13 de novembro de 2014

Moacir Japiassu e a ficção como história Por Astier Basílio

Moacir Japiassu e a ficção como história
Por Astier Basílio
Jornalista de um extirpe cada vez mais em extinção, o paraibano Moacir Japiassu concilia como ninguém as artes e ofícios da palavra escrita tanto no trato com a informação, como em sua feição ficcional. O escritor lança mais um romance "Quando Alegre Partiste" (288 pp., Editora Francis, São Paulo, 2005; R$ 31,90) é ambientado no Rio de Janeiro e em Belo Horizonte, no período do golpe militar de 1964.
Depois de se aventurar em um romance no qual abordou o polêmico tema da Revolução de 1930, episódio que dividu o Estado em "perrepistas" e "liberais". Japiassu imaginou que o seu livro aborreceria ambos os lados. "Creio que tenha subestimado a inteligência de meus conterrâneos, pecado para o qual peço mil perdões".
Nesta entrevista, Japiassu conversa sobre o seu mais novo romance, das relações entre jornalismo e literatura.
Qual foi a principal motivação para escrever seu mais novo romance "Quando Alegre Partiste"?
Foi o aniversário de quarenta anos do golpe militar de 1964, que vivi no Rio de Janeiro. Eu tinha coisas para contar e contas a ajustar e então juntei a fome com a vontade de comer... Aliás, o romance, que saiu com o subtítulo de "Melodrama de um delirante golpe militar", estava pronto e acabado em março de 2004. Porém, alguns problemas internos levaram a editora a adiar o lançamento e este se deu apenas em setembro de 2005. Aliás, por descuido a ficha catalográfica permaneceu com a data anterior e isso deu uma tremenda confusão porque "Quando Alegre Partiste", apesar de ter todas as condições de lutar pelo título de  "Livro do Ano" da Biblioteca Nacional, acabou desclassificado por esse detalhe puramente burocrático. E o diabo é que na mesma página da ficha catalográfica lá estava o ano da primeira impressão: 2005. Ao final do volume, o colofão confirma. Deve ter havido alguma má vontade dos membros do Ministério Público escalados para "fiscalizar" o concurso. 
 
Por que a sua predileção em revisitar tempos da História recente de nosso país?

Não escrevo romances históricos, na definição clássica; nos meus livros, os personagens reais não são protagonistas, ali estão para auxiliar no desenvolvimento da trama. Em "Concerto Para Paixão e Desatino", por exemplo, pode-se dizer que o Presidente João Pessoa, José Américo de Almeida,  Juarez Távora e os demais políticos são coadjuvantes. O romance aproveita o cenário da Revolução de 30 na Paraíba, reúne suas figuras mais representativas, porém os personagens principais são mesmo Isaías, o padre Argemiro Sabaó, Sinvaldeão, Deba Coutinho, Seu Lôla entre  outros.   
 
Ficção e realidade. Como o lado jornalista e o lado escritor se dão no processo de composição de seus romances, tendo em vista que você funde episódios e pessoas reais a elementos ficcionais?
Um dos críticos de "Quando Alegre Partiste" escreveu que aquela história só poderia ter sido escrita por um jornalista e concordo plenamente. Sou um escritor que desenvolveu o estilo nos textos jornalísticos e meus chefes e colegas sempre me enxergaram como "um contador de histórias". Não que eu "inventasse" reportagens, diga-se a favor deste repórter honesto, mas sim por causa da maneira de apresentar o "acontecido". Havia literatura nos textos jornalísticos e sempre haverá jornalismo em minha literatura. Se algum dia eu escrever um livro de ficção científica, esteja certo de que instalarei em Marte uma sucursal do velho Jornal do Brasil.




Escrito por Correio das Artes às 10h15
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