28 de dezembro de 2016

A capital das flores

A capital das flores

Meio século depois da chegada ao Brasil, os holandeses formam no interior de São Paulo uma das mais bem-sucedidas colônias do país


Festa
Piet Schoenmaker, o coordenador do grupo de danças, chegou em 1959 
Na tarde do dia 14 de julho de 1948, ao fincar a primeira pá no solo da Fazenda Ribeirão, no município de Mogi Mirim, 144 quilômetros ao norte de São Paulo, o imigrante holandês Geert Heymeijer invocou ajuda divina. "Otrabalho que agora vamos iniciar é difícil e de grande importância. Rezemos um pai-nosso", proclamou. Era o começo da exploração das terras que viriam a se transformar, anos depois, em Holambra, uma das mais sólidas colônias de imigrantes do Brasil. A cidade, cujo nome é a junção das iniciais de Holanda, América e Brasil, abriga a maior comunidade holandesa do país e é conhecida pela vasta produção de flores e plantas ornamentais.

Não foi fácil no começo. Eles chegaram à região depois do fim da Segunda Guerra Mundial para escapar das dificuldades impostas pela destruição da Europa. As terras na Holanda ficaram muito caras e a legião de desempregados não parava de crescer. OBrasil foi o destino escolhido porque era um dos poucos países que aceitavam receber grupos de estrangeiros, facilitando a formação de colônias. Outro ponto a favor: deu-se prioridade a um país católico, porque a imigração era apoiada pela Organização dos Lavradores e Horticultores Católicos da Holanda.

"Nossa chegada foi cercada de problemas", recorda-se Wilhelmus Welle, de 85 anos, um dos primeiros a se aventurar no novo país. "A língua era difícil, o clima diferente e a região muito pobre, faltava tudo." Ao chegar à fazenda, os imigrantes eram acomodados em casas de taipa. Não tinham móveis, eram infestadas de cobras, aranhas e insetos. Os caminhões de mudança demoravam seis semanas para ir do Porto de Santos a seu destino, e, no caminho, grande parte dos pertences se quebrava. Welle lembra que os colonos brincavam à noite para ver quem encontrava mais cobras debaixo da cama.

As dificuldades não se restringiam à falta de conforto ou à nova realidade inóspita. A primeira atividade econômica tentada pelos holandeses fracassou. A maior parte do rebanho de 718 vacas trazidas da Europa não resistiu à febre aftosa e ao calor tropical do interior paulista. Em pouco tempo, o gado estava dizimado. "Alguns imigrantes desanimaram e resolveram voltar para a Holanda ou se aventurar pelo sul do país", diz Catharine Welle Sitta, filha de Welle e coordenadora do Museu da Imigração. A instituição, montada em um barracão ao lado da primeira casa de taipa da fazenda, dispõe de um acervo de 2 mil fotos que documentam a saga holandesa.

A situação só começou a melhorar quando a fazenda foi dividida em lotes e os colonos, com apoio financeiro do governo holandês, diversificaram a atividade produtiva. Passaram a fabricar queijo e ração para animais, a criar aves e suínos e a plantar café e milho. A produção era comercializada pela Cooperativa Agropecuária Holambra, fundada pelos primeiros imigrantes. No final de 1950, a colônia holandesa era composta de 649 pessoas. A tentativa de desenvolver a floricultura ocorreu em 1956, quando sementes de gladíolo, conhecido por palma-de-santa-rita, foram trazidas da Europa. Mas a produção em grande escala só prosperou a partir da segunda metade dos anos 60.


Floricultura
A produção anual é de 12 milhões de dúzias de rosas e 19 milhões de violetas 
Hoje, Holambra concentra 30% da produção de flores do país. Os 190 produtores do município cultivam mais de 250 espécies e 2 mil variedades de plantas. "Vendemos por dia 1.600 lotes de flores por meio de leilões e 1.200 por contratos", diz Renato Opitz, diretor-geral do Veiling, setor da cooperativa responsável pela comercialização. "O mercado de flores tem crescido continuamente e já movimenta R$ 1,2 bilhão no varejo", informa.

