29 de julho de 2017

João Duarte Dantas

João Duarte Dantas

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João Duarte Dantas (Teixeira, data de nascimento desconhecida — Recife, 3 de outubro de 1930) foi um advogado e jornalista brasileiro.
Seu nome está ligado à História da Paraíba, principalmente porque foi o autor disparos fatais que vitimaram o então Governador do Estado, João Pessoa Cavalcanti de Albuquerque. João Pessoa era candidato a Vice-presidente do Brasil na chapa encabeçada por Getúlio Vargas, contra o grupo paulista de Júlio Prestes. A morte é considerada o estopim da Revolução de 1930, quando Getúlio ascendeu ao poder, após um levante popular contra uma suposta fraude nas eleições.
João Dantas era adversário político de João Pessoa e aliado de José Pereira, chefe político da cidade de Princesa, o qual liderava uma intensa oposição às medidas governistas contra os interesses comerciais do grupo sertanejo. José Pereira recebia apoio dos irmãos Pessoa de Queirós, de Pernambuco, primos de João Pessoa e proprietários do Jornal do Commercio.
A atitude de João Dantas costuma ser atribuída não à divergência política diretamente, mas a uma questão de cunho pessoal. O embate político travado entre ele e Pessoa, através da imprensa, inclusive com ataques ao pai de Dantas, Dr. Franklin Dantas, e outros familiares, acendeu o ódio mútuo. Nesse contexto, a Polícia da Paraíba, sob o Governo de João Pessoa, invadiu escritório de Dantas, à Rua Duque de Caxias, e, além de outras coisas, apoderou-se de cartas íntimas entre ele e a professora Anayde Beiriz.
O jornal estatal, A União, fazia suspense diariamente, ao comentar sobre documentos imorais que haviam sido encontrados no escritório de João Dantas. Acrescentava que os interessados poderiam ter acesso ao material, na sede da Polícia. À época, em decorrência de uma reforma no Palácio do Governo, o mandatário do Estado, João Pessoa, despachava em prédio defronte à sede de A União. Segundo o livro Órfãos da Revolução, de Domingos Meirelles, os mais íntimos de João Pessoa sabiam que nada era publicado no jornal oficial, sem sua aquiescência. A correspondência veio a público, dias depois da invasão.
A intriga fez que amigos de João Dantas o convencessem a se mudar para Olinda. Por ocasião de uma visita de João Pessoa a Recife, amplamente noticiada, com o objetivo de receber uma homenagem, João Dantas armou-se com seu cunhado, Moreira Caldas, e foi à Confeitaria Glória, onde disparou contra o desafeto. Caldas e Dantas atiraram simultaneamente, de modo que não seria possível assegurar de onde saíra a bala fatal.
Após serem presos na Casa de Detenção de Recife, foram encontrados degolados, a 3 de outubro de 1930, no início da Revolução de 1930. A versão oficial indicou suicídio. Também Anayde Beiriz faleceria dias depois, em Recife, por envenenamento, aos 25 anos, provavelmente por iniciativa própria. Outras mortes se seguiram ao episódio, como a do então Deputado Federal, ex-governador do estado, João Suassuna, pai do escritor Ariano Suassuna, o qual foi assassinado, no Rio de Janeiro, por Miguel Laves de Sousa.
A história já inspirou filmes, livros e peças teatrais. Até hoje, desperta muita polêmica quanto aos detalhes e interesses subjacentes às ações de ambas as partes.






