29 de julho de 2017

Página Não-Oficial do Teixeirinha Biografia



Página Não-Oficial do Teixeirinha
Biografia

VITOR MATEUS TEIXEIRA, Teixeirinha, nasceu na cidade de Rolante, distrito de Mascaradas, Rio Grande do Sul, em 03 de março de 1927. Filho de Saturno Teixeira e Ledurina Mateus Teixeira, teve um irmão e duas irmãs.
Aos seis anos de idade perdeu o pai e aos nove anos a mãe. Ficando órfão foi morar com parentes, mas estes como não tinham condições de sustentá-lo, saiu pelo mundo fazendo de tudo um pouco, como: trabalhou em granjas do interior e quando veio para Porto Alegre carregou malas em portas de pensões, vendeu doces como ambulante, entregador de viandas, vendeu jornais, enfim fazia qualquer atividade para poder sobreviver.
Com Dezesseis anos se auto-registrou como Cidadão Brasileiro. Aos dezoito anos se alistou no Exército, mas não chegou a servir, quando nesta ocasião foi trabalhar no DAER (Departamento de Estradas de Rodagem), como operador de máquinas durante seis anos. Dali saiu para tentar a carreira artística cantando nas rádios das cidades do interior, tais como: Lajeado, Estrela, Rio Pardo, Santa Cruz do Sul, nesta última conheceu sua esposa Zoraida Lima Teixeira. Casaram-se em 1957 e foram morar em Soledade, em seguida mudaram-se para Passo Fundo, onde compraram um “Tiro ao Alvo” que era cuidado por ele e sua esposa e a noite Teixeirinha se apresentava na Rádio Municipal de Passo Fundo.
Em 1959 foi convidado para gravar em São Paulo. Viajou na segunda classe de um trem. Gravou seu primeiro 78RPM, de um lado a música “Xote Soledade” e do outro lado “Briga no Batizado”.
Segundo depoimento de um dos membros da Gravadora Chantecler, Dr. Biaggio Baccarin, o sucesso assim aconteceu:
“A sigla PTJ, no 78 RPM, abrigava três nomes: Palmeira, Teddy e Jairo, então diretores da Chantecler e fundadores do selo sertanejo. Como se constata, “Coração de Luto” ocupou o lado “B” do quarto disco gravado por Teixeirinha, o qual foi lançado sem qualquer preocupação de sucesso, no entanto aconteceu espontaneamente após seis meses de seu lançamento. As primeiras reações vieram de Sorocaba/SP e em pouco tempo já era sucesso nas demais cidades da região. Foi nessa ocasião que a gravadora Chantecler resolveu trazer o cantor para São Paulo a fim de trabalhar o disco, cujo trabalho teve início com um show na cidade de Sorocaba/SP e, posteriormente, nas demais cidades do Estado de São Paulo, até o triângulo mineiro.

O sucesso aconteceu em todo o Brasil, com venda superior a um milhão de cópias no ano de 1961. Um acontecimento inédito na história da música popular brasileira. Para se ter idéia deste fato, o disco Coração de Luto chegou a ser vendido no câmbio negro em Belém do Pará, havia fila para comprá-lo. A gravadora não tinha condições de atender os pedidos e era obrigada a distribuir cotas para cada loja. O fato de Belém do Pará foi registrado pelo saudoso Edgard Pina, então agente da Chantecler naquela capital”.
Teixeirinha voltou a Passo Fundo, vendeu o “Tiro ao Alvo” e se mudou para Porto Alegre. Foi chamado novamente pela Chantecler, desta vez para morar na capital paulista e continuar a divulgação do sucesso de Coração de Luto, no entanto, recusou domiciliar-se em São Paulo, voltando para Porto Alegre.