O sucesso da floricultura deu ao município de 8.500 habitantes, dos quais 15% são holandeses ou descendentes, uma qualidade de vida comparável à do Primeiro Mundo. Todas as casas estão integradas às redes de água e esgoto, o índice de mortalidade infantil é de 5,9 (a taxa brasileira é de 36,1 crianças mortas por mil nascidas vivas) e o consumo anual per capita de energia elétrica (1.300 kWh) é o maior do país. A cidade lembra a terra natal dos imigrantes. É pontilhada de moinhos e as ruas do centro dispõem de 5 quilômetros de ciclovia, um incentivo ao tradicional hábito de pedalar dos holandeses. Na falta dos canais, Holambra é cortada por dois lagos, nos quais a população pesca. As casas de tijolos aparentes e com amplos jardins floridos também ajudam a recordar a Holanda.

Setembro é o mês ideal para visitar a região e conhecer um pouco da cultura dos imigrantes. É quando acontece a Expoflora, a maior exposição de flores do país, e 230 mil visitantes invadem o pequeno município de 65 quilômetros quadrados. Um dos maiores destaques é o grupo de danças folclóricas criado por Piet Schoenmaker, o garoto-propaganda do evento. Os turistas podem experimentar a culinária típica, visitar fazendas de flores e conhecer o maior borboletário do país, instalado no Parque Ecológico Lindenhof.


Yuri Vasconcelos, em Holambra

Fotos: La Costa/Época

Volta





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A BALEIA

A BALEIA

Eu vi a baleia
Graciosa, charmosa,
Numa dança do mar.
Parecia garbosa!

Ia bela. Tão dona,
De fato, do fato.
Coberta de azul,
Sem nem aparato!

Ingênua. Às vezes,
Teimosa da vida.
Subia, descia,
Nada aguerrida!

Tão grande e dócil!
Tão pouca. Tão viva!
Eu quero gritar:
"-Baleia, o barco já vem.
Se esconde no mar!"

Veio o homem ignaro,
Então, lançando o arpão.
Querendo matar,
Sem tempo de ouvir
A baleia chorar!



Caravelas da globalização

Caravelas da globalização

Quinto maior investidor no país, Portugal
exporta executivos para o Brasil, onde a
colônia se reduz em tamanho, mas não em
 importância






A história da imigração portuguesa no
país se confunde com a própria
formação do povo brasileiro. Se
Cabral, ao lançar âncoras no litoral
baiano em 1500, só pretendia
estabelecer um entreposto mercantil
de Portugal, logo aportariam seus
patrícios, como João Ramalho e
Diogo Álvares Correia, com planos de permanência e
dispostos a fundar uma nova raça. Desde então, o
exemplo foi seguido por mais de 3 milhões de lusitanos,
hoje reduzidos a aproximadamente um décimo (300 mil).

A herança lusitana vai muito além das estatísticas. Ela se perpetua na arquitetura das cidades coloniais, a exemplo de Ouro Preto, Olinda, Parati, São Luís e Rio de Janeiro. Na língua falada em todo o país e na religiosidade. Está presente em vários aspectos do cotidiano, como na culinária - muitos doces mineiros são criação portuguesa - e na cachaça, nascida como subproduto da primeira empresa agrícola nacional, o engenho de açúcar. A herança tem raízes bem fincadas nos campos de futebol, onde o Vasco da Gama e a Portuguesa de Desportos são destaque. Com base nessa identidade, não é de estranhar que, em plena globalização, os portugueses tenham eleito o Brasil como o principal porto de seus investimentos no Exterior. Como os primeiros navegadores, os imigrantes que continuam a chegar de além-mar, embora em número bem menor, querem provar que ainda sabem fazer a América melhor que ninguém.

Vai longe o tempo em que o retrato mais bem acabado do imigrante português no Brasil era o daquele senhor bigodudo e afável, metido em camiseta e calçado em tamancos, atrás de um balcão de botequim ou padaria. Era o imigrante clássico, personagem bonachão conhecido de todos os brasileiros que os anos cuidaram de reduzir a mera caricatura. Hoje, os patrícios chegam d'além-mar em ternos bem talhados, passeiam com desenvoltura pelos salões mais requintados da elite econômica e disputam palmo a palmo com empresários de outros países o topo do ranking dos investimentos externos no país. Quinhentos anos depois de Cabral, Portugal já ocupa a quinta posição na lista dos maiores investidores em solo brasileiro. Perde apenas para os Estados Unidos, a Alemanha, a França e quase ganha da Espanha. Deixa para trás vizinhos europeus poderosos como a Itália e potências como o Canadá.

