8 de agosto de 2020

A força brasileira no Grammy Latino

 

A força brasileira no Grammy Latino


Caetano Veloso, Ivete Sangalo, Milton Nascimento e Eliana lideram as 44 indicações do País entre os 200 concorrentes da primeira edição latina do Oscar da música internacional

Rodrigo Cardoso


Ivete Sangalo (acima) foi cumprimentada num supermercado pelas duas indicações ao Grammy Latino. “Estou toda metida, meu irmão!”, brinca ela.
O baiano Caetano Veloso disputa três estatuetas com o CD Livro ao Vivo


“Vou viajar com você, amor. Quero te aplaudir de pé, quando anunciarem seu nome.” Foi com esse entusiasmo que o publicitário Roberto Justus festejou com a namorada Eliana, 26 anos, ao saber que ela viajará para Califórnia, Estados Unidos, para concorrer ao Grammy Latino. A cantora e apresentadora selecionada na categoria Melhor Álbum Infantil disputa o troféu com o CD Eliana, o 7º de sua carreira. Lançado no final do ano passado, vendeu 250 mil cópias. Eliana terá como adversárias três espanholas e uma mexicana. É a primeira vez que uma apresentadora infantil é indicada a um Grammy. “Nunca concorri a qualquer outro prêmio na vida. É tão grandiosa essa história que não consigo conter a emoção”, comemora Eliana.

Versão latina da premiação norte-americana, que existe há 42 anos, o evento acontecerá pela primeira vez em 13 de setembro, no Staples Center, em Los Angeles. As papeletas com os nomes dos vencedores sequer foram preenchidas, mas já se pode dizer que a música brasileira é a grande vencedora do evento. Das 40 categorias criadas, sete são específicas para a música brasileira (leia box). No total, são 43 indicados brasileiros, número inferior apenas ao do México, que, assim como o Brasil, foi contemplado com seis categorias específicas e tem meia centena de indicações. Fora do eixo latino, Portugal e Espanha também estão no páreo. “A música brasileira é a alma do Grammy Latino”, afirma o vice-presidente da Academia Latina de Artes e Ciências da Gravação (Laras), Maurício Abaroa, que organiza o evento.

Para ser escolhido entre os cinco melhores em sua categoria, o álbum de Eliana concorreu com outros 230 discos infantis inscritos em toda a América Latina. Durante o processo de seleção, ela não soube que seu nome estava sendo analisado. Numa manhã, quando dirigia para a tevê Record, onde apresenta um programa diário, Eliana recebeu a notícia da sua escolha. “O quê? Ahhhhh! Que maravilha!”, gritou ela, ao celular, para seu empresário Marcos Quintella.

Antítese da euforia de Eliana, é a postura cool do carioca Ivan Lins, 55 anos. Ele não sabia que concorria na categoria Instrumental, com o álbum Dois Córregos, trilha do filme homônimo do diretor Carlos Reichenbach. Ao ser informado por Gente, ele esbanjou naturalidade: “Sou desligado. Essas premiações não me deixam excitado, nem nervoso. Sou assim há 30 anos.” É verdade. Em 1981 e 1982, duas músicas suas, Dinorah, Dinorah e Velas, venceram o Grammy na categoria Melhor Arranjo de Jazz, nas vozes de George Benson e Quincy Jones, respectivamente. Ivan só soube desses êxitos em 1984, quando os executivos da academia lhe enviaram os diplomas das premiações. “Hoje, eles estão pendurados na parede de casa”, conta. Ivan acha difícil vencer, este ano, na versão latina do evento. “O CD é uma trilha sonora. É muito bonito, mas não é feito para tocar em rádio. Mas tudo bem. Não vou ficar mais rico por causa de um troféu.”


O baiano Caetano Veloso disputa três estatuetas. Seu CD Livro ao Vivo, lançado nos Estados Unidos ano passado, foi indicado como Álbum do Ano e de MPB. Caetano concorre ainda como produtor do ano. A Bahia ainda estará representada por Ivete Sangalo, 28 anos, que disputa os troféus de Artista do Ano e, na categoria brasileira, de Álbum Pop Contemporâneo. “Eu cresci vendo meus ídolos serem indicados e, agora, esse reconhecimento veio do céu”, diz. Ivete acha que o Grammy está cada vez mais popular, tanto que chegou a ser cumprimentada no supermercado pelas indicações. “Estou toda metida, meu irmão!” Ela estará competindo com Zizi Possi, na categoria brasileira Álbum Pop Contemporâneo. E Zizi ainda luta pelo troféu de melhor Vocal Pop Feminina. Outros brasileiros no páreo são o grupo de pagode Só Pra Contrariar & Glória Estefan e Milton Nascimento & Andreas Vollenweider, na categoria Vocal Pop. Moogie Canazio, um brasileiro radicado nos Estados Unidos que produziu o álbum João Gilberto Voz e Violão, concorre na categoria Melhor Engenharia de Gravação.

Roberta Miranda está, na premiação brasileira, na categoria Álbum Sertanejo. A Majestade o Sabiá ao Vivo é seu 13º trabalho e teve o repertório escolhido por fãs, via internet. No total, Roberta já vendeu 11 milhões de discos. “A indicação é o reconhecimento de uma pessoa lutadora, uma mulher nordestina, vencendo num mundo machista, como é o sertanejo”, afirma ela. Integrante do Laras, o músico brasileiro Tom Gomes, um dos membros votantes do Grammy, explica que a criação da categoria específica para o Brasil é um reconhecimento da grandiosidade mercadológica e da diversidade de ritmos nacionais. “Um artista latino, quando está em alta, vende 4 milhões de discos na América Latina toda. Um brasileiro vende essa quantia apenas aqui.” Como bem lembrou o diretor-geral da Associação Brasileira dos Produtores Discográficos, Carlos de Andrade, não é à toa que existe “um Grammy brasileiro dentro do Latino”.

A categoria especial criada para o Brasil

É certo que sete troféus serão entregues exclusivamente a artistas brasileiros. Os concorrentes são:
Álbum Pop Contemporâneo: Zeca Baleiro, Ana Carolina, Milton Nascimento e Ivete Sangalo
Álbum de Rock: Cássia Eller, Legião Urbana, Los Hermanos, Os Paralamas
do Sucesso e Raimundos
Álbum de Samba/Pagode: Alcione, Martinho da Vila, Zeca Pagodinho,
Velha Guarda da Portela e Velha Guarda da Mangueira
Álbum de MPB: Maria Bethânia, Gilberto Gil, Joyce, Lenine e Caetano Veloso Álbum Sertanejo: Zezé di Camargo e Luciano, Leonardo, Roberta Miranda, Sérgio Reis e Wilson e Soraia
Álbum Música Regional (ou Raiz): Nilson Chaves, Dominguinhos, Toninho Ferragutti, Carlos Malta & Pide Muderno e Paulo Moura & Os Batutas
Melhor Canção: A Força que Nunca Seca (de Chico César e Vanessa Matta), Acelerou (Djavan), Anna Júlia (Marcelo Camelo), O Segundo Sol (Nando Reis) e Suave Veneno (Cristovão Bastos e Aldir Blanc)

 

 

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