Com o que ganhou na excursão em São Paulo, comprou uma casa, no bairro da Glória em Porto Alegre, onde viveu toda sua vida e uma Kombi para viajar por todo o Brasil. Então, definitivamente Teixeirinha assumiu a carreira artística, passando a trabalhar em circos, parques, teatros, cinemas e demais casas de espetáculos. Como o próprio cantor relatou em uma de suas últimas entrevistas à imprensa: “... onde o povo me pediu para estar, eu fui...”(RBS/TV- julho/1985).
Teixeirinha começou a viajar para todo o Brasil como o “Gaúcho Coração do Rio Grande”. Em 1963, ganhou o troféu “Chico Viola” outorgado pela TV Record de São Paulo, no programa “Astros do Disco”, um programa de gala da televisão brasileira e tinha por objetivo premiar os melhores dos disco de cada ano e Teixeirinha ganhou por ter sido o cantor campeão de vendagem por dois anos consecutivos, 1962/1963.
Internacionalmente ganhou o troféu “Elefante de Ouro” como maior vendagem de discos em Portugal.

A música Coração de Luto, até hoje, vendeu mais de vinte e cinco milhões de cópias, a única no mundo mais vendida, superando cantores como Michael Jackson, Julio Iglesias, cantores contemporâneos de grande vendagem de discos, mas não de uma única música, como o caso de Coração de Luto, que continua na cotação de uma das músicas mais vendidas.
Em 1964, Teixeirinha escreveu a história do filme “Coração de Luto”, que foi produzido pela Leopoldis Som, em 1966, outro recorde de bilheteria. Em 1969, encenou no filme “Motorista sem Limites” juntamente com Valter D’Avila, produzido por Itacir Rossi.
Em 1970 criou sua própria produtora “Teixeirinha Produções Artísticas Ltda, pela qual escreveu, produziu e distribuiu dez filmes, quais sejam: “Ela Tornou-se Freira” (1972); “Teixeirinha 7 Provas”(1973); “Pobre João” (1974); “A Quadrilha do Perna Dura” (1975); “Carmem a Cigana (1976); “O Gaúcho de Passo Fundo”(1978) ; “Meu Pobre Coração de Luto”(1978); Na trilha da Justiça (1978); “Tropeiro Velho” (1980); “A Filha de Iemanjá” (1981).
Durante vinte anos, apresentou programas de rádio diariamente com duas edições: “Teixeirinha Amanhece Cantando” (de manhã) e “Teixeirinha Comanda o Espetáculo” (a noite) e “Teixeirinha Canta para o Brasil”(domingos, pela manhã) em diversas rádios da capital, com transmissão para o interior e outros estados brasileiros.
Recebeu nove discos de ouro, foi cidadão emérito de vários municípios como: Passo Fundo, Santo Antônio da Patrulha, Rolante e etc.
Em 1973 foi contratado para fazer quinze apresentações nos Estados Unidos da América. Em 1975 foi para o Canadá, onde realizou dezoito espetáculos. Fez shows na maioria dos países da América do Sul.
Teve nove filhos: Sirley Marisa; Líria Luisa; Victor Filho; Margareth; Elizabeth; Fátima Lisete; Márcia Bernadeth; Alexandre e Liane Ledurina.
Durante vinte e dois anos Mary Terezinha lhe acompanhou com acordeon em shows, rádio e cinema.
Gravou 49 Lps inéditos, com mais de 70 Lps, incluindo regravações, atualmente sendo todos reeditados em disco laser, gravando mais de 700 músicas de sua autoria, deixando um acervo superior a 1200 composições de sua lavra.
Teixeirinha faleceu dia 04 de dezembro de 1985 e está sepultado no Cemitério da Santa Casa, quadra n.4, túmulo n.4, na capital gaúcha.