É transformação recente. Ocorreu nos últimos três anos. Segundo o Ministério da Economia de Portugal, que mantém em São Paulo uma representação do Departamento de Investimentos, Comércio e Turismo (Icep), cerca de 180 empresas vieram para cá nesse período. São gigantes como o grupo Sonae, holding da terceira maior rede de supermercados do Brasil (Big, Cândia e Mercadorama). Ou como a Cervejaria Cintra, já instalada em Mogi Mirim (SP) e a caminho de Campos (RJ). Ou ainda como a Caixa Geral de Depósitos, imagem e semelhança da Caixa Econômica Federal brasileira, que comprou aqui o Banco Bandeirantes. Somadas a outras dezenas de empreitadas - pequenas e grandes -, os portugueses já investiram US$ 7 bilhões na ex-colônia nestes três anos. A cifra corresponde a 40% de todos os investimentos de Portugal mundo afora. Nota atrás de nota, a fila de dólares atravessaria o Atlântico numa ponte imaginária entre Lisboa e Porto Seguro, a primeira parada de Cabral, em 1500.

Nesse oceano de dólares, R$ 1 bilhão veio de um grupo, o Sonae. Vicente Dias, 47 anos, diretor de marketing do grupo, conta que o Brasil se tornou "destino prioritário" dos investimentos portugueses por "afinidades culturais". O Sonae chegou em 1996. Emprega 24 mil brasileiros em São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. O faturamento bruto este ano deve chegar a R$ 3,5 bilhões. "Ainda estamos na fase de investimentos pesados", diz Vicente. Num tempo em que "navegação" não é mais sinônimo de caravelas, mas de Internet, demonstrações como essa apontam para uma espécie de Redescobrimento do Brasil. Há coincidências. Como Cabral e seus marinheiros do 22 de abril de 1500, nem todos os viajantes portugueses do ano 2000 vêm para ficar. Chegam, estabelecem negócios, deixam meia dúzia de patrícios representantes e voltam para a Península Ibérica.

É o caso de José Manuel Romão Mateus, de 42 anos, presidente da Telesp Celular, arrematada pela Portugal Telecom em leilão de privatização, em julho do ano passado, por US$ 3,1 bilhões. "Ficarei três anos aqui", conta ele. "Para depois disso, não faço planos." A empresa está há 14 meses sob o comando de Romão. O tempo é curto, mas ele já coleciona resultados invejáveis. Só no primeiro semestre de 1999, a receita operacional líquida bateu R$ 1,016 bilhão - 32% maior que a do mesmo período do ano anterior. Os portugueses foram pioneiros no Brasil no lançamento do celular pré-pago.






Elas fizeram a História

Elas fizeram a História A vida insólita das figuras femininas que não
 estão nos livros oficiais
 
 


O Rio de Janeiro só
existe hoje por
 causa de uma mulher –
 no século 16, a
 portuguesa Inês de
 Sousa impediu que a
 população fosse
saqueada por
 corsários franceses.
Seu nome não está
nos livros dos colégios, como tantas outras figuras
femininas esquecidas pela História oficial. Mulheres
 governaram capitanias, participaram do movimento
 abolicionista, fundaram cidades, guerrearam, sofreram a
 tortura da Inquisição, fundaram partidos políticos. Com a
fronte erguida - ainda que sob o manto da submissão -,
negras pobres, brancas de estirpe e índias guerreiras
participaram da construção do Brasil. Algumas, como as
 meninas e senhoras do quadro ao lado, ficaram na retaguarda, cozinhando, costurando ou educando os filhos. A Pátria, pintura de Pedro Bruno de 1919 exposta no Museu da República, no Rio, mostra as mulheres bordando a primeira bandeira da República. Os 500 anos de História da trajetória feminina no país estão relatados numa suntuosa pesquisa de um grupo de estudiosos do Rio de Janeiro. A Rede de Desenvolvimento Humano (Redeh), uma organização não-governamental feminista, e a produtora Arte Sem Fronteiras mergulharam no passado para resgatar a vida das famosas e anônimas. Nas páginas seguintes, Época conta a história de algumas dessas pessoas que, a seu tempo e a seu modo, transformaram a sociedade.

