8 de agosto de 2020

Uma colaboração do amigo Maurício/POA-RS

 

Uma colaboração do amigo Maurício/POA-RS

 

 

Uma das coisas que fascina na cidade de San Francisco é ela estar localizada sobre a falha de San Andreas, que é um desnível
no terreno da região que provoca pequenos abalos sísmicos de vez
em quando e grandes terremotos de tempos em tempos. Você está muito faceiro caminhando pela cidade, apreciando a arquitetura vitoriana, a baía, a Golden Gate, e de uma hora para outra pode perder o chão, ver tudo sair do lugar, ficar tontinho, tontinho. É pouco provável que vá acontecer justo quando você estiver lá,mas existe a possibilidade, e isso amedronta mas ao mesmo tempo excita, vai dizer que não?

Assim são também as pessoas interessantes: têm falhas. Pessoas
perfeitas são como Viena, uma cidade linda, limpa, sem fraturas
geológicas, onde tudo funciona e você quase morre de tédio.

Pessoas, como cidades, não precisam ser excessivamente bonitas. É
fundamental que tenham sinais de expr essão no rosto, um nariz com personalidade, um vinco na testa que as caracterize.

Pessoas, como cidades, precisam ser limpas mas não a ponto de
não possuirem máculas. É preciso suar na hora do cansaço, é preciso ter um cheiro próprio, uma camiseta velha pra dormir, um jeans quase transparente de tanto que foi usado, um batom que escapou dos lábios depois de um beijo, um rímel que borrou um pouquinho quando você chorou.

Pessoas, como cidades, têm que funcionar, mas não podem ser previsíveis.  De vez em quando, sem abusar muito da licença, devem ser insensatas,ligeiramente passionais, demonstrarem um certo desatino, ir contra alguns prognósticos, cometer erros de julgamento e pedir desculpasdepois, pedir desculpas sempre, pra poder ter crédito e errar outra vez.

Pessoas, como cidades, devem dar vontade de visitar, devem
satisfazer nossa necessidade de viver momentos sublimes, devem ser calorosas, ser generosas e abrir suas portas, devem nos fazer querer volitar,porém não devem nos deixar 100% seguros, nunca. Uma pequena dose de apreensão e cuidado devem provocar, nunca devem deixar os outros esquecerem que pessoas, assim como cidades, têm rachaduras internas, portanto podem surpreender.

Falhas. Agradeça as suas, que é o que humaniza você, e nos fascina.

 

 

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