Textos Escolhidos
O ano de 1930 nascera sob maus presságios. Poucos meses antes, o crack na bolsa de Wall Street em Nova Iorque já estava repercutindo negativamente sobre a economia brasileira, com a crise na cafeicultura e nas exportações.
A sucessão presidencial ia num crescendo preocupante. Antônio Carlos, presidente de Minas, era o candidato natural à sucessão de Washington Luís, um paulista de Macaé, e que, findo o seu quadriênio no Catete, deveria ser sucedido por um mineiro, em obediência à tradição republicana.
Citado por Alzira Vargas do Amaral Peixoto, no livro Getúlio Vargas, Meu Pai - Ed. Globo - Pág. 47, o catarinense Lauro Müller, com a frustração dos sonhos de seu estado em fazê-lo presidente da República, dizia numa clarividente previsão:
- Enquanto o governo do país permanecer nas mãos desses portugueses de Minas e de São Paulo, não haverá perigo; cuidado, porém, com esses espanhóis do Rio Grande do Sul, porque estes, se tomarem conta do poder, custarão a sair.
Com o apoio de Washington Luís a outro paulista (no caso, Júlio Prestes), rompia-se a monotonia dessa gangorra Minas-São Paulo. Aí, bafejada pela reação e pelo estímulo mineiros, surgia a candidatura de Getúlio, presidente do Rio Grande do sul, que até então se mantivera fiel à orientação política do governo federal - fora antes, inclusive, seu ministro da Fazenda - , mas que se transformaria no candidato da oposição.
O companheiro de chapa era o presidente da Paraíba, João Pessoa, a braços com a rebelião local de José Pereira num reduto no interior paraibano, que todos imaginavam apoiado por Washington Luís e que, à frente de jagunços, anunciava a criação do Território Livre de Princesa.
Dias após as eleições, realizadas a 1º de março, a vitória da chapa Júlio Prestes-Vital Soares era tão esmagadora que normalmente deveria desestimular qualquer protesto da oposição. Mas acontece que essa oposição não aceitava o resultado das urnas, acusando-o de falso porque obtido através de extensa fraude eleitoral. Era a primeira vez que a oposição derrotada reagia. Mas não seria a última em que se falaria de fraude. Muito pelo contrário.
A revolução, coordenada por Góes Monteiro, Oswaldo Aranha, João Alberto, João Neves da Fontoura, Flores da Cunha, Maurício Cardoso, Antunes Maciel, João Carlos Machado, Virgílio de Melo Franco, Juarez Távora, Juracy Magalhães, Afonso de Albuquerque Lima, Batista Luzardo e vários outros, já estava praticamente na rua e sua articulação atingiu o auge do emocionalismo com o assassinato de João Pessoa, na Confeitaria Glória, Recife.
Afinal, por que João Pessoa foi assassinado?
Esse crime merece uma reconstituição, não só pelos seus desdobramentos e conseqüências, como também pela importância das pessoas nele envolvidas: a vítima, João Pessoa, presidente de um estado; e o assassino, João Dantas, um advogado paraibano, sertanejo da cidade de Teixeira e amigo de José Pereira, o líder de Princesa, e de João Suassuna, o líder de Catolé do Rocha.
João Duarte Dantas fazia violenta oposição a João Pessoa. Um apartamento seu, localizado em sobrado da então Rua Direita, 519 (hoje Duque de Caxias), bem no centro da capital, próximo do Ponto de Cem Réis e do palácio onde trabalhava João Pessoa, foi invadido pela polícia no dia 10 de julho, sem que se saiba até hoje se com ou sem o conhecimento prévio do presidente paraibano. Livros, documentos e móveis de João Dantas foram queimados na calçada fronteira.
Informa-se sem confirmação que se aprenderam cartas íntimas entre João Dantas e sua noiva Anayde Beiriz. O jornal A União, que já era então o órgão oficial do governo da Paraíba, publicou uma série de acusações gravíssimas a familiares de João Dantas, inclusive ao patriarca, Dr. Franklin. Ódio mortal passou a jogar um João contra o outro. Amigos preocupados com aquela rivalidade conseguiram que o Dantas se retirasse para Olinda, em Pernambuco.
O Presidente João Pessoa preparava-se para receber a homenagem de um grupo de paraibanos pelo famoso Nego, inscrito como símbolo na bandeira da Paraíba, quando anunciara a Washington Luís a sua definitiva recusa em apoiar Júlio Prestes. Precisamente no dia 26 de julho, e acompanhado apenas do seu motorista, foi ao Recife numa viagem particular, amplamente divulgada pelos jornais locais, a fim de visitar um amigo enfermo, o Juiz Francisco Tavares da Cunha Melo, internado no Hospital Centenário. O Estado de São Paulo publicou no dia 3 de outubro de 1930: "Tudo indica que João Pessoa fora ver uma cantora com quem vinha mantendo romance secreto e isto explica a sua ida à Joalheria Krause."
Segundo os escritores paraibanos Horácio de Almeida e Amarýlio de Albuquerque, referidos por José Joffily no livro Anayde - Paixão e Morte na Revolução de 30 - Ed. Record - Pág. 49, essa cantora era o soprano Cristina Maristany.
No seu refúgio de Olinda, João Dantas armou-se de um revólver e rumou para o centro da capital pernambucana. Estava acompanhado do cunhado Moreira Caldas e não lhe foi difícil vislumbrar João Pessoa bem no centro da Confeitaria Glória. Aproximou-se dele:
- João Pessoa? Eu sou João Dantas.
Vários tiros foram disparados por João Dantas e por Moreira Caldas, não se tornando possível, assim, caracterizar qual tenha sido a bala fatal que lhe varou as costas. Ao tentar a fuga, João Dantas foi ainda atingido de raspão na cabeça com um disparo feito pelo motorista de João Pessoa.
Em seqüência, diversas outras mortes trágicas
Presos, João Dantas e Moreira Caldas foram recolhidos à Casa de Detenção, do Recife, onde ambos, no dia 3 de outubro, logo no início da Revolução de 30, viram-se degolados a cortes de navalha e suas cabeças remetidas à Paraíba. Versão diferente dá conta de que eles se suicidaram com golpes do mesmo bisturi, primeiro Dantas, depois Caldas. Para sustentar a tese desse suicídio-a-dois, José Joffily revela no seu livro, pág. 53, a existência de bilhetes deixados por ambos sob os travesseiros:
"Como poderiam estes documentos de despedida, escritos em instante derradeiro, apresentar a correta redação, o talho das letras e a autenticidade das assinaturas, comprovadas em perícia, se tudo fosse escrito no tumulto de uma feroz degola e trucidamento?"
Cita a confidência de João Dantas ao seu irmão Manoel, como prova do seu intuito de suicidar-se: "- No caso de um movimento armado e vitorioso, eu não me entrego. Mato-me!"
"- E tens ao menos com que te matar?"
"Ele abriu a gola do pijama e retirou dele um afiado bisturi."
Três dias depois aconteceu outra morte dolorosa: a da noiva Anayde, uma moça de 25 anos, bonita, moderna e avançada para a época, que, já tendo ingerido o tóxico peçonhento de uma cobra, procurou refugiar-se no Asilo Bom Pastor, à Rua Benfica, bairro da Madalena, Recife, onde deu entrada às 11 horas do dia 6 de outubro para, mesmo socorrida pelas freiras, morrer três horas depois. Causa mortis, atestada pelo IML local: envenenamento.
Anayde, uma órfã de pai e mãe, execrada com o sinete daquela paixão por João Dantas, foi enterrada no cemitério de Santo Amaro, como mendiga, sem endereço e sem nome conhecidos, de acordo com sua certidão de óbito.
A quinta vítima dessa tragédia shakespeariana foi o ex-governador e já então Deputado Federal João Suassuna, assassinado, por Miguel Laves de Souza, com apenas um tiro, na esquina da Rua Riachuelo com a dos Inválidos, Rio.
O parlamentar, amigo de João Dantas, viera ao Distrito Federal na esperança de ser recebido pelo Presidente Washington Luís, já na agonia final de seu governo, para fazer-lhe um relato sobre a situação paraibana.
Sobre esse assassínio de Suassuna, seu filho, Ariano Suassuna, acadêmico e escritor (Auto da Compadecida), denunciaria num artigo publicado pela Folha de São Paulo, em 11 de setembro de 1980:
"Por ocasião dos acontecimentos de 30, nos quais, entre outras coisas, meu pai foi assassinado, a mando de pessoas que apoiavam Getúlio, éramos todos, da nossa família, antigetulistas."
Pelo menos aparentemente, a morte de João Pessoa não passara de um crime passional, transformado em tragédia política. O navio "Rodrigues Alves", que transportou seu corpo para o Rio, fez escalas em Salvador e Vitória, onde multidões acorreram ao Cais do Porto , para ovacioná-lo. No Rio, em plena Avenida Rio Branco, o caixão foi saudado por Maurício de Lacerda:
- Cidadãos, mirai este esquife. Morrei por este homem que por vós morreu. Ajoelhem-se e deixem passar o cadáver deste Cristo do civismo e ergam-se, depois, para ajustar contas com os judas que o traíram."...
"Testemunho Político" - 1998-pg.3
Um presidente de Cuiabá, desconfiado e esquivo
Eurico Gaspar Dutra era um cuiabano, esquivo e desconfiado. Com um físico franzino, fora recusado inicialmente pelo Exército. E se vira aprovado numa segunda junta de saúde, já na cidade de Corumbá. Fez depois uma completa carreira militar, permanecendo como ministro da Guerra desde 1937 e visitando a FEB, na Europa. Foi tido como o Condestável do Estado Novo, até 1945, quando ajudou a depor Getúlio Vargas no dia 29 de outubro, embora viesse a receber em seguida o apoio getulista, decisivo, para a sua candidatura presidencial.
Governou durante cinco anos, apoiado por quase todos os partidos: PSD, UDN, PTB e PR. Inaugurou em Volta Redonda a Companhia Siderúrgica Nacional - CSN e, no Rio, em 1948, o Tribunal Federal de Recursos - TFR; construiu a Hidrelétrica de São Francisco - CHESF; proibiu o jogo e fechou os cassinos; lançou o plano SALTE, que foi o primeiro projeto de governo no Brasil, com as metas prioritárias de sua sigla: Saúde, Alimentação, Transporte e Energia.
Esse Plano, que nasceu das visitas do General Eisenhower e do Presidente Truman ao Brasil – logo retribuídas pelo Presidente Dutra em 1948 -, não pôde ser integralmente executado por causa da demora de sua aprovação no Congresso.
Forte anedotário circulava então sobre a pessoa de Dutra, que não se aborrecia nem se magoava, porque encarava as piadas como provas de afeto popular:
- É possível que escondam de mim as mais pesadas.
Era o alvo predileto das anedotas. Fazia questão de manter-se atualizado sobre elas. Divertia-se quando as reproduzia para os amigos, mas não gostava de vê-las contadas por estranhos.
Não cortejava o aplauso do povo, mas torcia pelo Flamengo, do qual veio a ser sócio-benemérito.
Seu mutismo era famoso. Tinha horror a dar entrevistas coletivas ou individuais à imprensa. Só discursava em público quando não podia evitar. E lia penosamente textos preparados pelos seus ghost-writers. Tinha uma irresistível dificuldade para pronunciar certas palavras, sobretudo as que contivessem a letra s, que geralmente trocava por x.
Em 1954, três anos depois de ele haver deixado a Presidência da República, procurei-o certa tarde em sua residência da Rua Redentor, Ipanema. Fui na companhia do ex-Deputado Anísio Rocha, seu amigo particular. Queria uma declaração dele sobre o Memorial dos Coronéis e a crise militar, que estavam então em grande efervescência:
- Não posso nem devo falar sobre esses assuntos. A minha condição de ex-presidente me impede de dar entrevistas. Não tive tempo nem de ler os jornais sobre essa crise de que você está falando. É que um ladrão entrou aqui em casa, hoje de madrugada, e tive de chamar a polícia. Foi uma chateação terrível.
- Como foi mesmo esse assalto?
- Uma revista importante como a Manchete não pode se preocupar com histórias de ladrão. Foi um assalto comum. Não houve vítimas. Ele levou poucas coisas, inclusive porque não havia muitas coisas para levar. Não teve nenhuma gravidade ou importância.
- Então, voltemos à crise militar e ao memorial contra Jango...
- Olha aqui Murilo, é melhor nós voltarmos ao ladrão.
Marchas e contramarchas na sucessão de Dutra
A verdade é que o Presidente Dutra encontrara a nação em razoável situação econômico-financeira, provocada pelo acúmulo de reservas feito durante a II Grande Guerra. Mas o governo começou a desenfreada política de permitir importações então tidas como supérfluas: carros, geladeiras, tecidos, artigos de luxo, além de ferro velho, como a Leopoldina, quando foram gastos US$ 2 bilhões, num verdadeiro festival de esbanjamento e desperdício.
Na intimidade do poder, crescia a influência do chamado Partido da Copa e da Cozinha, que por trás dos bastidores comandava a política e a administração.
Do meio para o fim do qüinqüênio, começou a aumentar a onda da sucessão presidencial. Estava em plena vigência o Acordo Interpartidário, firmado entre o PSD, a UDN, e o PR. O Sr. Cirilo Júnior comentava:
- O diabo é que os partidos são três e o candidato só poderá ser um.
Muitas marchas e contramarchas aconteceram, então. Surgiram e sumiram as candidaturas de Octávio Mangabeira, Wenceslau Braz, Milton Campos, Nereu Ramos, Adhemar de Barros, Afonso Pena Júnior, Walter Jobim, Canrobert Pereira da Costa e Mello Vianna. Nasceu a famosa Fórmula Jobim, preconizada pelo governador do Rio Grande do Sul, para incluir apenas as forças consideradas leais ao governo. Sucederam-se monotonamente as reuniões dos "Três Grandes": Nereu Ramos, Prado Kelly e Arthur Bernardes. Uma Fórmula Mineira, então idealizada, incluía os gasparinhos, sugeridos pelo Presidente Eurico Gaspar Dutra: Ovídio de Abreu, Carlos Luz, Israel Pinehiro e Christiano Machado.
Sobre este último, Amaral Peixoto conta que submeteu seu nome ao Presidnete Dutra, ouvindo dele a seguinte resposta:
- Este não serve.
- Por quê?
- Porque tem um irmão comunista, que dentro do palácio será muito perigoso para nós. O irmão era o escritor Aníbal Machado.
Com Plínio Salgado, sem apoio dos socialistas
Ciente de que o Acordo Interpartidário não era mais viável e tinha sido praticamente enterrado, com impossível tessitura, a UDN, pressionada por um Movimento Popular, reuniu a sua convenção nacional no dia 18 de abril de 1950 e lançou mais uma vez a candidatura do Brigadeiro Eduardo Gomes para presidente e de Odilon Braga para vice, através de um histórico e dramático discurso de José Américo.
Convidado a apoiá-los, João Mangabeira, do Partido Socialista, reagiu:
- Não podemos caminhar ao lado de quem já tem o apoio de Plínio Salgado.
E viu-se lançado pelo PSB, escolhendo Alípio Corrêa Neto para vice. Com o PSD dividido entre ortodoxos e liberais, entre getulistas e dutristas, foi finalmente lançada na convenção nacional a candidatura de Christiano Machado, mesmo com o estranho veto ao seu irmão Aníbal, tendo dois candidatos a vice: Altino Arantes (do PR) e Vitorino Freire (do PST).
Lá em São Borja, durante os últimos cinco anos, Getúlio se deixara ficar, livre dos atritos e desgastes. Antes solitário e praticamente abandonado, ele assistia agora, de uma hora para outra, à revoada de políticos que aterrissavam no campo de pouso de sua fazenda: Adhemar de Barros, Salgado Filho, Danton Coelho, Epitácio Pessoa e Erlindo Salzano, que lhe levavam apelos para que aceitasse ser candidato.
Assinou-se aí o famoso Protocolo de Itu, que consagrava a fusão dos partidos populistas em apoio a Getúlio na sucessão presidencial, mas que não incluía ainda no seu texto a escolha do vice-presidente.
Adhemar engajou-se nessa frente: não podia ser candidato, ele próprio, à Presidência da República, porque tinha de enfrentar um genro de Dutra, o vice-governador em São Paulo, Novelli Júnior, que era seu inimigo pessoal e ao qual não podia transferir o governo, seis meses antes da eleição. Ao mesmo tempo, precisava do apoio getulista para o candidato à sua sucessão no governo de São Paulo,, o Prof. Lucas Garcez.
"Testemunho Político" - 1998 pg 101