Teixeirinha nasceu em Rolante/RS em 03 de março de 1927, tornando-se popular a partir de Passo Fundo/RS com a gravação da música "Coração de Luto", em 1961.
A vida de Teixeirinha foi uma explosão de sucessos, surpreendendo tanto a ele como ao meio empresarial que assistia o fenômeno deste disco. Teve mais de 700 canções gravadas, 69 LPs editados e um acervo de 1.200 composições. Manteve por mais de 20 anos programas radiofônicos conhecidos tanto no Rio Grande do Sul como em outras rádios pelo Brasil.
Graças ao sucesso da música "Coração de Luto", foi convidado pela Leopoldis Som (1967) a encenar a história da música. Achou que o cinema seria apenas mais uma experiência, mas os fãs pediram mais e, depois de "Motorista Sem Limites" (1969) de Itacir Rossi, acaba por tornar-se produtor e ator de mais de 10 filmes:
  • Ela Tornou-se Freira - 1970
  • Teixeirinha Sete Provas - 1973
  • Pobre João - 1975
  • O Gaúcho de Passo Fundo - 1978
  • Meu Pobre Coração de Luto - 1978
  • Tropeiro Velho - 1979
  • A Filha de Iemanjá - 1980
Sempre teve convidados ilustres em seus filmes, tanto do cenário gaúcho como nacional, tais como Valter D'Ávila, Edith Veiga, Amélia Bittencourt, Darci Fagundes, Ricardo Hoeper, Dimas Costas e as presenças constantes de Vânia Elizabeth, Suely Silva e Jimmy Pipiolo, entre outros nomes.
Segundo o próprio Teixeirinha, seu sucesso se deve à simplicidade com que ele escrevia suas músicas: "Eu canto para o povo" e "Onde o povo for, eu vou". Assim, ele cantou sua música por todo o Brasil, América do Sul, Estados Unidos e Canadá. Seus discos são editados nas colônias portuguesas de todo o mundo, tendo recebido de Portugal o troféu Elefante de Ouro.
Sua carreira durou 27 anos, recebeu inúmeros troféus, discos de ouro, títulos de cidadão emérito e, após seu falecimento em 04 de dezembro de 1985, outras várias homenagens.
Na entrada da cidade de Passo Fundo, foi erguido um monumento de sua figura e, em dezembro de 1999, a RBS TV lhe outorgou o mérito como um dos "Vinte Gaúchos que Marcaram o Século XX", a partir de votação popular, como um dos nomes mais ilustres do Rio Grande do Sul.
Teixeirinha, como todo ídolo, não morre. Seus sucessos como Coração de Luto, Gaúcho de Passo Fundo, Tordilho Negro, O Colono, Xote Soledade, Gaúcho Amigo, Tropeiro Velho e Querência Amada, permanecem no canto do Rio Grande do Sul e além fronteiras.
(texto fornecido pela Fundação Vitor Mateus Teixeira)

A você que Partiu

A você que Partiu


Partistes, mas continuas viva em nossos corações
e permanecerá viva a estrela que sempre brilhou em nosso lar.
Hoje senti sua falta, como sempre sinto. 
Senti saudades de mim, saudades de você, 
saudades de nós, saudades da minha felicidade, 
do seu sorriso, do seu viver. 
Hoje mais do que nunca senti sua falta. 
Falta dos teus olhos, 
falta dos meus olhos nos seus. 
Falta do seu olhar, 
falta da alegria no meu olhar. 
Hoje senti que preciso de você, 
senti sua falta. Falta de ouvir "amor meu", 
falta de ser o amor seu. 
Falta de 
ter com quem falar, 
falta de ter você comigo! 
Sinto saudades, saudades de você.
Saudades do seu carinho...
Saudades da sua certeza...
Saudades da menina, da mulher.
Saudades de você, amor meu...
Senti falta de ouvir que sou o amor seu... 
Hoje senti sua falta, como sempre sinto...
Saudade de você meu anjo

14-12-2008
Eterna Saudade

Eu

7 de julho de 2017

Amor ao Contrário



Amor ao Contrário





Não te amo mais.
Estarei a mentir ao dizer que,
Ainda te quero como sempre quis.
Tenho certeza que
Nada foi em vão.
Sinto dentro de mim que
Tu não significas nada.
Não poderei dizer jamais:
«-Alimento um grande amor».
Sinto cada vez mais que
Já te esqueci!
E jamais usarei a frase
Eu Amo-te!
Sinto muito… mas tenho que dizer a verdade.
É tarde demais!

