Aqui e Agora
Às vezes, sinto que gostavas de apagar, para sempre, todos os
traços do meu passado como se nunca tivessem existido, da mesma forma que me
pedes para guardar debaixo do forro de papel da gaveta, as fotografias das
mulheres que conheci. Sei que o meu passado te pesa cada vez que o presente o
resgata, em telefonemas rápidos e cordiais que vou recebendo de outras mulheres
que já passaram pela minha vida e com quem criei esse laço raro e difícil que
sucede à desordem do amor quando este se extingue depois da dor e o segredo da
pele já se esgotou. Em vão te explico que essas mulheres passaram com a leveza
de uma pena ou a intensidade de uma tempestade. Nunca as vejo, mas também não
preciso, primeiro porque a minha vida és tu, e por isso não fazem parte dela e
depois porque em todas elas descobri coisas de que não gostava e foi isso que
me ajudou a amar-te melhor.
Mas
vocês não percebem isto nos homens; chamam-nos predadores, animais,
insensíveis, como se não tivéssemos honra nem princípios nem coração. Nenhum
homem quer magoar uma mulher, olhamo-vos com um misto de medo, admiração e
incompreensão e se pudéssemos, construíamos um pedestal e uma escada para vocês
subirem, mesmo que seja por escassas semanas. O que damos é o que temos de
melhor, sem pensar porquê, nem como, nem até quando.
Mas
vocês não, têm sempre que questionar tudo, inventar segredos e intenções em
cada movimento que fazemos.
O
que conta é o que vivo contigo, aqui e agora, que a pureza de sentir é não
ter que pensar que amanhã ficarei triste se partires, e feliz se ainda me
quiseres guardar, por isso, esquece o passado e não temas o futuro, porque tudo
e nada está nas nossas mãos e é por isso que para nós o amor é uma coisa fácil,
simples e transparente. Ou se ama, ou não se ama, e se eu sinto que te amo, sem
ter de pensar se é verdade ou não, é porque deve mesmo ser, não achas?
Artista
de Circo, Margarida Rebelo Pinto
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