A longa jornada por conquistas e direitos
1534
Governadora Ana Pimentel assume a Capitania de São Vicente.

1752
O primeiro livro - A brasileira Teresa Margarida da Silva Orta é a primeira mulher a publicar um livro escrito em português. A edição feita em Portugal tinha o título Máximas da Virtude e da Formosura.

1852
Feminismo - É lançada a primeira publicação feminista, o Jornal das Senhoras. As mulheres exigem o acesso à educação.

1881
Universidade - Pela primeira vez, as moças conquistam o direito de entrar nas faculdades de Medicina.

1910
Política - Sob o comando da professora Leolinda de Figueiredo Daltro, é organizado o Partido Republicano Feminino.

1922
Congresso - No Rio de Janeiro, é realizado o primeiro Congresso Feminino Brasileiro, sob a batuta de Bertha Lutz.

1929
Eleição - A capixaba Emiliana Viana Emery conquista, na Justiça, o registro eleitoral e o direito ao voto. Como a Constituição de 1891 era omissa, algumas mulheres recorreram ao Judiciário.

1932
A lei - O presidente Getúlio Vargas concede às mulheres alfabetizadas o direito de voto. Depois do Equador, o Brasil foi o segundo país da América Latina a outorgar o direito.

1934
Nova era - A Constituição Federal assegura igualdade sem distinção de sexo, conquista excluída da Carta de 1937.

1962
Esposas livres - Com a mudança no Estatuto da Mulher Casada, a esposa deixa de ser tutelada pelo marido e pode decidir sobre a própria vida.

1985
Violência - Surgem as primeiras delegacias da mulher, espaço para denúncias de maus-tratos, bandeira antiga das feministas.

1988
Constituinte - A bancada do batom foi eficiente na Constituinte e garantiu, em 1988, uma Carta que assegura igualdade para homens e mulheres na chefia das famílias. Os principais direitos já estão na letra da lei.




A salvação na floresta

A salvação na floresta

Norte do Paraná serve de refúgio a
perseguidos dos nazistas, entre eles um
menino que é hoje vice-ministro de Finanças
da Alemanha





Lembrança
Geert Koch-Weser, hoje de volta à Alemanha, viveu na fazenda Veseroda entre 1934 e 1969 e ainda sente saudade dela


Os cabelos brancos como neve jogados para trás exibem uma fronte ampla com poucas rugas e uma fisionomia tranqüila, mas ligeiramente severa. A expressão marcante do rosto é dominada por olhos azuis muito claros, sugestivos, vivos. Olhos de quem pôde chegar aos 94 anos com aparência de pouco mais de 80, depois de atravessar, ora como testemunha, ora como ator, quase todo o século. O alemão Geert Koch-Weser, nascido em 1905 numa pequena aldeia da região de Bremen (Bremerhaven), nas margens do Rio Weser, mal consegue falar o português. Mas demonstra forte emoção quando lembra "dos mais bonitos anos" de sua vida, 35 ao todo, passados no norte do Paraná, onde ajudou a fundar o núcleo agrário e, mais tarde, a cidade de Rolândia, a cerca de 40 quilômetros de Londrina.

Resultado de uma das últimas levas da imigração alemã para o Brasil, iniciada há 175 anos, ainda no Império, com a fundação de São Leopoldo, no Rio Grande do Sul, Rolândia tem uma história singular. Foi síntese e espelho dos dramáticos anos 30 e 40. Começou como válvula de escape para o desemprego e a miséria que grassavam na República de Weimar, enterrada em fevereiro de 1933 pela ascensão de Hitler. Rolândia desenvolveu-se ao tornar-se um porto seguro para intelectuais, religiosos, políticos e judeus perseguidos pelo nazismo.

