Francisco de Morais Alves nasceu no Rio de Janeiro RJ em 19 de
Agosto de 1898. Filho de portugueses, nasceu na rua Conselheiro Saraiva, no
centro, sendo criado nos bairros da Saúde, Estácio e Vila Isabel. Seu pai
tocava alguns instrumentos e era dono de botequim. Cursou apenas a escola
primaria e desde cedo interessou-se pela música. Da irmã Nair ganhou uma
guitarra e as primeiras lições. Começou sua carreira de cantor em abril de
1918, na Companhia de João de Deus-Martins Chaves. Depois ingressou na
Companhia de Teatro São José, do empresário José Segreto.
Em 1919, para o Carnaval de 1920, levado por Sinhô, gravou na
etiqueta Popular (recém-fundada por Paulo Lacombe e João Batista Gonzaga,
suposto filho de Chiquinha Gonzaga) dois discos com a marcha O pé de
anjo e os sambas Fala meu louro e Alivia estes olhos,
todas de Sinhô. Ganhava a vida como motorista de praça, apresentando-se
como cantor-ator secundário de revistas musicais. Casou-se em 1920 com
Perpétua Guerra Tutóia, de quem logo se separou. No mesmo ano conheceu a
atriz-cantora Célia Zenatti, sua companheira por 28 anos. Em 1924 gravou
para o Carnaval dois discos na Odeon, com o samba Miúdo (Sebastião
Santos Neves) e as marchas Não me passo pra você e M.lle. Cinema
(ambas de Freire Júnior). Voltou em 1927 a Odeon na qual rapidamente gravou 11
discos com 19 músicas ainda no sistema mecânico, com destaque para
Cassino Maxixe (primeira versão de Gosto que me enrosco) e
Ora vejam só, sambas de Sinhô. Em julho de 1927, quando a Odeon
inaugurou no Brasil o sistema elétrico de gravações, foi o interprete da
marcha Albertina e do samba Passarinho do má (ambas de
Duque), as duas faces do primeiro disco produzido eletricamente, o Odeon
10.001. Em 1928 passou a gravar concomitantemente na Parlophon, subsidiaria
da Odeon, utilizando o apelido de Chico Viola. Em fevereiro de 1929 fez sua
estreia no radio, apresentando-se na Rádio Sociedade. Seus discos começaram
a sair em profusão e sem tardar alcançou o topo do qual jamais saiu até
falecer. Só em 1928 e 1929 gravou quase 300 musicas de reconhecida
qualidade. Interpretou todos os gêneros e foi quem mais gravou em toda a
historia dos discos de 78 rpm no Brasil: 526 discos com 983 musicas. Como
compositor deixou cerca de 132 musicas, sendo seu forte a melodia.
Em 1928 fez na Parlophon o primeiro registro da canção A
voz do violão, melodia sua e versos de Horácio Campos, grande sucesso,
tanto que a regravou em 1929, 1939 e 1951. Nesse ano também lançou de Sinhô
os sambas A favela vai abaixo, Ora vejam só (segunda matriz) e
Não quero saber mais dela, em dueto com Rosa Negra, e de Pixinguinha
com letras de Cícero de Almeida os sambas Festa de branco e Samba
de nego, bem como a modinha Malandrinha, de Freire Júnior, e a
canção Lua nova, sua e de Luís Iglesias. Nos anos de 1929 e 1930, de
campanha presidencial, foi quem mais gravou canções de conteúdo político,
como em 1929, o samba É sim
senhor e a marcha Seu doutor (ambos de Eduardo Souto), a
marcha Seu Julinho vem (Freire Júnior), e, em dueto com Araci
Cortes, o samba É no toco da goiaba
(Eduardo Souto e José Jannyni). No Carnaval de 1930 obteve notável êxito com a
marcha Dá nela (Ary Barroso). Outro sucesso memorável foi sua
gravação do Hino a João Pessoa (Eduardo Souto e Osvaldo Santiago),
antes da revolução de outubro desse ano, durante o qual também excursionou
pela primeira vez ao exterior, apresentando-se em Buenos Aires,
Argentina, com a companhia de revistas musicais de Jardel Jercolis.
Na volta a Odeon reuniu-o a Mário Reis, por sugestão sua, para
cantarem em dupla, estreando com os sambas Deixa essa mulher chorar
(Brancura) e Qua-qua-quá (Lauro dos Santos), êxitos no Carnaval de 1931. A dupla durou ate
o final de 1932 e deixou 12 discos com 24 gravações importantes, entre as
quais o samba Se você jurar (1931), com Ismael Silva e Nilton
Bastos, Marchinha do amor (1932), de Lamartine Babo, a marcha Formosa
(Carnaval de 1933), de Nássara e J. Rui, e Fita amarela (Carnaval de
1933), de Noel Rosa.