Aqui e Agora



Aqui e Agora


Às vezes, sinto que gostavas de apagar, para sempre, todos os traços do meu passado como se nunca tivessem existido, da mesma forma que me pedes para guardar debaixo do forro de papel da gaveta, as fotografias das mulheres que conheci. Sei que o meu passado te pesa cada vez que o presente o resgata, em telefonemas rápidos e cordiais que vou recebendo de outras mulheres que já passaram pela minha vida e com quem criei esse laço raro e difícil que sucede à desordem do amor quando este se extingue depois da dor e o segredo da pele já se esgotou. Em vão te explico que essas mulheres passaram com a leveza de uma pena ou a intensidade de uma tempestade. Nunca as vejo, mas também não preciso, primeiro porque a minha vida és tu, e por isso não fazem parte dela e depois porque em todas elas descobri coisas de que não gostava e foi isso que me ajudou a amar-te melhor.
Mas vocês não percebem isto nos homens; chamam-nos predadores, animais, insensíveis, como se não tivéssemos honra nem princípios nem coração. Nenhum homem quer magoar uma mulher, olhamo-vos com um misto de medo, admiração e incompreensão e se pudéssemos, construíamos um pedestal e uma escada para vocês subirem, mesmo que seja por escassas semanas. O que damos é o que temos de melhor, sem pensar porquê, nem como, nem até quando.
Mas vocês não, têm sempre que questionar tudo, inventar segredos e intenções em cada movimento que fazemos.
O que conta é o que vivo contigo, aqui e agora, que a pureza de sentir é não ter que pensar que amanhã ficarei triste se partires, e feliz se ainda me quiseres guardar, por isso, esquece o passado e não temas o futuro, porque tudo e nada está nas nossas mãos e é por isso que para nós o amor é uma coisa fácil, simples e transparente. Ou se ama, ou não se ama, e se eu sinto que te amo, sem ter de pensar se é verdade ou não, é porque deve mesmo ser, não achas?

Artista de Circo, Margarida Rebelo Pinto


São Paulo, 8 de agosto de 2001.






São Paulo, 8 de agosto de 2001.



Hoje sou um povo e uma cidade inteira.
Vestido de branco, roupa de luto segundo o candomblé, para levar Jorge Amado ao Jardim da Saudade.
É velado Jorge no dia do aniversário de Caetano Veloso.
Rito de passagem bem óbvio para não deixar dúvida em gente obtusa
no que os céus querem dizer.
O que há de comum entre os dois (Caetano e Jorge) é o prazer pela
vida e o amor pela Bahia.
Os dois sempre cantaram e escreveram sobre ela, mas, sobretudo,
desfrutaram-na.

O destino foi bom comigo e fez deles meus amigos. Mais Caetano,
até pela idade, e menos Jorge.

No dia em que eu e Jorge Amado nos conhecemos, pela mão de
Ludmila Guimarães, amiga mútua, fui visitá-lo em seu apartamento
em Paris.

Ele me levou para almoçar em um restaurante vizinho ao apartamento.
Andando pelas ruas do bairro, senti que Jorge tinha transformado o
Marais no Rio Vermelho (bairro onde ambos moravam em Salvador).

Ele conhecia o cabeleireiro, o açougueiro e era saudado efusivamente
por todos, numa conversa ruidosa própria da Bahia.

Fui pelo caminho pensando algo bem culto para impressionar Jorge
Amado. Para mostrar a ele como eu era inteligente.

Quando finalmente chegamos ao restaurante e sentamos à mesa o
mais teimoso escritor do Brasil, nome mundial Senhor do Rio Vermelho
e do Marais, me disse:

   - Mas Nizan, como é enorme a bunda de Mãe Cleusa!!!!!
Depois de um almoço assim tão profundamente intelectual e delicioso
fui a Fauchon e comprei um licor de 1912, ano em que Jorge nasceu.

No fim da tarde, visivelmente emocionado, Jorge Amado me ligou
para agradecer. Eu, que sou tímido com meus ídolos, me escondia.
Aos grandes a gente não dá, a gente devolve.

E a você Jorge vou fazer seu axéxé, abraçando e beijando Caetano.
Respeitando o fluxo da vida que Nosso Senhor mandou.
Desfrutando mais a Bahia e cultivando-a como você nos ensinou.

E tentando transformar qualquer pedaço do mundo, como você fez,
num delicioso pedaço de Salvador.


"O escritor é um aprendiz do seu
ofício até que deixe de escrever."

