16 de dezembro de 2008

MINA DE OURO DE CATINGUEIRA


MINA DE OURO DE CATINGUEIRA


Curiosa, a existência de cada um. E, por assim dizer, que o diga o cidadão José Neiva Freire, filho de um vendedor de fumo de rolo no Brejo da Paraíba, administrador de mina de ouro, no Sertão, um caixeiro viajante, destes que procuram aventuras e descobrem sabedorias.
O vendedor de fumo descobre o filão do seu comércio, o Sertão da Paraíba, onde encontrava-se, situada no auge da sua produção, a mina de ouro de Piancó. O pai se muda e leva com ele a família. A mina, na verdade, situava-se onde hoje é o município de Catingueira, bem próximo a Patos.
A proximidade dos lugares mudou tudo, porque a família instalou-se em Patos e, aos 15 anos, Neiva conheceu Sebastião Ramos de Lima, um homem que iria marcar a guinada da sua vida. Sebastião era dono do Foto Patos e levou Neiva para trabalhar com ele. "Comecei trabalhar no dia em que os Aliados anunciaram o fim da Segunda Guerra Mundial. Foi um dia marcante em minha vida", lembra ele.
Naquela época a fotografia era um mistério, era como o segredo da bomba atômica. Neiva descobriu, no Foto Patos, o segredo de escrever com a luz, ao varar noites no laboratório entre rolos de filmes e bacias de metol, sufito de sódio, hidroquinone, carbonato e bramoreto produtos químicos que davam o tratamento das fotos.
Depois disso a mina de ouro fechou e a família mudou-se para Campina Grande. Era exatamente o que Neiva esperava, porque a cidade de Patos já era pequena demais para os grandes sonhos dele na arte da fotografia. "Campina era um centro bem maior, com um enorme comércio e boas chances de se ganhar dinheiro com fotografia", afirma.
Em Campina Grande ele conhece Aderson Farias de Carvalho, segundo Neiva, o maior fotógrafo que a Paraíba teve. É ele quem lhe ensina os segredos da arte de fotografar. "Naquela época ninguém ensinava nada a ninguém, mas esses dois homens me ensinaram tudo", conta.
Como fotógrafo, Neiva conta que ganhou muito dinheiro e fez fortuna. Mas aí surgiu um imprevisto: as multinacionais chegam ao Brasil e começam fabricar pequenas máquinas fotográficas e vendê-las a preço de banana. "Todo mundo tinha uma xereta e com isso a fotografia deixou de ser um bom negócio", explica.
É assim que ele decide mudar de ramo e fundar uma gráfica, aproveitando os fotolitos que existiam em seu foto. Em 1972, na cidade de Campina Grande, a Grafset iniciou suas atividades empresariais como prestadora de serviços gráficos, no setor promocional, atuando em todo o estado. Mas Campina ficou pequena e ele sentiu a necessidade de procurar um centro maior, onde pudesse se instalar e procurar mercados mais promissores no Nordeste
Em 1986, a Grafset transfere suas instalações para a Capital, João Pessoa, passando a fabricar em escala industrial seus próprios produtos, como impressos padronizados e livros fiscais, expandindo a seguir sua atuação para a região Norte/Nordeste.
A partir de 1993, a empresa se sobressai no mercado regional confeccionando cadernos, principal produto da linha escolar. E começa a atuar também como editora de livros didáticos e paradidáticos destinados ao Ensino Fundamental e ao Ensino Médio. Cria, então, um novo empreendimento para atender a essa demanda: a Editora Grafset.
Em 1995, instala-se definitivamente no Distrito Industrial de João Pessoa, numa área total de 43.000m2, com 6.000m2 de área construída. Hoje ele emprega 160 pessoas em sua gráfica, sem contar os colaboradores contratados para produzir Atlas e outros produtos.
Antecipando um aumento em sua capacidade instalada, a Grafset investe, em 1996, R$ 2,5 milhões na modernização de seu parque gráfico, aprimorando assim as linhas de produção.
Já tendo conquistado outras regiões do País, e reconhecida pela excelente qualidade dos seus trabalhos, a empresa faz, em 2002, novos investimentos em tecnologia aplicada a cadernos, livros e formulários contínuos. Consolida dessa forma a sua participação e o seu conceito no mercado nacional. Atualmente, distribui produtos em mais de 2.000 pontos de vendas entre atacadistas e varejistas.
