Anália
Franco
Nascida na cidade
de Resende, Estado do Rio de Janeiro, no dia 10 de fevereiro de 1856, e
desencarnada em S. Paulo ,
no dia 13 de janeiro de 1919. Seu nome de solteira era Anália Emília
Franco. Após consorciar-se em matrimônio com Francisco Antônio Bastos, seu nome
passou a ser Anália Franco Bastos, entretanto, é mais conhecida por Anália
Franco.
Com 16 anos de
idade entrou num Concurso de Câmara dessa cidade e logrou aprovação para
exercer o cargo de professora primária. Trabalhou como assistente de sua
própria mãe durante algum tempo. Anteriormente a 1875 diplomou-se Normalista, em S. Paulo.
Foi após a Lei do
Ventre Livre que sua verdadeira vocação se exteriorizou: a vocação literária.
Já era por esse tempo notável como literata, jornalista e poetisa, entretanto,
chegou ao seu conhecimento que os nascituros de escravas estavam previamente
destinados à "Roda" da Santa Casa de Misericórdia. Já perambulavam,
mendicantes, pelas estradas e pelas ruas, os negrinhos expulsos das fazendas
por impróprios para o trabalho. Não eram, como até então
"negociáveis", com seus pais e os adquirentes de cativos davam
preferência às escravas que não tinham filhos no ventre.
Anália escreveu,
apelando para as mulheres fazendeiras. Trocou seu cargo na Capital de São Paulo
por outro no Interior, a fim de socorrer as criancinhas necessitadas. Num
bairro duma cidade do norte do Estado de S. Paulo conseguiu uma casa para
instalar uma escola primária. Uma fazendeira rica lhe cedeu a casa escolar com
uma condição, que foi frontalmente repelida por Anália: não deveria haver
promiscuidade de crianças brancas e negras.
Diante dessa
condição humilhante foi recusada a gratuidade do uso da casa, passando a pagar
um aluguel. A fazendeira guardou ressentimento à altivez da professora, porém,
naquele local Anália inaugurou a sua primeira e original "Casa
Maternal". Começou a receber todas as crianças que lhe batiam à porta,
levadas por parentes ou apanhadas nas moitas e desvios dos caminhos.
A fazendeira,
abusando do prestígio político do marido, vendo que a sua casa, embora alugada,
se transformara num albergue de negrinhos, resolveu acabar com aquele
"escândalo" em sua fazenda. Promoveu diligências junto ao coronel e
este conseguiu facilmente a remoção da professora.
Anália foi para a
cidade e alugou uma casa velha, pagando de seu bolso o aluguel correspondente à
metade do seu ordenado. Como o restante era insuficiente para a alimentação das
crianças, não trepidou em ir, pessoalmente, pedir esmolas para a meninada.
Partiu de manhã, à pé, levando consigo o grupinho escuro que ela chamava, em
seus escritos, de "meus alunos sem mães". Numa folha local anunciou
que, ao lado da escola pública, havia um pequeno "abrigo" para as
crianças desamparadas. A fama, nem sempre favorável da novel professora, encheu
a cidade.
A curiosidade
popular tomou-se de espanto, num domingo de festa religiosa. Ela apareceu nas
ruas com seus "alunos sem mães", em bando precatório. Moça e magra,
modesta e altiva, aquela impressionante figura de mulher, que mendigava para
filhos de escravas, tornou-se o escândalo do dia. Era uma mulher perigosa, na
opinião de muitos. Seu afastamento da cidade principiou a ser objeto de
consideração em rodas políticas, nas farmácias. Mas rugiu a seu favor um grupo
de abolicionistas e republicanos, contra o grande grupo de católicos,
escravocratas e monarquistas.
Com o decorrer do
tempo, deixando algumas escolas maternais no Interior, veio para S. Paulo. Aqui
entrou brilhantemente para o grupo abolicionista e republicano. Sua missão,
porém, não era política. Sua preocupação maior era com as crianças
desamparadas, o que a levou a fundar uma revista própria, intitulada
"Álbum das Meninas", cujo primeiro número veio a lume a 30 de abril
de 1898. O artigo de fundo tinha o título "Às mães e educadoras". Seu
prestígio no seio do professorado já era grande quando surgiram a abolição da
escravatura e a República. O advento dessa nova era encontrou Anália com dois
grandes colégios gratuitos para meninas e meninos. E logo que as leis o permitiram,
ela, secundada por vinte senhoras amigas, fundou o instituto educacional que se
denominou "Associação Feminina Beneficente e Instrutiva", no dia 17
de novembro de 1901, com sede no Largo do Arouche, em S. Paulo.
