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9 de agosto de 2020
CINE BRASIL
assassino, um maníaco sexual com várias vítimas em seu currículo, meias pretas cobrindo o rosto e roupa reluzente de da vida.
La Ragaza che sappere troppo O 'marco zero' do giallo é 'La Ragazza che sappere troppo' (lançado nos EUA como 'Evil Eye'), de Mario Bava, de 1961. Neste filme, uma turista americana vai passar as férias em Roma ao mesmo tempo que um maníaco sexual está à solta, cometendo seus criminhos. Esse filme incluiu vários elementos que se tornariam padrão no gênero, como o assassino de luvas e máscara pretas à solta, com uma navalha afiada. A Itália tem uma fantástica tradição de filmes policiais que vêm desde a época do cinema mudo, mas esta obra de Bava acabou gerando uma nova variante que dominaria as telas italianas por boa parte dos anos 60/70.
A primeira 'revolução' no gênero foi gerada em outro filme de Mario Bava, 'Sei Donne per il Asesino' ('Blood & Black Lace' nos EUA). É o primeiro filme policial italiano a cores. É muito influenciado pelos 'krimis' alemães, com a inovação do uso da fotografia, emulando a capa dos livros policiais (sempre em tons pastel). Esas influência acabou retornando, pois depois do filme de Bava os krimis começaram a serem produzidos a cores.
Mas tudo é pré-história, pois o gênero explode mesmo com 'O Pássaro com Plumas de Cristal' (1969), de Dario Argento. A história do escritor americano que acha que pode resolver uma série de crimes que estão aterrorizando Roma é um modelo a ser seguido por dezenas e dezenas de cineastas que se aventuraram no gênero. Inclui a brilhante trilha atonal de Ennio Morricone, as técnicas 'arcanas' de edição que Argento utiliza até hoje (cenas aparentemente sem relação com o resto da história que adiantam momentos posteriores da mesma), a câmera pervertida e descontrolada que cria pontos de vista impossíveis. Tem um final absurdo e totalmente implausível (e totalmente imprevisível, talvez por causa destes detalhes), mas isso é um dos charmes do gênero. É o filme que lança moda na utilização de animais nos títulos.
O Pássaro com Plumas de Cristal
Se Argento fez o giallo definitivo, isso não impediu a concorrência de fazer filmes brilhantes. A começar por Mario Bava, que. Por
Prelúdio para Matar O gênero alcança seu apogeu no impecável 'Prelúdio para Matar' (Profondo Rosso), de Argento (1975). Esse filme é uma unanimidade: mesmo os críticos mais turrões e metidos a 'diferentes' o consideram o melhor giallo da história. Roteiro brilhante (de Argento e Bernardino Zapponi, parceiro de Fellini em 'Histórias Extraordinárias'), atuações notáveis (principalmente do casal protagonista, David Hemmings e Daria Nicolodi) e violência extremíssima. E, para fechar tudo, a trilha baseada no rock progressivo do Goblin, grupo italiano. Isso mudou o modo que os thrillers são musicados no mundo inteiro.
Torso Se na época de seu lançamento 'Torso' foi considerado inferior aos filmes da concorrência (Argento e Bava), hoje percebe-se que ele seguiu as 'regras' do gênero tão fielmente que nennhum outro filme simboliza tanto as qualidades do ciclo. Tem tudo: o ultra-alucinado assassino de luvas pretas e navalha afinada (como sempre com um trauma de infância explicado na última cena), a mocinha inocente (mas nem tanto), uma turma de adolescentes 'soltando a franga' (por algum motivo os diretores adoravam assassinar sadicamente hippies liberados sexualmente), o investigador ligado ao mundo artístico (neste caso, professor de antropologia), a polícia totalmente incompetente (dá a impressão que qualquer assassino de mulheres faria a festa na Itália naquela época). Tem também uma fantástica trilha roqueira, providenciada por Maurizio e Fabrizio de Angelis (que seriam responsáveis, depois, pela música obras-primas de Lucio Fulci no início dos anos 80). Só faltou o uruguaio George Hilton, vindo direto do ciclo do spaghetti western, que normalmente fazia o papel do vizinho com cara de tarado que servia como suspeito óbvio até se descobrir que ele não tinha nada a ver com a história...
à moda ditas por personagens que teoricamente não tem grande intimidade com os livros... é um filme que pede para ser redescoberto.
O fim 'oficial' do gênero se dá com 'Giallo a Venezia', de Mario Landi, de 1979. Sem a classe e o domínio de narrativa dos diretores citados no início do artigo, ele parte para a apelação explícita. O filme é um festival de sadismo, com mulheres sendo esfaqueadas no sexo, vítimas sendo queimadas e torturas afins, além uma dúzia de cenas de sexo. O gênero havia esgotado seu potencial. Foi revivido várias vezes nos anos seguintes, os diretores continuaram a fazer filmes ocasionais que seguiam os moldes aperfeiçoados por Bava, Argento e Martino, mas não mais podendo ser considerado um ciclo, e sim uma referência.
Banho de Sangue
Um dos grandes charmes do gênero são as dublagens em inglês. Como os produtores normalmente não tinham dinheiro para pagar um serviço decente, normalmente faziam o próprio elenco se dublar na língua do Tio Sam. Isso resultava em diálogos elaborados por escritores que não dominavam a língua de Shakespeare e falados por atores quase tão perdidos quanto. Resultado: um legítimo samba do crioulo doido, frases totalmente sem sentido, faladas com forte sotaque. É normal, hoje, os fãs ficarem se passando as 'quotes' favoritas do gênero...
redacao@cineclick.com.br
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