Jorge Amado
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Caravelas da globalização









Caravelas da globalização

Quinto maior investidor no país, Portugal
exporta executivos para o Brasil, onde a
colônia se reduz em tamanho, mas não em
 importância


A história da imigração portuguesa no
país se confunde com a própria
formação do povo brasileiro. Se
Cabral, ao lançar âncoras no litoral
baiano em 1500, só pretendia
estabelecer um entreposto mercantil
de Portugal, logo aportariam seus
patrícios, como João Ramalho e
Diogo Álvares Correia, com planos de permanência e
dispostos a fundar uma nova raça. Desde então, o
exemplo foi seguido por mais de 3 milhões de lusitanos,
hoje reduzidos a aproximadamente um décimo (300 mil).

A herança lusitana vai muito além das estatísticas. Ela se perpetua na arquitetura das cidades coloniais, a exemplo de Ouro Preto, Olinda, Parati, São Luís e Rio de Janeiro. Na língua falada em todo o país e na religiosidade. Está presente em vários aspectos do cotidiano, como na culinária - muitos doces mineiros são criação portuguesa - e na cachaça, nascida como subproduto da primeira empresa agrícola nacional, o engenho de açúcar. A herança tem raízes bem fincadas nos campos de futebol, onde o Vasco da Gama e a Portuguesa de Desportos são destaque. Com base nessa identidade, não é de estranhar que, em plena globalização, os portugueses tenham eleito o Brasil como o principal porto de seus investimentos no Exterior. Como os primeiros navegadores, os imigrantes que continuam a chegar de além-mar, embora em número bem menor, querem provar que ainda sabem fazer a América melhor que ninguém.

Vai longe o tempo em que o retrato mais bem acabado do imigrante português no Brasil era o daquele senhor bigodudo e afável, metido em camiseta e calçado em tamancos, atrás de um balcão de botequim ou padaria. Era o imigrante clássico, personagem bonachão conhecido de todos os brasileiros que os anos cuidaram de reduzir a mera caricatura. Hoje, os patrícios chegam d'além-mar em ternos bem talhados, passeiam com desenvoltura pelos salões mais requintados da elite econômica e disputam palmo a palmo com empresários de outros países o topo do ranking dos investimentos externos no país. Quinhentos anos depois de Cabral, Portugal já ocupa a quinta posição na lista dos maiores investidores em solo brasileiro. Perde apenas para os Estados Unidos, a Alemanha, a França e quase ganha da Espanha. Deixa para trás vizinhos europeus poderosos como a Itália e potências como o Canadá.

É transformação recente. Ocorreu nos últimos três anos. Segundo o Ministério da Economia de Portugal, que mantém em São Paulo uma representação do Departamento de Investimentos, Comércio e Turismo (Icep), cerca de 180 empresas vieram para cá nesse período. São gigantes como o grupo Sonae, holding da terceira maior rede de supermercados do Brasil (Big, Cândia e Mercadorama). Ou como a Cervejaria Cintra, já instalada em Mogi Mirim (SP) e a caminho de Campos (RJ). Ou ainda como a Caixa Geral de Depósitos, imagem e semelhança da Caixa Econômica Federal brasileira, que comprou aqui o Banco Bandeirantes. Somadas a outras dezenas de empreitadas - pequenas e grandes -, os portugueses já investiram US$ 7 bilhões na ex-colônia nestes três anos. A cifra corresponde a 40% de todos os investimentos de Portugal mundo afora. Nota atrás de nota, a fila de dólares atravessaria o Atlântico numa ponte imaginária entre Lisboa e Porto Seguro, a primeira parada de Cabral, em 1500.

Nesse oceano de dólares, R$ 1 bilhão veio de um grupo, o Sonae. Vicente Dias, 47 anos, diretor de marketing do grupo, conta que o Brasil se tornou "destino prioritário" dos investimentos portugueses por "afinidades culturais". O Sonae chegou em 1996. Emprega 24 mil brasileiros em São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. O faturamento bruto este ano deve chegar a R$ 3,5 bilhões. "Ainda estamos na fase de investimentos pesados", diz Vicente. Num tempo em que "navegação" não é mais sinônimo de caravelas, mas de Internet, demonstrações como essa apontam para uma espécie de Redescobrimento do Brasil. Há coincidências. Como Cabral e seus marinheiros do 22 de abril de 1500, nem todos os viajantes portugueses do ano 2000 vêm para ficar. Chegam, estabelecem negócios, deixam meia dúzia de patrícios representantes e voltam para a Península Ibérica.