Jânio da Silva Quadros

Jânio da Silva Quadros

(1917 - 1992)

  Presidente da república brasileira (1961) nascido em Campo Grande, MS, que alcançou a presidência da república (1961) após uma meteórica ascensão política e provocou uma das mais graves crises políticas da história do país  que culminou com o golpe militar de março (1964), após renunciar seis meses depois da posse. após morar em Curitiba e depois para São Paulo, onde graduou-se em direito (1939). Professor do colégio Dante Alighieri e estimulado pelos alunos e pais destes, inscreveu-se pelo Partido Democrata Cristão, o PDC, e elegeu-se suplente (1948) e, posteriormente, foi levado à Câmara firmando-se como opositor do então governador do estado, Ademar de Barros. Deputado estadual mais votado (1951), depois foi eleito para prefeito da capital (1953), quando adotou a vassoura como símbolo, com a qual prometia pôr fim à corrupção no país. Investindo em transporte, saneamento e educação, foi eleito governador (1954), onde ganhou fama nacional. Eleito deputado pelo Paraná, preparou-se para disputar as eleições presidenciais e fez com a família uma longa viagem ao exterior onde manteve contatos com grandes líderes mundiais como Mao Zedong (Mao Tsé-tung), Khrutchev, Nehru, Nasser, Tito e Ben Gurion, entre outros. Candidato à presidência pela União Democrática Nacional, a UDN, e foi eleito em 3 de outubro (1960). No poder, depois de de seis meses de uma atribulada gestão recheada de medidas extravagantes como a proibição de brigas de galo e corridas de cavalo nos dias úteis e o uso de biquínis nas praias. Na política, apesar de se dizer anticomunista, reatou relações com países socialistas, ao mesmo tempo que suas relações com os políticos se deterioraram, especialmente com o poderoso governador do estado da Guanabara, Carlos Lacerda, dono do jornal Tribuna da Imprensa, que o acusou de tramar um golpe de estado para se transformar em ditador. No dia seguinte, 25 de agosto, o presidente, surpreendentemente, apresentou sua renúncia em um gesto em que aparentemente pretendia, baseado em sua força popular, voltar ao poder,  fechar o Congresso e se firmar como ditador. Definitivamente afastado do poder, viajou para o exterior. Derrotado para o governo de São Paulo (1962), após o golpe militar teve seus direitos políticos cassados (1964). Após se manifestar contra o regime (1968), foi confinado em Corumbá, MT, durante 120 dias, por ordem do marechal-presidente Costa e Silva, que exercia a presidência da república. Depois dedicou-se à literatura, à pintura e à música. Recuperado os direitos políticos novamente foi derrotado na disputa pelo governo de São Paulo (1982), mas teve sucesso para prefeito da capital paulista (1985), pelo PTB, derrotando surpreendentemente o então favorito Fernando Henrique Cardoso, futuro presidente da república. Depois do término do mandato aposentou-se politicamente e morreu em São Paulo, em 16 de fevereiro. Na sua produção literária destacaram-se os livros Curso prático da língua portuguesa e sua literatura (1966), História do povo brasileiro (1967) e, em parceria com Afonso Arinos, Quinze contos (1983).
Figura copiada do site oficial da PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA:
https://www.presidencia.gov.br/


Hermes Rodrigues da Fonseca ________________________________________



Hermes Rodrigues da Fonseca

(1855 - 1923)

  Presidente da república brasileira (1910-1914) nascido em São Gabriel RS, que como ministro da Guerra no governo Afonso Pena instituiu o serviço militar obrigatório no Brasil. Sobrinho do marechal Deodoro da Fonseca, ingressou na Escola Militar (1871), onde foi aluno de Benjamin Constant, de quem herdaria seu pensamento positivista. Como capitão participou do movimento de 15 de novembro pela proclamação da república ao lado do tio (1889) e por ocasião da revolta da esquadra (1893), destacou-se na defesa do governo de Floriano Peixoto. Comandou a Brigada Policial do Rio de Janeiro (1899-1904), quando assumiu o comando da Escola Militar do Realengo. Promovido a marechal pelo presidente Rodrigues Alves, foi ministro da Guerra no governo seguinte, de Afonso Pena. Nesse ministério reformou os serviços técnicos e administrativos e instituiu o serviço militar obrigatório. Após regressar de uma viagem à Alemanha (1908), e numa disputa contra Rui Barbosa, foi eleito e empossado como o sexto presidente da república. Logo no início do governo enfrentou  a revolta dos marinheiros (1910), seguida de um levante no batalhão de fuzileiros navais. Restabelecida a ordem pública e apoiado pelo Partido Republicano Conservador, liderado por Pinheiro Machado, retomou o esquema das administrações anteriores, porém teve que "administrar" o surto militarista que visava a derrubada das oligarquias que dominavam as regiões Norte e Nordeste e colocar militares na chefia dos estados, em substituição aos políticos. Em política externa promoveu uma aproximação com os Estados Unidos e no plano interno prosseguiu o programa de construção de ferrovias e de escolas técnico-profissionais, delineado no governo Afonso Pena. Concluiu as reformas e obras da Vila Militar de Deodoro e do Hospital Central do Exército, entre outras, além das vilas operárias, no Rio de Janeiro, no subúrbio de Marechal Hermes e no bairro da Gávea. Após deixar a presidência, em novembro, foi eleito senador pelo Rio Grande do Sul (1915), mas não assumiu a cadeira, em virtude do assassinato de Pinheiro Machado, no dia em que deveria ser diplomado, em setembro daquele ano. Viajou para a Europa e só retornou ao Brasil seis anos depois, quando iniciava-se uma nova campanha presidencial. Na presidência do Clube Militar, apoiou a candidatura de Nilo Peçanha, no movimento reação republicana. Sua prisão foi então decretada pelo presidente Epitácio Pessoa e, seis meses depois, foi libertado graças a um habeas corpus. Doente, retirou-se para Petrópolis, RJ, onde morreu.
Figura copiada do site oficial da PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA:
https://www.presidencia.gov.br/


Getúlio Dornelles Vargas ________________________________________



Getúlio Dornelles Vargas

(1882 - 1954)

