15 de junho de 2008

Desassossego


Desassossego
Trabalho sobre "Danae" de Klimt



Na verdade vos digo: a noite.
E a palavra ecoa num silêncio de mármore
Tal este vento oco que crepita no olhar triste das janelas.
Na verdade digo -
Ausência.
O quarto vazio na indiferença dos velhos móveis
Esta clausura que os habita
E move
Na verdade digo nuvem
E penso num poema algodoado
Como os amortecedores dos carros familiares
Com insonorização à prova de dor
Na verdade digo sol
E a noite arde num prelúdio de febre lenta
Sem remédio
Como uma teimosa flor venal
Crescendo dos céus em nome de todos os desejos,
Tão vagos como seixos
A noite, digo eu,
A noite investe sobre o meu corpo
Como pássaro negro
Uma porta uiva sobre o silêncio
E a cama cresce até à dimensão do medo
Digo a noite e penso, é cedo para o
Rumor do mar.
Pressinto o vento
Beijando as árvores no pinhal
- o mar das memórias encantadas
que dormem sonos lendários sob o rumor das pedras.
E o poema cresce na boca e desce à terra
Como a semente de todos os desejos
Crescendo, crescendo, cravados, calcados
Crispados na terra seca, medrando para dentro.
Em verdade vos digo:
eis a raiz eterna do desassossego
Bom fim de semana e obrigada a todos que vieram ler-nos e
aos quais o tempo não me permite responder como gostaria.
Um abraço muito forte e até breve...

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