Em 1931 gravou entre outros sucessos a versão da valsa
Dançando com lagrimas nos olhos (Joe Burke e Lamartine Babo), a modinha
Deusa (Freire Júnior) e o samba Mulher de malandro (Heitor dos
Prazeres), no Carnaval de 1932, primeiro prêmio no primeiro concurso
oficial de musicas carnavalescas. Ainda nesse ano lançou o samba Gandaia
(seu com Ismael Silva) e Para me livrar do mal (Ismael e Noel Rosa)
e começou sua parceria com Orestes Barbosa, apenas letrista, com a canção
Meu companheiro, que produziu 14 composições ate 1934. Em 1933 gravou
de Noel Rosa os sambas Fita amarela, já referido, Pra esquecer,
Feitio de oração (com Vadico) em dueto com Castro Barbosa, Não tem
tradução, entre outros, bem como a marcha junina Cai, cai balão
(Assis Valente), com Aurora Miranda em sua estreia no disco, a rumba
Garimpeiro do Rio das Garças (João de Barro), a canção Pálida morena
(Freire Júnior). Nesse ano, o locutor César Ladeira deu-lhe o slogan
de Rei da Voz. Em 1934 transferiu-se para a RCA Victor, na qual ficou ate
1937. Passou a dirigir um programa na Radio Cajuti, nele 1ançando o cantor
Orlando Silva, que se tornaria seu grande rival junto ao publico. Ainda em
1934 gravou a valsa A mulher que ficou na taça (sua com Orestes) e
fez aquele que seria seu único disco com Carmen Miranda, com a marcha
Retiro da saudade (Noel Rosa e Nássara). Tinha se iniciado de certa
forma no cinema em Voz do Carnaval (1933), de Ademar Gonzaga, no
qual foi aproveitada apenas sua voz tirada de discos. Em 1935 estreia de
fato na tela em Alô, alô Brasil, de Wallace Downey, João de Barro e
Alberto Ribeiro, a que se seguiriam os filmes Alo, alo Carnaval, de
Ademar Gonzaga (1936), Laranja da China (1940), de J. Rui, e
Samba em Berlim (1943), Berlim na batucada (1944), Pif-paf
(1945), Caídos do céu (1946) e Esta e fina (1948), todos de
Luís de Barros.
No Carnaval de 1935 lançou o samba Foi ela (Ary
Barroso) e a marcha Grau dez (Ary e Lamartine) e depois o samba
Na virada da montanha (mesma parceria). Depois de vários anos, e pela
ultima vez, atuou no teatro musicado na bem sucedida burleta Da favela
ao Catête, de Freire Júnior. No Carnaval de 1936 lançou as marchas
Manhas de sol (João de Barro e Alberto Ribeiro), Uma porta e uma
janela (Nássara e Roberto Martins), A.M.E.I. (Nássara e Frazão),
os sambas É bom parar (Rubens Soares) e Me queimei (Nássara e
Valfrido Silva) e no meio do ano o samba Favela (Roberto Martins e
Valdemar Silva). Nas festas juninas foi muito cantada a marcha Pula a
fogueira (Getúlio Marinho e João Bastos Filho). Nesse ano apresentou-se
na Radio El Mundo, de Buenos Aires, por dois meses, tendo levado Alzirinha
Camargo e Benedito Lacerda, e também publicou sua autobiografia Minha
vida, minha vida. Em 1937 gravou o samba-canção Serra da Boa
Esperança (Lamartine Babo). Em 1938, no Carnaval pernambucano, marcou
sucesso com as gravações dos frevos Ui, que medo eu tive! (Anibal
Portela e José Mariano) e Júlia (Capiba) e, no Carnaval carioca, com
os sambas Ando sofrendo (Roberto Martins e Alcebíades Barcelos) e
Vão pro Scala de Milão (Ary Barroso). Nos gêneros sentimentais, lançou
o samba-canção A única lembrança (Ary Barroso) e a canção Meu
romance (Saint-Clair Senna).