  Político, ditador (1930-1945) e presidente eleito (1951-1954), do Brasil, nascido em São Borja, RS, a mais expressiva figura política da república brasileira, chefe do getulismo, movimento político-social de sua inspiração. Estudou as primeiras letras com um mestre-escola na cidade natal e depois da revolução federalista (1893-1894), continuou os estudos em Ouro Preto, MG, onde já se encontravam dois irmãos mais velhos, Viriato e Protásio, cursando a Escola de Minas. Porém um incidente entre estudantes gaúchos e paulistas, de que resultou a morte de um jovem de São Paulo, levou-os de volta a São Borja. Assentou praça como soldado raso no 6º batalhão de infantaria em São Borja (1898) e a seguir foi promovido a sargento (1899). Entrou na Escola Preparatória e de Tática de Rio Pardo, RS (1900), da qual logo se desligou em solidariedade a colegas expulsos e concluiu o serviço militar em Porto Alegre. Apresentou-se como voluntário em Corumbá (1903) diante da ameaça de guerra entre Brasil e Bolívia,  na questão do Acre. De volta ao sul entrou na faculdade de direito de Porto Alegre (1904) e foi um dos fundadores do Bloco Acadêmico Castilhista, que propagava as idéias de Júlio de Castilhos. Participou do lançamento do jornal O Debate (1907), do qual se tornou secretário de redação. Diplomado (1907), foi nomeado para o cargo de segundo promotor público no tribunal de Porto Alegre, mas logo depois voltou para São Borja. Exercendo a advocacia, iniciou a carreira política pelo Partido Republicano Rio-Grandense. Eleito deputado estadual pelo Rio Grande do Sul (1909) e reeleito (1913), mas rompeu com Borges de Medeiros e renunciou ao mandato. Retornou a São Borja, onde voltou a atuar como advogado. Reconciliado com Borges de Medeiros (1917), elegeu-se novamente deputado estadual e tornou-se líder da maioria. Eleito deputado Federal (1923), foi autor da lei de proteção ao teatro, que levou seu nome, e participou ativamente da reforma constitucional do governo Artur Bernardes, que fortaleceu o poder executivo. Foi presidente da comissão de finanças da Câmara de Deputados, assumiu o Ministério da Fazenda (1926) no governo de Washington Luís, e formulou um plano de estabilização monetária, que previa a criação do cruzeiro, mas deixou a pasta (1928) para se candidatar e eleger-se presidente do estado pelo Partido Republicano do Rio Grande do Sul para o mandato seguinte (1928-1930). No ano seguinte Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Paraíba organizaram a Aliança Liberal e lançaram a chapa Getúlio Vargas/João Pessoa para a sucessão de Washington Luís na presidência. Com as denúncias de fraudes na eleição de Júlio Prestes (1930), a situação nacional agravou-se com o assassinato de João Pessoa e, com o apoio do movimento tenentista, a revolução foi deflagrada no Rio Grande do Sul, Washington Luís foi deposto, e uma junta de governo transmitiu o poder ao chefe civil da rebelião. O novo chefe do governo suspendeu a constituição, fechou o Congresso Nacional e reduziu de 15 para 11 o número de juízes do Supremo Tribunal Federal. Nomeou interventores para os estados e criou os Ministérios do Trabalho, da Indústria e Comércio e da Educação e Saúde. Promulgou uma nova lei sindical e anunciou um programa de 17 pontos, que incluía as principais promessas da Aliança Liberal. Esmagou a revolução constitucionalista em São Paulo (1932), promulgou uma nova constituição (1934) e foi eleito de forma indireta presidente da república por quatro anos e deu início a processos de reformas que puseram o Brasil agrário e semicolonial no caminho do desenvolvimento industrial, lançou as bases de uma legislação trabalhista e inaugurou o populismo e a intervenção do estado na economia. Criou a previdência social e os institutos de aposentadorias e pensões. Pôs os partidos esquerdistas na ilegalidade (1935) e com a aproximação das eleições diretas marcadas (1938), alegou a existência de um plano comunista para desencadear a guerra civil e conseguiu poderes excepcionais ao Congresso. Com eles, dissolveu a Câmara e o Senado, fez prender e exilar os principais líderes da oposição, revogou a constituição em vigor, suspendeu as eleições e instaurou no país o chamado Estado Novo. Sob essa ditadura, reprimiu toda a atividade política, adotou medidas econômicas nacionalizantes, como a criação do Conselho Nacional do Petróleo e da Companhia Siderúrgica Nacional, além do início da construção do complexo siderúrgico de Volta Redonda e criou as bases para a formação de um corpo burocrático profissional, com a instalação do Departamento Administrativo do Serviço Público (DASP). Na segunda guerra mundial, após o afundamento de 37 navios brasileiros no Atlântico e a pressão da opinião pública, declarou guerra à Alemanha (1942) e pôs em prática o processo de redemocratização do país. Porém, após II Guerra Mundial, a crise econômica européia e norte-americana agravara a situação do estado totalitário brasileiro. Na tentativa de salvar seu poder, decretou a anistia ampla para centenas de presos políticos, entre eles o chefe comunista Luís Carlos Prestes (1945) e marcou as eleições para 2 de dezembro do mesmo ano, mas terminou deposto em outubro por um golpe militar. Assumiu o governo José Linhares, presidente do Supremo Tribunal Federal, o STF, e ele retornou para São Borja. Nas eleições de 2 de dezembro, foi eleito senador pelo Rio Grande do Sul e por São Paulo e deputado federal pelo Distrito Federal e mais seis estados, mas manteve-se em São Borja, em exílio voluntário. No governo de Eurico Dutra, com a elaboração de uma nova Constituição Brasileira (1946), a quinta Constituição Brasileira que, entre outras determinações, restabelecia o regime democrático no país e o direito à educação, resolveu assumir sua cadeira no Senado. Candidatou-se à presidência (1950) pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) contra o brigadeiro Eduardo Gomes, que concorria pela União Democrática Nacional (UDN). Eleito tomou posse em janeiro (1951), mas sua política nacionalista, como a que orientaria a criação da Petrobrás (1954), encontrou fortíssimos adversários, entre eles o jornalista Carlos Lacerda. A nomeação de João Goulart para o Ministério do Trabalho (1953) desagradou os círculos militares, políticos e empresariais. Em fevereiro (1954) foi entregue ao ministro da Guerra um manifesto assinado por 48 coronéis e 39 tenentes-coronéis, que exprimia o descontentamento das forças armadas. Para controlar a situação, nomeou Zenóbio da Costa para o Ministério da Guerra e demitiu João Goulart. O aumento de cem por cento para o salário-mínimo junto com o pedido aos trabalhadores que se organizassem em defesa do governo e o atentado a tiros no Rio de Janeiro ao jornalista Carlos Lacerda, no qual morreu o major-aviador Rubens Vaz, que o acompanhava, precipitaram uma crise política sem precedentes. A prisão do suposto criminoso e suas revelações de ligação com a guarda pessoal do presidente e Gregório Fortunato e outros membros da guarda palaciana foram presos e descobriram-se várias irregularidades. O presidente reconheceu que, sem seu conhecimento, corria sob o palácio um mar de lama e os militares exigiam sua renúncia. O presidente reuniu o ministério e propôs se licenciar até que todas as responsabilidades pelo atentado fossem apuradas, porém o Exército não aceitou o afastamento temporário. A pressão foi demais e o presidente retirou-se da reunião e no mesmo dia, no palácio do Catete, no Rio de Janeiro, RJ, suicidou-se com um tiro no coração em 24 de agosto (1954), deixando uma carta-testamento de natureza fundamentalmente política.
Figura copiada do site oficial da PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA:
https://www.presidencia.gov.br/

João Guimarães Rosa

João Guimarães Rosa




"Quando escrevo, repito o que já vivi antes.
E para estas duas vidas, um léxico só não é suficiente.
Em outras palavras, gostaria de ser um crocodilo
vivendo no rio São Francisco. Gostaria de ser
um crocodilo porque amo os grandes rios,
pois são profundos como a alma de um homem.
Na superfície são muito vivazes e claros,
mas nas profundezas são tranqüilos e escuros
como o sofrimento dos homens."