Em seguida criou
várias "Escolas Maternais" e "Escolas Elementares",
instalando, com inauguração solene a 25 de janeiro de 1902, o "Liceu
Feminino", que tinha por finalidade instruir e preparar professoras para a
direção daquelas escolas, com o curso de dois anos para as professoras de
"Escolas Maternais" e de três anos para as "Escolas
Elementares".
Anália Franco
publicou numerosos folhetos e opúsculos referentes aos cursos ministrados em
suas escolas, tratados especiais sobre a infância, nos quais as professoras
encontraram meios de desenvolver as faculdades afetivas e morais das crianças,
instruindo-as ao mesmo tempo. O seu opúsculo "O Novo Manual
Educativo", era dividido em três partes: Infância, Adolescência e
Juventude.
Em 10 de dezembro
de 1903, passou a publicar "A Voz Maternal", revista mensal com a
apreciável tiragem de 6.000 exemplares, impressos em oficinas próprias.
A Associação
Feminina mantinha um Bazar na rua do Rosário n.o. 18, em S. Paulo , para a venda
dos artefatos das suas oficinas, e uma sucursal desse estabelecimento na Ladeira
do Piques n.o. 23.
Anália Franco
mantinha Escolas Reunidas na Capital e Escolas Isoladas no Interior, Escolas
Maternais, Creches na Capital e no Interior do Estado, Bibliotecas anexas às
escolas, Escolas Profissionais, Arte Tipográfica, Curso de Escrituração
Mercantil, Prática de Enfermagem e Arte Dentária, Línguas (francês, italiano,
inglês e alemão); Música, Desenho, Pintura, Pedagogia, Costura, Bordados,
Flores artificiais e Chapéus, num total de 37 instituições.
Era romancista,
escritora, teatróloga e poetisa. Escreveu uma infinidade de livretos para a
educação das crianças e para as Escolas, os quais são dignos de serem adotados
nas Escolas públicas.
Era espírita
fervorosa, revelando sempre inusitado interesse pelas coisas atinentes à
Doutrina Espírita.
Produziu a sua
vasta cultura três ótimos romances: "A Égide Materna", "A Filha
do Artista", e "A Filha Adotiva". Foi autora de numerosas peças
teatrais, de diálogos e de várias estrofes, destacando-se "Hino a
Deus", "Hino a Ana Nery", "Minha Terra", "Hino a
Jesus" e outros.
Em 1911 conseguiu,
sem qualquer recurso financeiro, adquirir a "Chácara Paraíso". Eram
75 alqueires de terra, parte em matas e capoeiras e o restante ocupado com
benfeitorias diversas, entre as quais um velho solar, ocupado durante longos
anos por uma das mais notáveis figuras da História do Brasil: Diogo Antônio
Feijó.
Nessa chácara
fundou Anália Franco a "Colônia Regeneradora D. Romualdo",
aproveitando o casarão, a estrebaria e a antiga senzala, internando ali sob
direção feminina, os garotos mais aptos para a Lavoura, a horticultura e outras
atividades agropastoris, recolhendo ainda moças desviadas, conseguindo assim
regenerar centenas de mulheres.
A vasta sementeira
de Anália Franco consistiu em 71 Escolas, 2 albergues, 1 colônia regeneradora
para mulheres, 23 asilos para crianças órfãs, 1 Banda Musical Feminina, 1
orquestra, 1 Grupo Dramático, além de oficinas para manufatura de chapéus,
flores artificiais, etc., em 24 cidades do Interior e da Capital.
Sua desencarnação
ocorreu precisamente quando havia tomado a deliberação de ir ao Rio de Janeiro
fundar mais uma instituição, idéia essa concretizada posteriormente pelo seu
esposo, que ali fundou o "Asilo Anália Franco".
A obra de Anália
Franco foi, incontestavelmente, uma das mais salientes e meritórias da História
do Espiritismo.
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