No ano de 2003, a Grafset passa por um criterioso processo de renovação na produção industrial e no setor de comercialização, reduzindo custos e otimizando a quantidade de produtos para melhor atender à sua clientela. Hoje, um dos principais motivos do sucesso da empresa é associar a qualidade dos seus produtos à rapidez no sistema de entrega.
Como surgiu a Editora
Em 21 de junho de 1999 abria as portas em João Pessoa, uma nova editora a que os seus fundadores decidiram pôr o nome de Editora Grafset, editando inicialmente a "Cartilha Paraibana" e o "Atlas Geográfico da Paraíba", livros que motivaram a experiência como editora.
No espaço de quase uma década, sob a direção do seu fundador, José Neiva Freire, a Editora Grafset firmou-se como uma editora respeitada no mundo dos livros didáticos, possuindo um vasto catálogo de títulos nesse segmento. A coleção de "Atlas Escolares" instituiu definitivamente a empresa Editora Grafset como editora regional, levando uma proposta inovadora de livros didáticos aos alunos e professores.
Ao longo dos seus quase 10 anos de vida a Editora Grafset publicou vários títulos originais, tendo colocado na escola brasileira muitos livros. É possível afirmar que os livros regionalizados Grafset estão presentes em quase todas as escolas nordestinas, públicas e privadas, e que nenhum professor, deixa de indicar alguns livros desta editora.
A imagem corporativa desejada para a Grafset é um reflexo da identidade da editora, a qual pretende ocupar uma posição original, única e distinta no universo editorial brasileiro, assentando no princípio de dar valor ao que é nosso, privilegiando as suas relações com os autores. Consagrando, ainda, as suas competências e os seus esforços à divulgação e promoção das suas obras.
Segundo Neiva, a leitura é uma base indispensável da formação individual das pessoas, do seu desenvolvimento intelectual e emocional, do seu crescimento interior e da sua qualificação como cidadãos socialmente ativos, responsáveis e culturalmente evoluídos.
Da igreja ao comunismo
Neiva trabalhou 35 anos como fotógrafo. Cinco desses anos foram do início do aprendizado em Patos e os outros 30 anos em Campina Grande. Através de um cunhado, Neiva passa a freqüentar uma igreja protestante. Um dia ele estava pregando o Evangelho no seu Foto quando é repreendido por um amigo de nome Ló.
Ló era intelectual e comunista e emprestou um livro a Neiva. O livro era "Maravilhas do Conhecimento Humano", de Henry Thomas. Quando terminou a leitura, Neiva havia se transformado em um materialista dialético e acreditava que somente a ciência explicaria tudo. Daí para a militância política no Partido Comunista foi um salto.
"A ética e a moral eu aprendi na militância. Hoje minha vida é feita em cima de um tripé: gratidão, perdão e humildade", diz Neiva, completando que a dinâmica da sua vida foi gerada no casamento com Lala, a mulher com quem ele está casado há mais de 50 anos.
Quando fundou a gráfica, em Campina Grande, Neiva foi obrigado a contratar pessoas para trabalhar com ele. Assim, na visão dos comunistas do Partidão, segundo Neiva, ele deixava de ser um trabalhador para ser o patrão de operários da indústria gráfica. Nunca mais foi chamado para uma reunião com os comunistas. "Eles me viraram as costas e só muitos anos depois eu fui compreender a razão disso", explica.
Uma vida curiosa
Neiva tem uma vida muito curiosa. Ele nunca chegou a concluir o primário, que hoje é a primeira fase do ensino fundamental. Ou seja, foi apenas alfabetizado. Mas curiosamente ganha a vida hoje produzindo livros didáticos, que vende no país inteiro.
"Eu mesmo me surpreendo comigo", diz ele. No tempo em que trabalhava à noite em seu Foto, em Campina Grande, ele escutava rádio na BBC de Londres, Voz da América e outras. Assim se mantinha informado. Quando terminava o noticiário em Português, ele mudava para o Espanhol. Aprendeu a falar o idioma. Hoje corre o mundo fazendo negócios e utiliza o Espanhol para se comunicar. "No meu carro só ouço música em Espanhol. Quando não entendo uma palavra, recorro ao dicionário e resolvo o problema", explica Neiva, dizendo que a solidão do Foto ajudou a despertar uma outra qualidade: a de pensar sozinho.