João Guimarães Rosa nasceu em Cordisburgo (MG) a 27 de junho de 1908 e era o primeiro dos seis filhos de D. Francisca (Chiquitinha) Guimarães Rosa e de Florduardo Pinto Rosa, mais conhecido por "seu Fulô" comerciante, juiz-de-paz, caçador de onças e contador de estórias.
Joãozito, como era chamado, com menos de 7 anos começou a estudar francês sozinho, por conta própria. Somente com a chegada do Frei Canísio Zoetmulder, frade franciscano holandês, em março de 1917, pode iniciar-se no holandês e prosseguir os estudos de francês, agora sob a supervisão daquele frade.
Terminou o curso primário no Grupo Escolar Afonso Pena; em Belo Horizonte, para onde se mudara, antes dos 9 anos, para morar com os avós. Em Cordisburgo fora aluno da Escola Mestre Candinho. Iniciou o curso secundário no Colégio Santo Antônio, em São João del Rei, onde permaneceu por pouco tempo, em regime de internato, visto não ter conseguido adaptar-se — não suportava a comida.
De volta a Belo Horizonte matricula-se no Colégio Arnaldo, de padres alemães e, imediatamente, iniciou o estudo  do alemão, que aprendeu em pouco tempo. Era um poliglota, conforme um dia disse a uma prima, estudante, que fora entrevistá-lo:
Falo: português, alemão, francês, inglês, espanhol, italiano, esperanto, um pouco de russo; leio: sueco, holandês, latim e grego (mas com o dicionário agarrado); entendo alguns dialetos alemães; estudei a gramática: do húngaro, do árabe, do sânscrito, do lituânio, do polonês, do tupi, do hebraico, do japonês, do tcheco, do finlandês, do dinamarquês; bisbilhotei um pouco a respeito de outras. Mas tudo mal. E acho que estudar o espírito e o mecanismo de outras línguas ajuda muito à compreensão mais profunda do idioma nacional. Principalmente, porém, estudando-se por divertimento, gosto e distração.
Em 1925, matricula-se na então denominada Faculdade de Medicina da Universidade de Minas Gerais, com apenas 16 anos. Segundo um colega de turma, Dr. Ismael de Faria, no velório de um estudante vitimado pela febre amarela, em 1926, teria Guimarães Rosa dito a famosa frase: "As pessoas não morrem, ficam encantadas", que seria repetida 41 anos depois por ocasião de sua posse na Academia Brasileira de Letras.
Sua estréia nas letras se deu em 1929, ainda como estudante. Escreveu quatro contos: Caçador de camurças, Chronos Kai Anagke (título grego, significando Tempo e Destino), O mistério de Highmore Hall e Makiné para um concurso promovido pela revista O Cruzeiro. Todos os contos foram premiados e publicados com ilustrações em 1929-1930, alcançando o autor seu objetivo, que era o de ganhar a recompensa nada desprezível de cem contos de réis. Chegou a  confessar, depois, que nessa época escrevia friamente, sem paixão, preso a modelos alheios.
Em 27 de junho de 1930, ao completar 22 anos, casa-se com Lígia Cabral Penna, então com apenas 16 anos, que lhe dá duas filhas: Vilma e Agnes. Dura pouco seu  primeiro casamento, desfazendo-se uns poucos anos depois. Ainda em 1930, forma-se em Medicina, tendo sido o orador da turma, escolhido por aclamação pelos 35 colegas.
Guimarães Rosa vai exercer a profissão em Itaguara, pequena cidade que pertencia ao município de Itaúna (MG), onde permanece cerca de dois anos. Relaciona-se com a comunidade, até mesmo com raizeiros e receitadores, reconhecendo sua importância no atendimento aos pobres e marginalizados, a ponto de se tornar grande amigo de um deles, de nome Manoel Rodrigues de Carvalho, mais conhecido por "seu Nequinha", que morava num grotão enfurnado entre morros, num lugar conhecido por Sarandi.
Espírita, "Seu Nequinha" parece ter sido o inspirador da figura do Compadre meu Quelemém, espécie de oráculo sertanejo, personagem de Grande Sertão: Veredas.
Diante de sua incapacidade de por fim às dores e aos males do mundo numa cidade que não tinha nem energia elétrica, segundo depoimento de sua filha Vilma, o autor, sensível como era, acaba por afastar-se da Medicina. Contribuiu também para isso o fato de o escritor ter que assistir o parto de sua mulher, pois o farmacêutico e o médico da cidade vizinha de Itaúna só terem chegado quando Vilma já havia nascido.
Guimarães Rosa, durante a Revolução Constitucionalista de 1932, trabalha como voluntário na Força Pública. Posteriormente, efetiva-se,  por concurso. Em 1933, vai para Barbacena na qualidade de Oficial Médico do 9º Batalhão de Infantaria. Segundo depoimento de Mário Palmério, em seu discurso de posse na Academia Brasileira de Letras, o quartel pouco exigia de Guimarães Rosa – "quase que somente a revista médica rotineira, sem mais as dificultosas viagens a cavalo que eram o pão nosso da clínica em Itaguara, e solenidade ou outra, em dia cívico, quando o escolhiam para orador da corporação". Assim, sobrava-lhe tempo para dedicar-se com maior afinco ao estudo de idiomas estrangeiros; ademais, no convívio com velhos milicianos e nas demoradas pesquisas que fazia nos arquivos do quartel, o escritor teria obtido valiosas informações sobre o jaguncismo barranqueiro que até por volta de 1930 existiu na região do Rio São Francisco.
Um amigo do escritor, impressionado com sua cultura e erudição, e, particularmente, com seu notável conhecimento de línguas estrangeiras, lembrou-lhe a possibilidade de prestar concurso para o Itamarati, conseguindo entusiasmá-lo. O então Oficial Médico do 9º Batalhão de Infantaria, após alguns preparativos, seguiu para o Rio de Janeiro onde prestou concurso para o Ministério do Exterior, obtendo o segundo lugar. Por essa ocasião, aliás, já era por demais evidente sua falta de "vocação" para o exercício da Medicina, conforme ele próprio confidenciou a seu colega Dr. Pedro Moreira Barbosa, em carta datada de 20 de março de 1934:
Não nasci para isso, penso. Não é esta, digo como dizia Don Juan, sempre 'après avoir couché avec...’ Primeiramente, repugna-me qualquer trabalho material só posso agir satisfeito no terreno das teorias, dos textos, do raciocínio puro, dos subjetivismos. Sou um jogador de xadrez nunca pude, por exemplo, com o bilhar ou com o futebol.
Antes que os anos 30 terminem, ele participa de outros dois concursos literários. Em 1936, a coletânea de poemas Magma recebe o prêmio de poesia da Academia Brasileira de Letras. Um ano depois, sob o pseudônimo de "Viator", concorre ao prêmio HUMBERTO DE CAMPOS, com o volume intitulado Contos, que em 46, após uma revisão do autor, se transformaria em Sagarana, obra que lhe rendeu vários prêmios e o reconhecimento como um dos mais importantes livros surgidos no Brasil contemporâneo. Os contos de Sagarana apresentam a paisagem mineira em toda a sua beleza selvagem, a vida das fazendas, dos vaqueiros e criadores de gado, mundo que Rosa habitara em sua infância e adolescência. Neste livro, o autor já transpõe a linguagem rica e pitoresca do povo, registra regionalismos, muitos deles jamais escritos na literatura brasileira.
Em 1938, Guimarães Rosa é nomeado Cônsul Adjunto em Hamburgo, e segue para a Europa; lá fica conhecendo Aracy Moebius de Carvalho (Ara), que viria a ser sua segunda mulher. Durante a guerra, por várias vezes escapou da morte; ao voltar para casa, uma noite, só encontrou escombros. A superstição e o misticismo acompanhariam o escritor por toda a vida. Ele acreditava na força da lua, respeitava curandeiros, feiticeiros, a umbanda, a quimbanda e o kardecismo. Dizia que pessoas, casas e cidades possuíam fluidos positivos e negativos, que influíam nas emoções, nos sentimentos e na saúde de seres humanos e animais. Aconselhava os filhos a terem cautela e a fugirem de qualquer pessoa ou lugar que lhes causasse algum tipo de mal estar.
Embora consciente dos perigos que enfrentava, protegeu e facilitou a fuga de judeus perseguidos pelo Nazismo; nessa empresa, contou com a ajuda da mulher, D. Aracy. Em reconhecimento a essa atitude, o diplomata e sua mulher foram homenageados em Israel, em abril de 1985, com a mais alta distinção que os judeus prestam a estrangeiros: o nome do casal foi dado a um bosque que fica ao longo das encostas que dão acesso a Jerusalém.
Foi a forma encontrada pelo governo israelense para expressar sua gratidão àqueles que se arriscaram para salvar judeus perseguidos pelo Nazismo por ocasião da 2ª Guerra Mundial. Segundo D. Aracy, que compareceu a Israel por ocasião da homenagem, seu marido sempre se absteve de comentar o assunto já que tinha muito pudor de falar de si mesmo. Apenas dizia: "Se eu não lhes der o visto, vão acabar morrendo; e aí vou ter um peso em minha consciência."
Em 1942, quando o Brasil rompe com a Alemanha, Guimarães Rosa é internado em Baden-Baden, juntamente com outros compatriotas, entre os quais se encontrava o pintor pernambucano Cícero Dias,  Ficam retidos durante 4 meses e são libertados em troca de diplomatas alemães. Retornando ao Brasil, após rápida passagem pelo Rio de Janeiro, o escritor segue para Bogotá, como Secretário da Embaixada, lá permanecendo até 1944. Sua estada na capital colombiana, fundada em 1538 e situada a uma altitude de 2.600 m, inspirou-lhe o conto Páramo, de cunho autobiográfico, que faz parte do livro póstumo Estas Estórias. O conto se refere à experiência de "morte parcial" vivida pelo protagonista (provavelmente o próprio autor), experiência essa induzida pela solidão, pela saudade dos seus, pelo frio, pela umidade e particularmente pela asfixia resultante da rarefação do ar (soroche – o mal das alturas).
Em dezembro de 1945 o escritor retornou ao Brasil depois de longa ausência. Dirigiu-se, inicialmente, à Fazenda Três Barras, em Paraopeba, berço da família Guimarães, então pertencente a seu amigo Dr. Pedro Barbosa e, depois, a cavalo, rumou para Cordisburgo, onde se hospedou no tradicional Argentina Hotel, mais conhecido por Hotel da Nhatina.
Em 1946, Guimarães Rosa é nomeado chefe-de-gabinete do ministro João Neves da Fontoura e vai a Paris como membro da delegação à Conferência de Paz.
Em 1948, o escritor está novamente em Bogotá como Secretário-Geral da delegação brasileira à IX Conferência Inter-Americana; durante a realização do evento ocorre o assassinato político do prestigioso líder popular Jorge Eliécer Gaitán, fundador do partido Unión Nacional Izquierdista Revolucionaria, de curta mas decisiva duração.