Em 1930, dois jovens agrônomos alemães, amigos de infância em Bremen, se encontraram nos Estados Unidos. Estavam de volta para casa. Geert vinha de experiências na Rússia, China, Japão e Canadá. Oswald Nixdorf, dois anos mais velho, chegara de Sumatra, na Indonésia, onde trabalhava com colonização. Especializado em agricultura tropical, ele também se aventurara mundo afora, em busca de experiência e sustento. "Disse a Nixdorf que meu pai, ministro na Alemanha, precisava de alguém para iniciar um projeto de colonização no Brasil", diz Geert, com uma lembrança ainda fresca, 70 anos depois.

Erich Koch-Weser, seu pai, deputado por um partido liberal e ministro do Interior do governo alemão, era, desde 1929, presidente da Sociedade de Estudos Econômicos do Ultramar. Criada em 1927, a instituição tinha como objetivo encontrar saídas para o grande desemprego na Alemanha. Através dela, Erich Koch-Weser negociou com os ingleses da Companhia de Terras Norte do Paraná a compra de uma gleba para instalar a colônia alemã. "Em 1932, meu pai enviou Nixdorf para que pudesse fazer os preparativos para a chegada dos primeiros colonos", lembra Geert.

Nixdorf foi mais do que entronizador. A Mata Atlântica era fechada, as condições de trabalho severas. "Para os colonos, a maioria desorientados, ele foi um conselheiro muito camarada, altruísta e, com seu grande otimismo, encorajador", disse Geert em depoimento sobre Rolândia para o Instituto Hans Staden, em 1986. Ao todo, 400 famílias alemãs ou de origem alemã foram para a região. A maioria era de colonos nascidos no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina. Cerca de 80 famílias, que chegaram entre 1932 e o início da Segunda Guerra, eram de católicos, protestantes, políticos, intelectuais e judeus que fugiam do nazismo. Entre eles, o próprio Erich Koch-Weser, o filho Geert e o mais jovem deputado alemão da época, Johannes Schauff, ligado à hierarquia católica. Anos depois, muitos fizeram o caminho de volta, como o próprio Geert, seu filho Caio Koch-Weser, hoje vice-ministro de Finanças da Alemanha, e o amigo Bernd Nixdorf (leia matéria).

Antes de deixar a Alemanha, em 1939, Schauff representava a empresa que controlava a Companhia de Terras Norte do Paraná, a Parana Plantations, sediada em Londres. Geert lembra ter sido intermediário de uma operação concebida por Erich Koch-Weser ou Oswald Nixdorf, conhecida como "operação triangular". Por ela, 25 famílias judias puderam escapar do destino trágico em campos de concentração. Também foram beneficiados não-judeus. Com a intermediação da empresa, indústrias alemãs vendiam aos ingleses material para a construção da ferrovia que ligava a região à Alta Sorocabana. Os emigrantes pagavam o material, após vender suas propriedades, e recebiam cartas com que podiam adquirir lotes na colônia de Rolândia. "É comum vermos até hoje, no material ferroviário, registro da procedência alemã", diz Klaus Nixdorf, filho de Oswald, morador de Londrina.

Foi graças a essa operação que a família de Cláudio Kaphan pôde sair de Sczezin, na Pomerânia, atual região polonesa, e fixar-se em Rolândia. Hoje com 73 anos, Kaphan tinha 10 quando chegou ao Brasil. "Como meu pai era agricultor na Pomerânia, não tivemos tanta dificuldade para trabalhar a terra", lembra Kaphan. Contrastavam com as outras famílias judias e alemãs, chefiadas por representantes da intelectualidade berlinense. Mas o futuro estava lançado e convinha adaptar-se. Como se adaptaram os herdeiros de Schauff, entre eles o filho Nicolau e irmãos. Dono de fazenda em Rolândia, Nicolau Schauff foi um dos fundadores de uma das mais bem-sucedidas cooperativas agrícolas do país, a Corol, hoje presidida por um descendente de italianos.

