15 de junho de 2008

Como se fosse lume


Como se fosse lume...

tão cedo
e é como se o sol viesse
rasgar a bruma do teu peito
esse rio de sangue ardente correndo
nas veias para dentro
é como se (eu) tivesse vindo desaguar
no apaziguamento das estrelas
no lago de luz aceso em nosso leito
despenhando-me para dentro
para o interior desse riso aceso
lentamente como quem em sonhos
sobrevoa o vento
é como se o poema nos viesse à boca
secreto calado pelo corpo adentro
e o verbo no gerúndio do esquecimento
nomeasse a zona azul da manhã
ainda tão cedo
é como se o tempo se calasse
na orla do presente e tu viesses ver-me
quente o veludo que embrulha a voz
dócil como seda - cego de amor
tão cego como as palavras que acendo
e ardem no meu peito a medo
é como se entre nós não pulsasse já
este quazar perdido no espaço já longe
sem tempo afastando-nos levando-nos
para a discórdia do silêncio

é como se eu questionasse
agora mesmo o mutismo do vento
será este o sol que me chama
a voz que me queima o corpo que (me) ama?

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