De 1948 a 1950, o escritor encontra-se de novo em Paris, respectivamente como 1º Secretário e Conselheiro da Embaixada. Em 1951 é novamente nomeado Chefe de Gabinete de João Neves da Fontoura. Em 1953 torna-se Chefe da Divisão de Orçamento e em 1958 é promovido a Ministro de Primeira Classe (cargo correspondente a Embaixador).
Guimarães Rosa retorna ao Brasil em 1951. No ano seguinte, faz uma excursão ao Mato Grosso. O resultado é uma reportagem poética: Com o vaqueiro Mariano. Segundo depoimento do próprio Manuel Narde, vulgo Manuelzão, falecido em 5 de maio de 1997, protagonista da novela Uma estória de amor, incluída no volume Manuelzão e Miguilim, durante os dias que passou no sertão, Guimarães Rosa pedia notícia de tudo e tudo anotava "ele perguntava mais que padre" –, tendo consumido "mais de 50 cadernos de espiral, daqueles grandes", com anotações sobre a flora, a fauna e a gente sertaneja usos, costumes, crenças, linguagem, superstições, versos, anedotas, canções, casos, estórias...
Em ensaio crítico sobre Corpo de Baile, o professor Ivan Teixeira afirma que o livro talvez seja o mais enigmático da literatura brasileira. As novelas que o compõem formam um sofisticado conjunto de logogrifos, em que a charada é alçada à condição de revelação poética ou experimento metafísico. Na abertura do livro, intitulada Campo Geral, Guimarães Rosa se detém na investigação da intimidade de uma família isolada no sertão, destacando-se a figura do menino Miguelim e o seu desajuste em relação ao grupo familiar. Campo Geral surge como uma fábula do despertar do autoconhecimento e da apreensão do mundo exterior; e o conjunto das novelas surge como passeio cósmico pela geografia rosiana, que retoma a idéia básica de toda a obra do escritor: o universo está no sertão, e os homens são influenciados pelos astros.
Em 1956, no mês de janeiro, reaparece no mercado editorial com as novelas Corpo de Baile, onde continua a experiência iniciada em Sagarana. A partir de o Corpo de Baile, a obra de Rosa - autor reconhecido como o criador de uma das vertentes da moderna linha de ficção do regionalismo brasileiro - adquire dimensões universalistas, cuja cristalização artística é atingida em Grande Sertão: Veredas, lançado em maio de 56. O terceiro livro de Guimarães Rosa, uma narrativa épica que se estende por 600 páginas, focaliza numa nova dimensão, o ambiente e a gente rude do sertão mineiro. Grande Sertão: Veredas reflete um autor de extraordinária capacidade de transmissão do seu mundo, e foi resultado de um período de dois anos de gestação e parto. A história do amor proibido de Riobaldo, o narrador, por Diadorim é o centro da narrativa. Para Renard Perez, autor de um ensaio sobre Guimarães Rosa, em Grande Sertão: Veredas, além da técnica e da linguagem surpreendentes, deve-se destacar o poder de criação do romancista, e sua aguda análise dos conflitos psicológicos presentes na história.
O lançamento de Grande Sertão: Veredas causa grande impacto no cenário literário brasileiro. O livro é traduzido para diversas línguas e seu sucesso deve-se, sobretudo, às inovações formais. Crítica e público dividem-se entre louvores apaixonados e ataques ferozes. Torna-se um sucesso comercial, além de receber três prêmios nacionais: o Machado de Assis, do Instituto Nacional do Livro; o Carmen Dolores Barbosa, de São Paulo; e o Paula Brito, do Rio de Janeiro. A publicação faz com que Guimarães Rosa seja considerado uma figura singular no panorama da literatura moderna, tornando-se um "caso" nacional. Ele encabeça a lista tríplice, composta ainda por Clarice Lispector e João Cabral de Melo Neto, como os melhores romancistas da terceira geração modernista brasileira.
Ainda que não publicasse nada até 1962, o interesse e o respeito pela obra rosiana só aumentavam, em relação à crítica e ao público. Unanimidade, o escritor recebe, em 1961, o Prêmio Machado de Assis, concedido pela Academia Brasileira de Letras, pelo conjunto da obra. Ele começa a obter reconhecimento no exterior.
Em janeiro de 1962, assume a chefia do Serviço de Demarcação de Fronteiras, cargo que exerceria com especial empenho, tendo tomado parte ativa em momentosos casos como os do Pico da Neblina (1965) e das Sete Quedas (1966). Em 1969, em homenagem ao seu desempenho como diplomata, seu nome é dado ao pico culminante (2.150 m) da Cordilheira Curupira, situado na fronteira Brasil/Venezuela. O nome de Guimarães Rosa foi sugerido pelo Chanceler Mário Gibson Barbosa, como um reconhecimento do Itamarati àquele que, durante vários anos, foi o chefe do Serviço de Demarcação de Fronteiras da Chancelaria Brasileira.
Em 1958, no começo de junho, Guimarães Rosa viaja para Brasília, e escreve para os pais:
Em começo de junho estive em Brasília, pela segunda vez lá passei uns dias. O clima da nova capital é simplesmente delicioso, tanto no inverno quanto no verão. E os trabalhos de construção se adiantam num ritmo e entusiasmo inacreditáveis: parece coisa de russos ou de norte-americanos"... "Mas eu acordava cada manhã para assistir ao nascer do sol e ver um enorme tucano colorido, belíssimo, que vinha, pelo relógio, às 6 hs 15’, comer frutinhas, na copa da alta árvore pegada à casa, uma tucaneira’, como por lá dizem. As chegadas e saídas desse tucano foram uma das cenas mais bonitas e inesquecíveis de minha vida.
A partir de 1958, o autor começa a apresentar problemas de saúde e estes seriam, na verdade, o prenúncio do fim próximo, tanto mais quanto, além da hipertensão arterial, o paciente reunia outros fatores de risco cardiovascular como excesso de peso, vida sedentária e, particularmente, o tabagismo. Era um tabagista contumaz e embora afirme ter abandonado o hábito, em carta dirigida ao amigo Paulo Dantas em dezembro de 1957, na foto tirada em 1966, quando recebia do governador Israel Pinheiro a Medalha da Inconfidência, aparece com um cigarro na mão esquerda. A propósito, na referida carta, o escritor chega mesmo a admitir, explicitamente, sua dependência da nicotina:
... também estive mesmo doente, com apertos de alergia nas vias respiratórias; daí, tive de deixar de fumar (coisa tenebrosa!) e, até hoje (cabo de 34 dias!), a falta de fumar me bota vazio, vago, incapaz de escrever cartas, só no inerte letargo árido dessas fases de desintoxicação. Oh coisa feroz. Enfim, hoje, por causa do Natal chegando e de mais mil-e-tantos motivos, aqui estou eu, heróico e pujante, desafiando a fome-e-sede tabágica das pobrezinhas das células cerebrais. Não repare.
É importante frisar também que, coincidindo com os distúrbios cardiovasculares que se evidenciaram a partir de 1958, Guimarães Rosa parece ter acrescentado a suas leituras espirituais publicações e textos relativos à Ciência Cristã (Christian Science), religião cristã criada nos Estados Unidos em 1866 por Mrs. Mary Baker Eddy e que afirma a primazia do espírito sobre a matéria – "... the allness of Spirit and the nothingness of matter", a qual habilita compreender a nulidade do pecado, dos sentimentos negativos em geral, da doença e da morte, diante da totalidade do Espírito.
Em 1962, é lançado Primeiras Estórias, livro que reúne 21 contos pequenos. Nos textos, as pesquisas formais características do autor, uma extrema delicadeza e o que a crítica considera "atordoante poesia".
Em maio de 1963, Guimarães Rosa candidata-se pela segunda vez à Academia Brasileira de Letras (a primeira fora em 1957, quando obtivera apenas 10 votos), na vaga deixada por João Neves da Fontoura. A eleição dá-se a 8 de agosto e desta vez é eleito por unanimidade. Mas não é marcada a data da posse, adiada sine die, somente acontecendo quatro anos depois, no dia 16 de novembro de 1967.
Em janeiro de 1965, participa do Congresso de Escritores Latino-Americanos, em Gênova. Como resultado do congresso ficou constituída a Primeira Sociedade de Escritores Latino-Americanos, da qual o próprio Guimarães Rosa e o guatemalteco Miguel Angel Asturias (que em 1967 receberia o Prêmio Nobel de Literatura) foram eleitos vice-presidentes.
Em abril de 1967, Guimarães Rosa vai ao México na qualidade de representante do Brasil no I Congresso Latino-Americano de Escritores, no qual atua como vice-presidente. Na volta é convidado a fazer parte, juntamente com Jorge Amado e Antônio Olinto, do júri do II Concurso Nacional de Romance Walmap que, pelo valor material do prêmio, é o mais importante do país.
No meio do ano, publica seu último livro, também uma coletânea de contos, Tutaméia. Nova efervescência no meio literário, novo êxito de público. Tutaméia, obra aparentemente hermética, divide a crítica. Uns vêem o livro como "a bomba atômica da literatura brasileira"; outros consideram que em suas páginas encontra-se a "chave estilística da obra de Guimarães Rosa, um resumo didático de sua criação".
Três dias antes da morte o autor decidiu, depois de quatro anos de adiamento, assumir a cadeira na Academia Brasileira de Letras. Os quatro anos de adiamento eram reflexo do medo que sentia da emoção que o momento lhe causaria. Ainda que risse do pressentimento, afirmou no discurso de posse: "...a gente morre é para provar que viveu."
O escritor faz seu discurso de posse na Academia Brasileira de Letras com a voz embargada.  Parece pressentir que algo de mal lhe aconteceria. Com efeito, três dias após a posse, em 19 de novembro de1967, ele morreria subitamente em seu apartamento em Copacabana, sozinho (a esposa fora à missa), mal tendo tempo de chamar por socorro.
Em 1967, João Guimarães Rosa seria indicado para o prêmio Nobel de Literatura. A indicação, iniciativa dos seus editores alemães, franceses e italianos, foi barrada pela morte do escritor. A obra do brasileiro havia alcançado esferas talvez até hoje desconhecidas. Quando morreu tinha 59 anos. Tinha-se dedicado à medicina, à diplomacia, e, fundamentalmente às suas crenças, descritas em sua obra literária. Fenômeno da literatura brasileira, Rosa começou a escrever aos 38 anos. O autor, com seus experimentos lingüísticos, sua técnica, seu mundo ficcional, renovou o romance brasileiro, concedendo-lhe caminhos até então inéditos. Sua obra se impôs não apenas no Brasil, mas alcançou o mundo.
BIBLIOGRAFIA:
 - Magma (1936), poemas. Não chegou a publicá-los.
 - Sagarana (1946), contos e novelas regionalistas. Livro de estréia.
- Com o vaqueiro Mariano (1947)
 - Corpo de Baile (1956), novelas. (Atualmente publicado em três partes:

    - Manuelzão e Miguilim,
    - No Urubuquaquá, no Pinhém e
    - Noites do sertão.)

 - Grande Sertão: Veredas (1956), romance.
 - Primeiras estórias (1962), contos.
 - Tutaméia:Terceiras estórias (1967), contos.
 - Estas estórias (1969), contos. Obra póstuma.
 - Ave, palavra (1970) diversos. Obra póstuma.
Colaborações em jornais e revistas:

- Colaborou no suplemento "Letras e Artes" de A Manhã (1953-54), em O Globo (1961) e na revista Pulso (1965-66), divulgando contos e poemas.
Bibliografia sobre o Autor:
Bosi, Alfredo (org.). O conto brasileiro contemporâneo. São Paulo: Cultrix, 1994.
Faraco, C.E. & Moura, F.M. Língua e literatura.. São Paulo: Ática, 1996. v.3.
Holzemayr, Rosenfield Kathrin. Grande Sertão: Veredas. São Paulo: Ática, 1996. (Roteiro de Leitura).
Macedo, Tânia. Guimarãres Rosa. São Paulo: Ática, 1996. (Ponto por Ponto).
Perez, Renard. Em Memória de João Guimarães Rosa. Rio de Janeiro: José Olympio, 1968.
Rosa, Vilma Guimarães. Relembramentos, Guimarães Rosa, meu pai. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1983.
Santo, Wendel. A construção do romance em Guimarães Rosa. São Paulo: Ática, 1996.
Sperber, Suzi Frankl. Guimarães Rosa: signo e sentimento. São Paulo: Ática, 1996. (Ensaio).
Zilberman, R. A Leitura e o ensino da literatura. São Paulo: Contexto, 1989.
Acervo:
- Os arquivos do autor, abrangendo o período de 1908 a 1971, com aproximadamente 12.000 documentos, foram adquiridos pelo Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) da Universidade de São Paulo (USP).
Homenagem ao Autor:
Museu Guimarães Rosa
Av. Padre João, 744
Cordisburgo - MG - Brasil
Fone: (0 XX 31) 715-1378
Agendar visitas: 3ª a dom., das 8h40min às 17h.

Versões:
1961/1967 - Publicação de "Buriti" ("Corpo de Baile", 1ª parte), "Les Nuits du Sertão" ("Corpo de Baile", 2ª parte), "Primeiras Estórias", pela Édition du Seuil; "Diadorim", pela Éditions Albin Michel, Paris - França.
Adaptações:

1969 - Publicação do livro "A João Guimarães Rosa" -  (Gráficos Brunner), ensaio fotográfico de Maureen Bisilliat, com trechos de "Grande Sertão: Veredas". Curta de 09 minutos - Filmoteca da ECA / USP, direção de Roberto Santos - São Paulo (SP).

1975 - Adaptação dos contos "Corpo Fechado" (do livro "Sagarana"), direção de Lima Duarte, e "Sorôco, Sua Mãe, Sua Filha" (do livro "Primeiras Estórias"), direção de Kiko Jaess, para o programa Teatro 2, da TV Cultura - São Paulo (SP)

1975 - Adaptação do conto "Sarapalha" (do livro "Sagarana"), direção de Roberto Santos, para Caso Especial, da Rede Globo - Rio de Janeiro (RJ).

1984 - Adaptação de "Noites do Sertão", direção de Carlos Alberto Prates Corrêa - Rio de Janeiro (RJ).

1985 - Adaptação de "Grande Sertão: Veredas" para minissérie da Rede Globo, direção de Walter Avancini - Rio de Janeiro (RJ).

1994 - Rio de Janeiro RJ - Adaptação para o teatro de "Grande Sertão: Veredas", direção de Regina Bertola, no Centro Cultural Banco do Brasil

1994 - Filme "A Terceira Margem do Rio", direção e roteiro de Nelson Pereira dos Santos, baseado em cinco contos do livro "Primeiras Estórias": "A Terceira Margem do Rio", "A Menina de Lá", "Os Irmãos Dagobé", "Seqüência" e "Fatalidade" - Rio de Janeiro (RJ).

Discografia:
"Rio Abaixo"
Intérprete: Paulo Freire e outros.
Disco: "Rio Abaixo - Viola Brasileira" (www.paulofreire.com.br).

"Rosas pra João"
Interprete: Renato Motha e Patrícia Lobato.
CD com 13 canções inspiradas pela obra do biografado.
(www.renatomotha.com.br)



 "Um chamado João"

"João era fabulista?
fabuloso?
fábula?
Sertão místico disparando
no exílio da linguagem comum?
Projetava na gravatinha
a quinta face das coisas,
inenarrável narrada?
Um estranho chamado João
para disfarçar, para farçar
o que não ousamos compreender?
Tinha pastos, buritis plantados
no apartamento?
no peito?
Vegetal ele era ou passarinho
sob a robusta ossatura com pinta
de boi risonho?


Era um teatro
e todos os artistas
no mesmo papel,
ciranda multívoca?
João era tudo?
tudo escondido, florindo
como flor é flor, mesmo não semeada?
Mapa com acidentes
deslizando para fora, falando?
Guardava rios no bolso,
cada qual com a cor de suas águas?
sem misturar, sem conflitar?
E de cada gota redigia nome,
curva, fim,
e no destinado geral
seu fado era saber
para contar sem desnudar
o que não deve ser desnudado
e por isso se veste de véus novos?


Mágico sem apetrechos,
civilmente mágico, apelador
e precipites prodígios acudindo
a chamado geral?
Embaixador do reino
que há por trás dos reinos,
dos poderes, das
supostas fórmulas
de abracadabra, sésamo?
Reino cercado
não de muros, chaves, códigos,
mas o reino-reino?
Por que João sorria
se lhe perguntavam
que mistério é esse?


E propondo desenhos figurava
menos a resposta que
outra questão ao perguntante?
Tinha parte com... (não sei
o nome) ou ele mesmo era
a parte de gente
servindo de ponte
entre o sub e o sobre
que se arcabuzeiam
de antes do princípio,
que se entrelaçam
para melhor guerra,
para maior festa?


Ficamos sem saber o que era João
e se João existiu
de se pegar."

Carlos Drummond de Andrade - 22/11/1967 - Versiprosa

Dados extraídos de livros do e sobre o autor e páginas da Internet.



Página Não-Oficial do Teixeirinha Biografia



Página Não-Oficial do Teixeirinha
Biografia

VITOR MATEUS TEIXEIRA, Teixeirinha, nasceu na cidade de Rolante, distrito de Mascaradas, Rio Grande do Sul, em 03 de março de 1927. Filho de Saturno Teixeira e Ledurina Mateus Teixeira, teve um irmão e duas irmãs.
Aos seis anos de idade perdeu o pai e aos nove anos a mãe. Ficando órfão foi morar com parentes, mas estes como não tinham condições de sustentá-lo, saiu pelo mundo fazendo de tudo um pouco, como: trabalhou em granjas do interior e quando veio para Porto Alegre carregou malas em portas de pensões, vendeu doces como ambulante, entregador de viandas, vendeu jornais, enfim fazia qualquer atividade para poder sobreviver.
Com Dezesseis anos se auto-registrou como Cidadão Brasileiro. Aos dezoito anos se alistou no Exército, mas não chegou a servir, quando nesta ocasião foi trabalhar no DAER (Departamento de Estradas de Rodagem), como operador de máquinas durante seis anos. Dali saiu para tentar a carreira artística cantando nas rádios das cidades do interior, tais como: Lajeado, Estrela, Rio Pardo, Santa Cruz do Sul, nesta última conheceu sua esposa Zoraida Lima Teixeira. Casaram-se em 1957 e foram morar em Soledade, em seguida mudaram-se para Passo Fundo, onde compraram um “Tiro ao Alvo” que era cuidado por ele e sua esposa e a noite Teixeirinha se apresentava na Rádio Municipal de Passo Fundo.
Em 1959 foi convidado para gravar em São Paulo. Viajou na segunda classe de um trem. Gravou seu primeiro 78RPM, de um lado a música “Xote Soledade” e do outro lado “Briga no Batizado”.
Segundo depoimento de um dos membros da Gravadora Chantecler, Dr. Biaggio Baccarin, o sucesso assim aconteceu:
“A sigla PTJ, no 78 RPM, abrigava três nomes: Palmeira, Teddy e Jairo, então diretores da Chantecler e fundadores do selo sertanejo. Como se constata, “Coração de Luto” ocupou o lado “B” do quarto disco gravado por Teixeirinha, o qual foi lançado sem qualquer preocupação de sucesso, no entanto aconteceu espontaneamente após seis meses de seu lançamento. As primeiras reações vieram de Sorocaba/SP e em pouco tempo já era sucesso nas demais cidades da região. Foi nessa ocasião que a gravadora Chantecler resolveu trazer o cantor para São Paulo a fim de trabalhar o disco, cujo trabalho teve início com um show na cidade de Sorocaba/SP e, posteriormente, nas demais cidades do Estado de São Paulo, até o triângulo mineiro.

