15 de junho de 2008

Conta-me uma história


Conta-me uma história...

Conta-me uma história
Conta-me simplesmente uma pequena história de embalar
Como aquelas que me contavam quando eu era criança
Mas conta-me essa história agora
Quero que o meu riso de lembranças
Seja embalado pelo teu sorriso branco
Que tanto me evoca as pálidas e translúcidas pétalas das rosas
A sorrirem-me num canteiro de um jardim improvável de Veneza
Aonde eu nunca fui
Ou vogando tranquilas na superfície lenta de uma lagoa
Como barcos impossíveis dos deuses das florestas
Conta-me uma história
Conta-me aquela história cheia de risos e de sonhos
Como as que me contavam quando a juventude ardia em mim
E os dias nasciam na intensidade das paixões
E sempre tão preenchidos de Sol
Ou de neblinas feéricas de mistério e encantamento
Que nos perdíamos em mares de abismos glaucos
Ou de tremendas tempestades
A viver sonhos com olhos acordados de espanto
Conta-me uma história
Depressa
Uma outra história de combate
Feita com palavras urgentes de ferir como o ferro duro e frio das adagas
Como aquelas palavras segredadas que surgiam
Nas madrugadas cinzentas
Das afrontas dos medos e das incertezas
A cercarem-nos imperativas de violência
Como se estivéssemos sós
E o mundo quase todo à nossa volta nos não soubesse
Conta-me uma história
Podes contá-la agora
Quando a falta que o tempo me faz me torna o tempo maior
A história das histórias contadas
A trança de uma vida que eu faço e da qual vivo
Uma história com o sabor de exóticas especiarias
Mas que contenha também a doçura indizível dos doces caseiros
As ementas que me trazem o calor da minha mãe
Condimentadas com afectos entrelaçados por um cordão de mãos
Que alguma vez senti
Conta-me uma história
Uma história que me diga onde estás
Que me ajude a encontrar-me melhor porque te encontro
Ou a encontrar-te talvez se me procuro...

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