Em 1939 registrou as valsas Diga-me e Minha adoração
(ambas de Nelson Ferreira) e Valsa dos namorados (Silvino Neto) e o
gênero a que se chamou "samba-exaltação" com Aquarela do
Brasil (Ary Barroso), designado no selo do disco "cena
brasileira". Transferiu-se para a Columbia e gravou nesse gênero
Brasil! (Benedito Lacerda e Aldo Cabral), em dueto com Dalva de
Oliveira, 1939; Onde o céu azul e mais azul (João de Barro, Alberto
Ribeiro e Alcir Pires Vermelho), 1940; Canta Brasil! (Alcir e Davi
Nasser), 1941; Bahia com H (Denis Brean), 1947; São Paulo,
coração do Brasil (com Davi Nasser), 1951, e outros. Em 1940 lançou no
Carnaval a marcha Dama das Camélias (Alcir e João de Barro) e
os sambas Solteiro e melhor (Rubens Soares e Felisberto Silva) e
Despedida de Mangueira (Benedito Lacerda e Aldo Cabral). Em 1941 lançou
os sambas carnavalescos Poleiro de pato e no chão (Rubens Soares) e
Eu não posso ver mulher (Osvaldo Santiago e Roberto Roberti) e a valsa
Eu sonhei que tu estavas tão linda (Francisco Matoso e Lamartine Babo).
Depois de atuar em diversas emissoras, fixou-se a
partir de 1941 na Radio Nacional ate falecer. Seu programa dos domingos ao
meio-dia, Quando os Ponteiros se Encontram, apresentado pela locutora Lúcia
Helena, obteve maciça audiência em todo o Brasil. Em 1942 foi um dos
vencedores do Carnaval com Sandália de prata (Alcir e Pedro Caetano)
e, na musica romântica, lançou as valsas Carnaval da minha vida
(Benedito Lacerda e Aldo Cabral) e Capela de São José (Marino Pinto
e Herivelto Martins). Em 1943 gravou as versões dos foxes-canções Beija-
me muito (Consuelo Velasques e Davi Nasser) e O amor e sempre amor
(Hupfeld e Jair Amorim), e a valsa- bolero A mulher e a rosa (Alcir
e Davi Nasser) e, em 1944, no Carnaval, a marcha Eu brinco (Pedro
Caetano e Claudionor Cruz) e o samba Odete (Herivelto Martins e
Waldemar de Abreu), com o Trio de Ouro.
Em tempo de guerra gravou Canção do expedicionário
(Espártaco Rossi e Guilherme de Almeida) e varias versões. Em 1945 seus
sucessos no Carnaval foram o samba Isaura (Herivelto Martins e
Roberto Roberti) e Que rei sou eu? (Herivelto e Valdemar da
Ressurreição); em 1946,
a marcha Palacete no Catête (Herivelto e
Ciro de Sousa) e o samba Vaidosa (Herivelto e Artur Morais); depois,
o samba Fracasso (Mário Lago) e as regravações da canção Minha
terra (Valdemar Henrique) e do fox-canção O cigano (Marcelo
Tupinambá e Gastão Barroso). Em 1947, no Carnaval, fez sucesso com o samba
Palhaço (Herivelto e Benedito Lacerda) e depois com Cinco letras que
choram (Adeus) (Silvino Neto), Bahia com H, já referido, e os
sambas-canções Nervos de aço (Lupicínio Rodrigues) e Caminhemos
(Herivelto Martins); em 1948, o samba Falta um zero no meu ordenado
(Ary Barroso e Benedito Lacerda). Vieram então os sambas-canções Quem ha
de dizer (Lupicínio e Alcides Gonçalves), Esses moços
(Lupicínio) e Madrugada (Herivelto e Evaldo Rui). Em 1949 foram
sucessos carnavalescos os sambas Maior e Deus (Felisberto Martins e
Fernando Martins) e a marcha Pode matar que e bicho (sua com Haroldo
Lobo e Nilton de Oliveira) e, em 1950, foi muito cantado o samba A Lapa
(Herivelto e Benedito Lacerda); lançou ainda os sambas-exaltação
Forasteiro e Aquarela mineira (ambos de Ary Barroso) e o samba
Maria Rosa (Lupicínio Rodrigues). Em 1951, foi a vez dos sambas Deus
lhe pague (Polera, André Penazzi e Davi Nasser) e Lili (Haroldo
Lobo e Davi Nasser), das marchas Holandesa (Davi Nasser e Haroldo
Lobo), com Dalva de Oliveira e Retrato do velho (Haroldo Lobo e
Marino Pinto) e do samba-exaltação São Paulo, coração do Brasil (com
Davi Nasser). A parceria com Davi Nasser, iniciada em 1940, resultou em 20
composições e um livro de bolso biográfico, escrito por Davi, Chico
Viola, publicado em 1966. Em 1952, no Carnaval, teve muito êxito com a
marcha Confete (Jota Júnior e Davi Nasser).
Faleceu em Pindamonhangaba SP em 27 de Setembro de 1952,
num desastre de automóvel na Via Dutra, quando o Buick que dirigia recebeu
o choque de um caminhão na contramão.
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