Ironicamente, quem mais teve de lutar para vencer a adversidade foi o precursor Oswald Nixdorf. Enquanto a maioria ganhava dinheiro com o boom do café, na década de 50, Nixdorf sustentou um processo de dez anos contra o Estado brasileiro para reaver suas terras. Acusado durante a guerra de ser representante do governo nazista, amargou a expropriação e seis meses de prisão em Curitiba. Quando conseguiu recuperar a fazenda, o boom do café havia passado. Até hoje existem feridas abertas entre os que participaram da saga de Rolândia, embora elas já não sangrem. Nixdorf é figura polêmica entre algumas famílias. Uma ampla reconstituição histórica ainda está por ser feita.
Edmundo M. Oliveira, de Munique e Rolândia


Bravura domada


Bravura domada
Foi dos
guaranis a
metade inferior
da América do
 Sul

Modo de vida
Guerreiros, eles
viviam em aldeias
com até 60
famílias,
aparentadas
 entre si.

Língua
O tupi-guarani era a "língua geral" no Brasil colonial.

República Guarani
Chegou a reunir, no Paraguai, 300 mil índios civilizados pelos jesuítas.






Outra constatação é que aqueles índios manejavam o meio ambiente com sabedoria. A diversidade da caça, somada à variação dos locais de coleta, parece indicar uma preocupação em não exaurir os recursos naturais. "O achado nos obriga a examinar aquelas tribos como grupos dotados de uma compreensão complexa do ambiente", diz o arqueólogo André Luís Soares, 32 anos, um dos responsáveis pela descoberta. "Eles sabiam tirar o melhor proveito do meio ambiente sem prejudicá-lo."

Além de ajudar a sepultar dogmas, a descoberta revela hábitos sociais a partir de fragmentos de cerâmica pintada. "Geralmente são vistas como decorativas, mas nos dizem muito sobre a civilização em estudo", afirma o arqueólogo. Por exemplo: certos potes de cerâmica estão relacionados ao consumo de bebida (normalmente o cauim, feito de mandioca e milho). Grande quantidade de bebida representa festa e, por sua vez, a ocorrência de festas significa que havia comida excedente. Pelo mesmo raciocínio, a dimensão das panelas indica que a comida era feita em grande quantidade. O tamanho dessas cerâmicas revela o porte daquela aldeia no conjunto da região. É possível concluir que as relações sociais envolviam diversas aldeias, convidadas de diferentes lugares.

No período em que se iniciou a colonização da América pelos europeus, os guaranis habitavam regiões hoje correspondentes aos Estados do Rio Grande do Sul, de Santa Catarina, Mato Grosso do Sul e São Paulo, além de Argentina, Uruguai e Paraguai. Atraídos para missões jesuíticas, os guaranis atingiram alto grau de civilização. Também se tornaram presas fáceis de bandeirantes dispostos a capturá-los e escravizá-los. No Rio Grande do Sul, muitos acabaram como escravos de fazendeiros, trabalhando no cultivo da erva-mate. Desprotegidos após a expulsão dos jesuítas determinada pelo marquês de Pombal, em 1759, milhares de índios foram dizimados por aventureiros brancos, pela fome ou pelo frio.

A descoberta de Ibarama joga luzes sobre o período em que os guaranis ainda não haviam sido "civilizados" e povoavam livremente as fronteiras da América. Para não deixar dúvidas sobre o assunto, os pesquisadores da UFSM querem promover uma grande escavação, incluindo toda a área onde se localizava a aldeia. Além disso, eles pretendem colocar o material à disposição de colegas de todo o Brasil para que o maior número possível de especialistas ajude a decifrar a civilização guarani.


Brasil revive a crise de 1999,

Brasil revive a crise de 1999, dizem analistas
14:55 23/06
AFP

RIO DE JANEIRO - O Brasil começa a reviver sua pior crise econômica dos últimos anos: os indicadores financeiros repetem o mesmo cenário que em janeiro de 1999 quando o governo foi obrigado a desvalorizar o real em 40% para evitar a fuga de capitais, estimam analistas neste domingo. O presidente do Banco Central, Arminio Fraga, viaja nesta quarta-feira à Europa para acalmar os investidores internacionais.