É o caso de José Manuel Romão Mateus, de 42 anos, presidente da Telesp Celular, arrematada pela Portugal Telecom em leilão de privatização, em julho do ano passado, por US$ 3,1 bilhões. "Ficarei três anos aqui", conta ele. "Para depois disso, não faço planos." A empresa está há 14 meses sob o comando de Romão. O tempo é curto, mas ele já coleciona resultados invejáveis. Só no primeiro semestre de 1999, a receita operacional líquida bateu R$ 1,016 bilhão - 32% maior que a do mesmo período do ano anterior. Os portugueses foram pioneiros no Brasil no lançamento do celular pré-pago.






Identidade redescoberta



Identidade redescoberta

Capitais do Nordeste investem alto para
 recuperar centros históricos degradados e
assim incentivar o turismo cultural

sol presente o ano todo e as praias paradisíacas já não são as únicas atrações turísticas das capitais do Nordeste. Às vésperas dos 500 anos do Descobrimento, as metrópoles da região transformam seus centros históricos em canteiro de obras com especial interesse no turismo cultural. Mais do que salvar casarios coloniais das ruínas, estão dando vida nova a bairros inteiros, antes guetos de decadência econômica e prostituição. Esses sítios, ruas e praças já reformados são hoje concorridos palcos de shows e feiras culturais. Bares e restaurantes da moda, instalados em velhos armazéns reestilizados, estão formando novos pólos de agitação noturna. Como resultado, o valor dos imóveis multiplicou.

Assim ocorreu no Pelourinho, em Salvador - um dos primeiros megaprojetos de revitalização a sair do papel, no início dos anos 90. O exemplo baiano foi seguido pelos vizinhos. No Recife, o alvo inicial foi o casario da Rua do Bom Jesus, a mais famosa do velho bairro portuário onde se instalou o governo holandês no século 16. Com a deterioração, o antigo centro econômico da cidade virou reduto de prostíbulos. No imóvel em que um deles funcionava aloja-se hoje o London Pub, animada casa de jazz e blues. "O centro histórico tornou-se o melhor local para se investir em entretenimento", afirma André Lubambo, dono do bar e de uma creperia recém-inaugurada na Rua do Bom Jesus, além de presidente de uma associação que reúne 79 restaurantes no bairro. "Eram apenas 12 antes da reforma, todos com uma casa de prostituição ao fundo", conta o empresário.

Só nesta década, 200 edificações do bairro foram restauradas. Algumas obras estão em fase de conclusão, como a da Torre Malakoff, observatório astronômico erguido em 1853 como portal de entrada da cidade. As ruas ganham luminárias imitando antigos lampiões a gás e o armazém da alfândega passa por reformas para abrigar um shopping center. As despesas serão cobertas com parte dos R$ 200 milhões destinados este ano ao Brasil pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) para a restauração do patrimônio histórico. A verba também será aplicada na instalação de um complexo de cinemas no prédio da velha boate Chantecler, outrora palco das mais concorridas festas do Recife. Para estimular novos negócios no bairro, a prefeitura concede desconto de 10% a 25% nos impostos.

O modelo recifense foi seguido por João Pessoa. O núcleo original da cidade - a terceira mais antiga do Brasil, fundada em 1585 - situa-se no entorno do Porto do Capim, desativado desde a década de 30. Hoje em ruínas, o local está sendo recuperado para permitir passeios a barco no estuário do Rio Sanhauá. Saindo do porto, 50 metros de caminhada numa ladeira estreita e íngreme levam ao largo da setecentista Igreja São Pedro Gonçalves, em obras. Ao lado situa-se o prédio do antigo Hotel Globo, o principal da cidade desde sua criação, nos anos 20, até o final dos 50. No imóvel em estilo neoclássico e art noveau, agora recuperado, funciona um centro cultural. A reforma foi feita pelos alunos da Oficina-escola de João Pessoa, moças e rapazes de baixa renda que trabalham por salário mínimo e comida.