O sucesso aconteceu em todo o Brasil, com venda superior a um milhão de cópias no ano de 1961. Um acontecimento inédito na história da música popular brasileira. Para se ter idéia deste fato, o disco Coração de Luto chegou a ser vendido no câmbio negro em Belém do Pará, havia fila para comprá-lo. A gravadora não tinha condições de atender os pedidos e era obrigada a distribuir cotas para cada loja. O fato de Belém do Pará foi registrado pelo saudoso Edgard Pina, então agente da Chantecler naquela capital”.
Teixeirinha voltou a Passo Fundo, vendeu o “Tiro ao Alvo” e se mudou para Porto Alegre. Foi chamado novamente pela Chantecler, desta vez para morar na capital paulista e continuar a divulgação do sucesso de Coração de Luto, no entanto, recusou domiciliar-se em São Paulo, voltando para Porto Alegre.

Com o que ganhou na excursão em São Paulo, comprou uma casa, no bairro da Glória em Porto Alegre, onde viveu toda sua vida e uma Kombi para viajar por todo o Brasil. Então, definitivamente Teixeirinha assumiu a carreira artística, passando a trabalhar em circos, parques, teatros, cinemas e demais casas de espetáculos. Como o próprio cantor relatou em uma de suas últimas entrevistas à imprensa: “... onde o povo me pediu para estar, eu fui...”(RBS/TV- julho/1985).
Teixeirinha começou a viajar para todo o Brasil como o “Gaúcho Coração do Rio Grande”. Em 1963, ganhou o troféu “Chico Viola” outorgado pela TV Record de São Paulo, no programa “Astros do Disco”, um programa de gala da televisão brasileira e tinha por objetivo premiar os melhores dos disco de cada ano e Teixeirinha ganhou por ter sido o cantor campeão de vendagem por dois anos consecutivos, 1962/1963.
Internacionalmente ganhou o troféu “Elefante de Ouro” como maior vendagem de discos em Portugal.

A música Coração de Luto, até hoje, vendeu mais de vinte e cinco milhões de cópias, a única no mundo mais vendida, superando cantores como Michael Jackson, Julio Iglesias, cantores contemporâneos de grande vendagem de discos, mas não de uma única música, como o caso de Coração de Luto, que continua na cotação de uma das músicas mais vendidas.
Em 1964, Teixeirinha escreveu a história do filme “Coração de Luto”, que foi produzido pela Leopoldis Som, em 1966, outro recorde de bilheteria. Em 1969, encenou no filme “Motorista sem Limites” juntamente com Valter D’Avila, produzido por Itacir Rossi.
Em 1970 criou sua própria produtora “Teixeirinha Produções Artísticas Ltda, pela qual escreveu, produziu e distribuiu dez filmes, quais sejam: “Ela Tornou-se Freira” (1972); “Teixeirinha 7 Provas”(1973); “Pobre João” (1974); “A Quadrilha do Perna Dura” (1975); “Carmem a Cigana (1976); “O Gaúcho de Passo Fundo”(1978) ; “Meu Pobre Coração de Luto”(1978); Na trilha da Justiça (1978); “Tropeiro Velho” (1980); “A Filha de Iemanjá” (1981).
Durante vinte anos, apresentou programas de rádio diariamente com duas edições: “Teixeirinha Amanhece Cantando” (de manhã) e “Teixeirinha Comanda o Espetáculo” (a noite) e “Teixeirinha Canta para o Brasil”(domingos, pela manhã) em diversas rádios da capital, com transmissão para o interior e outros estados brasileiros.
Recebeu nove discos de ouro, foi cidadão emérito de vários municípios como: Passo Fundo, Santo Antônio da Patrulha, Rolante e etc.
Em 1973 foi contratado para fazer quinze apresentações nos Estados Unidos da América. Em 1975 foi para o Canadá, onde realizou dezoito espetáculos. Fez shows na maioria dos países da América do Sul.
Teve nove filhos: Sirley Marisa; Líria Luisa; Victor Filho; Margareth; Elizabeth; Fátima Lisete; Márcia Bernadeth; Alexandre e Liane Ledurina.
Durante vinte e dois anos Mary Terezinha lhe acompanhou com acordeon em shows, rádio e cinema.
Gravou 49 Lps inéditos, com mais de 70 Lps, incluindo regravações, atualmente sendo todos reeditados em disco laser, gravando mais de 700 músicas de sua autoria, deixando um acervo superior a 1200 composições de sua lavra.
Teixeirinha faleceu dia 04 de dezembro de 1985 e está sepultado no Cemitério da Santa Casa, quadra n.4, túmulo n.4, na capital gaúcha.



Teixeirinha nasceu em Rolante/RS em 03 de março de 1927, tornando-se popular a partir de Passo Fundo/RS com a gravação da música "Coração de Luto", em 1961.
A vida de Teixeirinha foi uma explosão de sucessos, surpreendendo tanto a ele como ao meio empresarial que assistia o fenômeno deste disco. Teve mais de 700 canções gravadas, 69 LPs editados e um acervo de 1.200 composições. Manteve por mais de 20 anos programas radiofônicos conhecidos tanto no Rio Grande do Sul como em outras rádios pelo Brasil.
Graças ao sucesso da música "Coração de Luto", foi convidado pela Leopoldis Som (1967) a encenar a história da música. Achou que o cinema seria apenas mais uma experiência, mas os fãs pediram mais e, depois de "Motorista Sem Limites" (1969) de Itacir Rossi, acaba por tornar-se produtor e ator de mais de 10 filmes:
  • Ela Tornou-se Freira - 1970
  • Teixeirinha Sete Provas - 1973
  • Pobre João - 1975
  • O Gaúcho de Passo Fundo - 1978
  • Meu Pobre Coração de Luto - 1978
  • Tropeiro Velho - 1979
  • A Filha de Iemanjá - 1980
Sempre teve convidados ilustres em seus filmes, tanto do cenário gaúcho como nacional, tais como Valter D'Ávila, Edith Veiga, Amélia Bittencourt, Darci Fagundes, Ricardo Hoeper, Dimas Costas e as presenças constantes de Vânia Elizabeth, Suely Silva e Jimmy Pipiolo, entre outros nomes.
Segundo o próprio Teixeirinha, seu sucesso se deve à simplicidade com que ele escrevia suas músicas: "Eu canto para o povo" e "Onde o povo for, eu vou". Assim, ele cantou sua música por todo o Brasil, América do Sul, Estados Unidos e Canadá. Seus discos são editados nas colônias portuguesas de todo o mundo, tendo recebido de Portugal o troféu Elefante de Ouro.
Sua carreira durou 27 anos, recebeu inúmeros troféus, discos de ouro, títulos de cidadão emérito e, após seu falecimento em 04 de dezembro de 1985, outras várias homenagens.
Na entrada da cidade de Passo Fundo, foi erguido um monumento de sua figura e, em dezembro de 1999, a RBS TV lhe outorgou o mérito como um dos "Vinte Gaúchos que Marcaram o Século XX", a partir de votação popular, como um dos nomes mais ilustres do Rio Grande do Sul.
Teixeirinha, como todo ídolo, não morre. Seus sucessos como Coração de Luto, Gaúcho de Passo Fundo, Tordilho Negro, O Colono, Xote Soledade, Gaúcho Amigo, Tropeiro Velho e Querência Amada, permanecem no canto do Rio Grande do Sul e além fronteiras.
(texto fornecido pela Fundação Vitor Mateus Teixeira)

A você que Partiu

A você que Partiu


Partistes, mas continuas viva em nossos corações
e permanecerá viva a estrela que sempre brilhou em nosso lar.
Hoje senti sua falta, como sempre sinto. 
Senti saudades de mim, saudades de você, 
saudades de nós, saudades da minha felicidade, 
do seu sorriso, do seu viver. 
Hoje mais do que nunca senti sua falta. 
Falta dos teus olhos, 
falta dos meus olhos nos seus. 
Falta do seu olhar, 
falta da alegria no meu olhar. 
Hoje senti que preciso de você, 
senti sua falta. Falta de ouvir "amor meu", 
falta de ser o amor seu. 
Falta de 
ter com quem falar, 
falta de ter você comigo! 
Sinto saudades, saudades de você.
Saudades do seu carinho...
Saudades da sua certeza...
Saudades da menina, da mulher.
Saudades de você, amor meu...
Senti falta de ouvir que sou o amor seu... 
Hoje senti sua falta, como sempre sinto...
Saudade de você meu anjo

14-12-2008
Eterna Saudade

Eu