A mãe de São Pedro
Era muito velhinha e má a mãe de São Pedro.
Egoísta, não fazia favor, nem prestava socorro a ninguém. De
lhes sobravam jantares, preferia vê-los mofar a atirá-los aos próprios cães.
Por seu gênio intratável e mau, ao morrer não quis Deus que São Pedro lhe
abrisse as portas do céu àquela alma, condenando-a, por milhares e milhares de
séculos, às chamas purificadoras do purgatório, benévolo castigo que impunha à
velha em atenção ao filho.
Apelou, porém, o santo porteiro para a solidariedade divina,
e, após muitos rogos, permitiu Deus a entrada, no céu, da alma da egoísta
velha, com a condição, porém, de subir por uma trança de cebolas, que seria
lançada por São Pedro.
Agarrou-se a velha à frágil concessão; mas como às saias se
agarraram outras almas para também aproveitar o favor divino - não por medo da
sobrecarga, mas por não querer que subisse com ela as outras - tanto esperneou
que, por fim, estalou, ao meio, a trança.
Voltou São Pedro à presença de Deus e rogou-lhe nova trança,
mas o Eterno negou-se formalmente a dar-lhe, e afinal por muita intercessão de
Jesus, forneceu-lhe apenas tenra folha de cebola.
Diante de tão frágil meio assustou-se a mãe de São Pedro.
Agarrou-se porém, a ela, jurando a si mesma nem sequer bulir para não arrebentá-la,
mas o seu egoísmo a perdeu. Ao sentir que outras almas lhe agarravam às veste,
entrou a dar coices e rebentou a frágil folha de cebola pela qual deveria subir
ao céu e não foi. Continua no purgatório a pagar suas culpas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário