em fazê-lo presidente da República, dizia numa clarividente previsão:
-
Enquanto o governo do país permanecer nas mãos desses portugueses de Minas e de
São Paulo, não haverá perigo; cuidado, porém, com esses espanhóis do Rio Grande
do Sul, porque estes, se tomarem conta do poder, custarão a sair.
Com o
apoio de Washington Luís a outro paulista (no caso, Júlio Prestes), rompia-se a
monotonia dessa gangorra Minas-São Paulo. Aí, bafejada pela reação e pelo
estímulo mineiros, surgia a candidatura de Getúlio, presidente do Rio Grande do
sul, que até então se mantivera fiel à orientação política do governo federal -
fora antes, inclusive, seu ministro da Fazenda - , mas que se transformaria no
candidato da oposição.
O
companheiro de chapa era o presidente da Paraíba, João Pessoa, a braços com a
rebelião local de José Pereira num reduto no interior paraibano, que todos
imaginavam apoiado por Washington Luís e que, à frente de jagunços, anunciava a
criação do Território Livre de Princesa.
Dias
após as eleições, realizadas a 1º de março, a vitória da chapa Júlio
Prestes-Vital Soares era tão esmagadora que normalmente deveria desestimular
qualquer protesto da oposição. Mas acontece que essa oposição não aceitava o
resultado das urnas, acusando-o de falso porque obtido através de extensa
fraude eleitoral. Era a primeira vez que a oposição derrotada reagia. Mas não
seria a última em que se falaria de fraude. Muito pelo contrário.
A
revolução, coordenada por Góes Monteiro, Oswaldo Aranha, João Alberto, João
Neves da Fontoura, Flores da Cunha, Maurício Cardoso, Antunes Maciel, João
Carlos Machado, Virgílio de Melo Franco, Juarez Távora, Juracy Magalhães,
Afonso de Albuquerque Lima, Batista Luzardo e vários outros, já estava
praticamente na rua e sua articulação atingiu o auge do emocionalismo com o
assassinato de João Pessoa, na Confeitaria Glória, Recife.
Afinal,
por que João Pessoa foi assassinado?
Esse
crime merece uma reconstituição, não só pelos seus desdobramentos e
conseqüências, como também pela importância das pessoas nele envolvidas: a
vítima, João Pessoa, presidente de um estado; e o assassino, João Dantas, um
advogado paraibano, sertanejo da cidade de Teixeira e amigo de José Pereira, o
líder de Princesa, e de João Suassuna, o líder de Catolé do Rocha.
João
Duarte Dantas fazia violenta oposição a João Pessoa. Um apartamento seu,
localizado em sobrado da então Rua Direita, 519 (hoje Duque de Caxias), bem no
centro da capital, próximo do Ponto de Cem Réis e do palácio onde trabalhava
João Pessoa, foi invadido pela polícia no dia 10 de julho, sem que se saiba até
hoje se com ou sem o conhecimento prévio do presidente paraibano. Livros,
documentos e móveis de João Dantas foram queimados na calçada fronteira.
Informa-se
sem confirmação que se aprenderam cartas íntimas entre João Dantas e sua noiva
Anayde Beiriz. O jornal A União, que já era então o órgão oficial do governo da
Paraíba, publicou uma série de acusações gravíssimas a familiares de João
Dantas, inclusive ao patriarca, Dr. Franklin. Ódio mortal passou a jogar um
João contra o outro. Amigos preocupados com aquela rivalidade conseguiram que o
Dantas se retirasse para Olinda, em Pernambuco.
O
Presidente João Pessoa preparava-se para receber a homenagem de um grupo de
paraibanos pelo famoso Nego, inscrito como símbolo na bandeira da Paraíba,
quando anunciara a Washington Luís a sua definitiva recusa em apoiar Júlio
Prestes. Precisamente no dia 26 de julho, e acompanhado apenas do seu
motorista, foi ao Recife numa viagem particular, amplamente divulgada pelos
jornais locais, a fim de visitar um amigo enfermo, o Juiz Francisco Tavares da
Cunha Melo, internado no Hospital Centenário. O Estado de São Paulo publicou no
dia 3 de outubro de 1930: "Tudo indica que João Pessoa fora ver uma
cantora com quem vinha mantendo romance secreto e isto explica a sua ida à
Joalheria Krause."
Segundo
os escritores paraibanos Horácio de Almeida e Amarýlio de Albuquerque,
referidos por José Joffily no livro Anayde - Paixão e Morte na Revolução
de 30 - Ed. Record - Pág. 49, essa cantora era o soprano Cristina
Maristany.
No seu
refúgio de Olinda, João Dantas armou-se de um revólver e rumou para o centro da
capital pernambucana. Estava acompanhado do cunhado Moreira Caldas e não lhe
foi difícil vislumbrar João Pessoa bem no centro da Confeitaria Glória.
Aproximou-se dele:
- João Pessoa?
Eu sou João Dantas.
Vários
tiros foram disparados por João Dantas e por Moreira Caldas, não se tornando
possível, assim, caracterizar qual tenha sido a bala fatal que lhe varou as
costas. Ao tentar a fuga, João Dantas foi ainda atingido de raspão na cabeça
com um disparo feito pelo motorista de João Pessoa.
Em
seqüência, diversas outras mortes trágicas
Presos,
João Dantas e Moreira Caldas foram recolhidos à Casa de Detenção, do Recife,
onde ambos, no dia 3 de outubro, logo no início da Revolução de 30, viram-se
degolados a cortes de navalha e suas cabeças remetidas à Paraíba. Versão
diferente dá conta de que eles se suicidaram com golpes do mesmo bisturi,
primeiro Dantas, depois Caldas. Para sustentar a tese desse suicídio-a-dois,
José Joffily revela no seu livro, pág. 53, a existência de bilhetes deixados por ambos
sob os travesseiros:
"Como
poderiam estes documentos de despedida, escritos em instante derradeiro,
apresentar a correta redação, o talho das letras e a autenticidade das
assinaturas, comprovadas em perícia, se tudo fosse escrito no tumulto de uma
feroz degola e trucidamento?"
Cita a
confidência de João Dantas ao seu irmão Manoel, como prova do seu intuito de
suicidar-se: "- No caso de um movimento armado e vitorioso, eu não me
entrego. Mato-me!"
"-
E tens ao menos com que te matar?"
"Ele
abriu a gola do pijama e retirou dele um afiado bisturi."
Três
dias depois aconteceu outra morte dolorosa: a da noiva Anayde, uma moça de 25
anos, bonita, moderna e avançada para a época, que, já tendo ingerido o tóxico
peçonhento de uma cobra, procurou refugiar-se no Asilo Bom Pastor, à Rua
Benfica, bairro da Madalena, Recife, onde deu entrada às 11 horas do dia 6 de
outubro para, mesmo socorrida pelas freiras, morrer três horas depois. Causa
mortis, atestada pelo IML local: envenenamento.
Anayde,
uma órfã de pai e mãe, execrada com o sinete daquela paixão por João Dantas,
foi enterrada no cemitério de Santo Amaro, como mendiga, sem endereço e sem
nome conhecidos, de acordo com sua certidão de óbito.
A quinta
vítima dessa tragédia shakespeariana foi o ex-governador e já então Deputado
Federal João Suassuna, assassinado, por Miguel Laves de Souza, com apenas um
tiro, na esquina da Rua Riachuelo com a dos Inválidos, Rio.
O
parlamentar, amigo de João Dantas, viera ao Distrito Federal na esperança de
ser recebido pelo Presidente Washington Luís, já na agonia final de seu
governo, para fazer-lhe um relato sobre a situação paraibana.
Sobre
esse assassínio de Suassuna, seu filho, Ariano Suassuna, acadêmico e escritor
(Auto da Compadecida), denunciaria num artigo publicado pela Folha de São
Paulo, em 11 de setembro de 1980:
"Por
ocasião dos acontecimentos de 30, nos quais, entre outras coisas, meu pai foi
assassinado, a mando de pessoas que apoiavam Getúlio, éramos todos, da nossa
família, antigetulistas."
Pelo
menos aparentemente, a morte de João Pessoa não passara de um crime passional,
transformado em tragédia política. O navio "Rodrigues Alves", que
transportou seu corpo para o Rio, fez escalas em Salvador e Vitória, onde
multidões acorreram ao Cais do Porto , para ovacioná-lo. No Rio, em plena
Avenida Rio Branco, o caixão foi saudado por Maurício de Lacerda:
-
Cidadãos, mirai este esquife. Morrei por este homem que por vós morreu.
Ajoelhem-se e deixem passar o cadáver deste Cristo do civismo e ergam-se,
depois, para ajustar contas com os judas que o traíram."...
"Testemunho
Político" - 1998-pg.3
Um
presidente de Cuiabá, desconfiado e esquivo
Eurico
Gaspar Dutra era um cuiabano, esquivo e desconfiado. Com um físico franzino,
fora recusado inicialmente pelo Exército. E se vira aprovado numa segunda junta
de saúde, já na cidade de Corumbá. Fez depois uma completa carreira militar,
permanecendo como ministro da Guerra desde 1937 e visitando a FEB, na Europa.
Foi tido como o Condestável do Estado Novo, até 1945, quando ajudou a depor
Getúlio Vargas no dia 29 de outubro, embora viesse a receber em seguida o apoio
getulista, decisivo, para a sua candidatura presidencial.
Governou
durante cinco anos, apoiado por quase todos os partidos: PSD, UDN, PTB e PR.
Inaugurou em Volta Redonda a Companhia Siderúrgica Nacional - CSN e, no
Rio, em 1948, o Tribunal Federal de Recursos - TFR; construiu a
Hidrelétrica de São Francisco - CHESF; proibiu o jogo e fechou os cassinos;
lançou o plano SALTE, que foi o primeiro projeto de governo no Brasil, com as
metas prioritárias de sua sigla: Saúde, Alimentação, Transporte e Energia.
Esse
Plano, que nasceu das visitas do General Eisenhower e do Presidente Truman ao
Brasil – logo retribuídas pelo Presidente Dutra em 1948 -, não pôde ser
integralmente executado por causa da demora de sua aprovação no Congresso.
Forte
anedotário circulava então sobre a pessoa de Dutra, que não se aborrecia nem se
magoava, porque encarava as piadas como provas de afeto popular:
- É
possível que escondam de mim as mais pesadas.
Era o
alvo predileto das anedotas. Fazia questão de manter-se atualizado sobre elas.
Divertia-se quando as reproduzia para os amigos, mas não gostava de vê-las
contadas por estranhos.
Não
cortejava o aplauso do povo, mas torcia pelo Flamengo, do qual veio a ser
sócio-benemérito.
Seu
mutismo era famoso. Tinha horror a dar entrevistas coletivas ou individuais à
imprensa. Só discursava em público quando não podia evitar. E lia penosamente
textos preparados pelos seus ghost-writers. Tinha uma irresistível dificuldade
para pronunciar certas palavras, sobretudo as que contivessem a letra s, que
geralmente trocava por x.
Em 1954,
três anos depois de ele haver deixado a Presidência da República, procurei-o certa
tarde em sua residência da Rua Redentor, Ipanema. Fui na companhia do
ex-Deputado Anísio Rocha, seu amigo particular. Queria uma declaração dele
sobre o Memorial dos Coronéis e a crise militar, que estavam então em grande
efervescência:
- Não
posso nem devo falar sobre esses assuntos. A minha condição de ex-presidente me
impede de dar entrevistas. Não tive tempo nem de ler os jornais sobre essa
crise de que você está falando. É que um ladrão entrou aqui em casa, hoje de
madrugada, e tive de chamar a polícia. Foi uma chateação terrível.
- Como
foi mesmo esse assalto?
- Uma
revista importante como a Manchete não pode se preocupar com histórias de
ladrão. Foi um assalto comum. Não houve vítimas. Ele levou poucas coisas,
inclusive porque não havia muitas coisas para levar. Não teve nenhuma gravidade
ou importância.
- Então,
voltemos à crise militar e ao memorial contra Jango...
- Olha
aqui Murilo, é melhor nós voltarmos ao ladrão.
Marchas
e contramarchas na sucessão de Dutra
A
verdade é que o Presidente Dutra encontrara a nação em razoável situação
econômico-financeira, provocada pelo acúmulo de reservas feito durante a II
Grande Guerra. Mas o governo começou a desenfreada política de permitir
importações então tidas como supérfluas: carros, geladeiras, tecidos, artigos
de luxo, além de ferro velho, como a Leopoldina, quando foram gastos US$ 2
bilhões, num verdadeiro festival de esbanjamento e desperdício.
Na
intimidade do poder, crescia a influência do chamado Partido da Copa e da
Cozinha, que por trás dos bastidores comandava a política e a administração.
Do meio
para o fim do qüinqüênio, começou a aumentar a onda da sucessão presidencial.
Estava em plena vigência o Acordo Interpartidário, firmado entre o PSD, a UDN,
e o PR. O Sr. Cirilo Júnior comentava:
- O
diabo é que os partidos são três e o candidato só poderá ser um.
Muitas
marchas e contramarchas aconteceram, então. Surgiram e sumiram as candidaturas
de Octávio Mangabeira, Wenceslau Braz, Milton Campos, Nereu Ramos, Adhemar de
Barros, Afonso Pena Júnior, Walter Jobim, Canrobert Pereira da Costa e Mello
Vianna. Nasceu a famosa Fórmula Jobim, preconizada pelo governador do Rio
Grande do Sul, para incluir apenas as forças consideradas leais ao governo.
Sucederam-se monotonamente as reuniões dos "Três Grandes": Nereu
Ramos, Prado Kelly e Arthur Bernardes. Uma Fórmula Mineira, então idealizada,
incluía os gasparinhos, sugeridos pelo Presidente Eurico Gaspar Dutra: Ovídio
de Abreu, Carlos Luz, Israel Pinehiro e Christiano Machado.
Sobre
este último, Amaral Peixoto conta que submeteu seu nome ao Presidnete Dutra,
ouvindo dele a seguinte resposta:
- Este
não serve.
- Por
quê?
- Porque
tem um irmão comunista, que dentro do palácio será muito perigoso para nós. O
irmão era o escritor Aníbal Machado.
Com
Plínio Salgado, sem apoio dos socialistas
Ciente
de que o Acordo Interpartidário não era mais viável e tinha sido praticamente
enterrado, com impossível tessitura, a UDN, pressionada por um Movimento
Popular, reuniu a sua convenção nacional no dia 18 de abril de 1950 e lançou
mais uma vez a candidatura do Brigadeiro Eduardo Gomes para presidente e de
Odilon Braga para vice, através de um histórico e dramático discurso de José
Américo.
Convidado
a apoiá-los, João Mangabeira, do Partido Socialista, reagiu:
- Não
podemos caminhar ao lado de quem já tem o apoio de Plínio Salgado.
E viu-se
lançado pelo PSB, escolhendo Alípio Corrêa Neto para vice. Com o PSD dividido
entre ortodoxos e liberais, entre getulistas e dutristas, foi finalmente
lançada na convenção nacional a candidatura de Christiano Machado, mesmo com o
estranho veto ao seu irmão Aníbal, tendo dois candidatos a vice: Altino Arantes
(do PR) e Vitorino Freire (do PST).
Lá em
São Borja, durante os últimos cinco anos, Getúlio se deixara ficar, livre dos
atritos e desgastes. Antes solitário e praticamente abandonado, ele assistia
agora, de uma hora para outra, à revoada de políticos que aterrissavam no campo
de pouso de sua fazenda: Adhemar de Barros, Salgado Filho, Danton Coelho,
Epitácio Pessoa e Erlindo Salzano, que lhe levavam apelos para que aceitasse
ser candidato.
Assinou-se
aí o famoso Protocolo de Itu, que consagrava a fusão dos partidos populistas em
apoio a Getúlio na sucessão presidencial, mas que não incluía ainda no seu
texto a escolha do vice-presidente.
Adhemar
engajou-se nessa frente: não podia ser candidato, ele próprio, à Presidência da
República, porque tinha de enfrentar um genro de Dutra, o vice-governador em
São Paulo, Novelli Júnior, que era seu inimigo pessoal e ao qual não podia
transferir o governo, seis meses antes da eleição. Ao mesmo tempo, precisava do
apoio getulista para o candidato à sua sucessão no governo de São Paulo,, o
Prof. Lucas Garcez.
"Testemunho
Político" - 1998 pg 101
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