Dali, descendo por uma ladeira lateral, chega-se à Praça Anthenor Navarro, onde 13 sobrados foram transformados em ateliês de arte, livrarias e bares hoje freqüentados por consumidores de alto poder aquisitivo. No novo complexo de vida noturna, os aluguéis triplicaram. O êxito da iniciativa fez com que o projeto de recuperação fosse estendido ao Teatro Santa Roza, o terceiro mais antigo do país, e à Estação Ferroviária, hoje endereço de feiras culturais e festas alternativas do tipo rave.





Além de recuperar áreas
 deterioradas, em Fortaleza a
prefeitura decidiu construir um
 centro cultural, de linhas
futuristas, entre os antigos
 armazéns da zona portuária.
Inaugurado este ano, ao custo de
 US$ 25 milhões, o Centro Dragão
do Mar abriga museus, salas de
 exposição, auditórios, cinemas e
planetário, instalados no prédio
 em ziguezague que serpenteia no
bairro. Perto dali, o casario
 vizinho à orla da Praia de
Iracema, depois de remodelado,
passou a atrair bares, animados
pelo forró.




Mais ousada foi a estratégia
adotada por Maceió. Atraída pela
 isenção tributária, a Universidade Estácio de Sá, do Rio,
 aliou-se a um colégio local para criar um centro de ensino superior em um antigo bordel, no bairro histórico do Jaraguá. A faculdade terá, já em janeiro, 1.800 alunos em três turnos. De olho nessa clientela, vão se instalar ali livrarias, lanchonetes, cinemas. Cerca de R$ 22 milhões estão sendo investidos na restauração dos prédios em geral.

A velha Rua Sá e Albuquerque, espinha dorsal do bairro, roubou a efervescência noturna da orla marítima. Hoje, os principais endereços da diversão em Maceió são a boate Aeroporco e o bar Casa da Sogra, instalados em antigas lojas de ferragens e armazéns portuários no Jaraguá. Grande exportador de fumo e açúcar no século 16, o porto conserva resquícios de seu esplendor, como o prédio neoclássico da Associação Comercial. A decadência do açúcar resultou em abandono. Restaurado, o prédio será reaberto neste mês, com escritórios e um museu sobre a formação socioeconômica do Nordeste.

Por exigência das agências financiadoras, a revitalização dos centros históricos deve vir acompanhada de melhorias na infra-estrutura urbana. São Luís é um exemplo. Patrimônio da Humanidade, a capital maranhense ostenta um dos maiores núcleos históricos do país, com 3.500 edificações em 270 hectares. Fundada em 1612 pelos franceses, a cidade tornou-se pólo comercial na Colônia e atraiu famílias abastadas, cujas propriedades costumavam ter fachadas com azulejos portugueses, transportados como lastro nas caravelas. No início deste século, a estagnação econômica e o colapso da navegação à vela fizeram do centro histórico celeiro de cortiços e prostíbulos. "Como não havia dinheiro sequer para demolição, muitos prédios dos séculos 17 a 19 permaneceram intactos", conta Luis Felipe Andrés, coordenador do projeto de restauração.

Nos últimos dez anos foram gastos US$ 95 milhões na reforma do bairro da Praia Grande, hoje palco de atrações culturais na cidade. A fase inicial, beneficiando mil imóveis em ruínas, reconstruiu a paisagem urbana do século 19, sem ignorar a bela igreja neoclássica construída pelos jesuítas no século 17. Com o reforço de US$ 46 milhões recebido do BID pela prefeitura este ano, uma antiga fábrica de arroz, movida pela força das marés no século passado, está sendo recuperada para abrigar um estaleiro-escola para 200 alunos. Os andaimes e tapumes chegam agora ao antigo casarão de Lilah Lisboa, promotora dos saraus mais animados da cidade no século passado. A majestosa casa, hoje deteriorada, será sede da Escola de Música de São Luís. Um dos vizinhos é Tomás Cantuária, 72 anos, o último alfaiate da Rua de Nazaré, famosa por acolher dezenas de costureiros no passado. O negócio não pode morrer. A diversificação das atividades é o segredo para tornar o bairro dinâmico e viável economicamente. A força da História e o glamour da arquitetura garantem o resto.

Sérgio Adeodato, do Recife
Fotos: Roberto Setton/Época