O risco Brasil, parâmetro usado pelos investidores estrangeiros, se aproxima do recorde histórico, 1.770 pontos atingidos dia 14 de janeiro de 1999, no dia seguinte da desvalorização.


Sexta-feira, a taxa de risco do país chegou a 1.706 pontos (contra 1.593 na véspera), o mais alto do mundo atrás da Argentina. Em abril estava em 700 pontos.


"Hoje, o medo dos investidores é exatamente o mesmo que naquela época: que o Brasil seja obrigado a renegociar o pagamento de sua dívida externa", declarou o economista Carlos de Freitas, ao Estado de São Paulo, destacando que "a diferença é que atualmente temos o regime de câmbio correto (livre flutuação do real) mas numa outra perspectiva política" - as eleições de outubro.


"O risco-Brasil não tem nenhuma justificativa nos dados fundamentais da economia brasileira que não mudaram", afirmou sexta-feira o ministro das Finanças, Pedro Malan.


O jornal Estado de São Paulo afirma neste domingo, citando informações obtidas na City de Londres, que o presidente do Banco Central, Arminio Fraga, irá à capital britânica quarta-feira, para tentar acalmar os investidores europeus.







Brasil revive a crise de 1999,

Brasil revive a crise de 1999, dizem analistas
14:55 23/06
AFP

RIO DE JANEIRO - O Brasil começa a reviver sua pior crise econômica dos últimos anos: os indicadores financeiros repetem o mesmo cenário que em janeiro de 1999 quando o governo foi obrigado a desvalorizar o real em 40% para evitar a fuga de capitais, estimam analistas neste domingo. O presidente do Banco Central, Arminio Fraga, viaja nesta quarta-feira à Europa para acalmar os investidores internacionais.







O risco Brasil, parâmetro usado pelos investidores estrangeiros, se aproxima do recorde histórico, 1.770 pontos atingidos dia 14 de janeiro de 1999, no dia seguinte da desvalorização.


Sexta-feira, a taxa de risco do país chegou a 1.706 pontos (contra 1.593 na véspera), o mais alto do mundo atrás da Argentina. Em abril estava em 700 pontos.


"Hoje, o medo dos investidores é exatamente o mesmo que naquela época: que o Brasil seja obrigado a renegociar o pagamento de sua dívida externa", declarou o economista Carlos de Freitas, ao Estado de São Paulo, destacando que "a diferença é que atualmente temos o regime de câmbio correto (livre flutuação do real) mas numa outra perspectiva política" - as eleições de outubro.


"O risco-Brasil não tem nenhuma justificativa nos dados fundamentais da economia brasileira que não mudaram", afirmou sexta-feira o ministro das Finanças, Pedro Malan.


O jornal Estado de São Paulo afirma neste domingo, citando informações obtidas na City de Londres, que o presidente do Banco Central, Arminio Fraga, irá à capital britânica quarta-feira, para tentar acalmar os investidores europeus.









A conquista dos pampas

A conquista dos pampas

Desde a criação da gaúcha São Leopoldo, no
início do século XIX, a imigração alemã
firmou uma tradição de pioneirismo
colonizador






Como antes
O tempo parece ter parado para o clã de Ignácio Stoffel (na frente, à dir.), que ainda prefere a tração animal

A cena se repete há quase um século, trocados apenas alguns personagens, sempre da família Stoffel. Em caso de força maior, o clã percorre o trajeto entre seu sítio, em Vila Rosa, e a cidade de Dois Irmãos, nas fraldas da Serra Gaúcha, empoleirado em uma carroça puxada por uma parelha de muares. Quatro gerações após a chegada dos primeiros antepassados ao Brasil, procedentes de Hunsrück, próximo à fronteira alemã com a França, os Stoffel ainda prescindem do automóvel, assim como comem do que plantam e vendem o excedente - quando existe.

Com isso, às vezes com certo aperto, vão tocando a propriedade rural, que já teve 70 hectares e está reduzida a 13, onde cultivam principalmente batata, milho, aipim, cebola e cana-de-açúcar. Mesmo assim, aos 71 anos, Ignácio Stoffel, o atual patriarca, não parece querer desistir.

Atraídos por indicações da agência de turismo do município e pelo interesse em conhecer os hábitos preservados dos primeiros imigrantes, os visitantes que costumam aparecer em Vila Rosa são recebidos no mínimo com um café e um dedo de prosa. Muitos vêm da Alemanha, que o anfitrião não chegou a conhecer, e partem dizendo-se impressionados com a qualidade de vida dos donos do lugar.

"Eles elogiam nossa comida farta e sentem inveja porque podemos plantar algumas frutas deliciosas que o clima muito frio da Alemanha não permite cultivar", conta. A hospitalidade é um traço cultural germânico herdado pela família, assim como o sotaque carregado, os olhos azuis e a pele clara avermelhada pelo sol, além da dedicação ao trabalho.

Faltou aos Stoffel, porém, desenvolver o gosto por aventura, mobilidade geográfica e pioneirismo, tão comum entre seus patrícios que os levou a comandar o desbravamento primeiro do sul e, nas últimas décadas, a extensão da fronteira agrícola em direção ao centro-oeste brasileiro.

São Leopoldo, no Vale dos Sinos gaúcho, foi o ponto de partida dessa saga iniciada em 1824 com a fundação da primeira colônia de imigrantes alemães no país, então recém-emancipado de Portugal. Por influência de José Bonifácio, dom Pedro I decidiu inaugurar com eles um programa de imigração para o sul movido não apenas por questões de segurança nacional, diante das sucessivas disputas territoriais naquela então erma região fronteiriça, como também por um casamento de interesses políticos, literalmente - filha de Francisco I, da Áustria, a imperatriz Leopoldina tinha sangue germânico.

A Alemanha de então era muito diferente da atual. Havia dezenas de reinados, principados, ducados, todos independentes, mas unidos precariamente pelo idioma, que viriam a ser unificados por Bismarck em 1871. Bem antes disso começou o êxodo, impulsionado pela escassez de terras que apenas garantia sua posse ao primogênito de cada família.

Desde a fundação de São Leopoldo, aproximadamente 300 mil alemães se instalaram no Brasil, mas nem sempre fixaram raízes num único lugar. Depois de colonizar o Rio Grande do Sul, ainda no século passado eles subiram para Santa Catarina, hoje o Estado com maior população de descendência alemã - mais de 20% do total -, e rumaram para o Espírito Santo, marcando também presença no Paraná e, em menor escala, no Rio de Janeiro e em São Paulo. Mais importante ainda, pelo caminho foram semeando descendentes e expressivas lideranças em todas as áreas da vida nacional.

Firmaram seu nome nessa galeria, entre outros, o ex-presidente Ernesto Geisel, Lauro Müller, ex-ministro da Viação do presidente Rodrigues Alves, João Henrique Böhm, chefe do Exército de dom José I no Brasil, empresários como Norberto Odebrecht e os Gerdau, jogadores de futebol e até estrelas da moda, como Xuxa Meneghel, Shirley Mallmann e Gisele Bündchen.



APARECIDA

APARECIDA
População
5.018
Homens
2.458
Mulheres
2.560


Área Total(km2)
224
Densidade pop.
22.40
Fonte: IBGE

ALHANDRA

ALHANDRA
População
14.613
Homens
7.382
Mulheres
7.231


Área Total(km2)
225
Densidade pop.
64.95
Fonte: IBGE

ALCANTIL

ALCANTIL
População
4.313
Homens
2.152
Mulheres
2.161


Área Total(km2)
253
Densidade pop.
17.05
Fonte: IBGE

ALAGOINHA

ALAGOINHA
População
11.790
Homens
5.823
Mulheres
5.967


Área Total(km2)
95
Densidade pop.
124.11
Fonte: IBGE

ALAGOA NOVA

ALAGOA NOVA
População
16.466
Homens
8.034
Mulheres
8.432


Área Total(km2)
120
Densidade pop.
137.22
Fonte: IBGE

ALAGOA GRANDE

ALAGOA GRANDE
População
30.004
Homens
14.596
Mulheres
15.408

Área Total(km2)
334
Densidade pop.
89.83
Fonte: IBGE