4 de junho de 2018

Bezerra da Silva

Tributo a Bezerra da Silva







Bezerra da Silva

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Bezerra da Silva
Informação geral
Nome completoJosé Bezerra da Silva
Também conhecido(a) comoEmbaixador dos morros e favelas
Voz do morro
Nascimento23 de fevereiro de 1927
Local de nascimentoRecifePernambuco
Brasil
Data de morte17 de janeiro de 2005 (77 anos)
Local de morteRio de JaneiroRJ
Brasil
Gênero(s)Sambapartido-altococo
Instrumento(s)Vocalviolãopercussão
Período em atividade19742005 (31 anos)
Outras ocupaçõesPercussionistacompositor
Gravadora(s)RCABMGCIDTapecar
Afiliação(ões)DicróMoreira da SilvaRegina do Bezerra
Influenciado(s)Marcelo D2[1]
José Bezerra da Silva (Recife23 de fevereiro de 1927 — Rio de Janeiro17 de janeiro de 2005) foi um cantorcompositorviolonistapercussionista e intérprete brasileiro dos gêneros musical coco e samba, em especial de partido-alto.
No princípio, dedicava-se principalmente ao coco até se transformar em um dos principais expoentes do samba nos anos seguintes.[2]Através do samba, cantou sobre os problemas sociais encontrados dentro das comunidades, se apresentando no limite da marginalidade e da indústria musical. Estudou violão clássico por oito anos e passou outros oito anos tocando na orquestra da Rede Globo, sendo um dos poucos partideiros que lia partituras.[3]
Gravou seu primeiro compacto em 1969 e o primeiro disco em 1975, de um total de 28 álbuns lançados em toda a carreira que, somados, venderam mais de 3 milhões de cópias.[3] Ganhou 11 discos de ouro, 3 de platina e 1 de platina duplo.[4] Apesar de ter sido um dos artistas mais populares do Brasil, foi um artista bastante ignorado pelo "mainstream".[nota 1]

    Biografia

    Primeiros anos

    Filho de família pobre, Bezerra da Silva nasceu no Recife em 23 de fevereiro de 1927. Sua mãe, Hercília Pereira da Silva, foi abandonada pelo marido, Alexandrino Bezerra da Silva, quando estava grávida do filho.[2] Aos 15 anos de idade, depois de ser expulso da Marinha Mercante, Bezerra da Silva viajou para o Rio de Janeiro, com o objetivo de procurar o pai e fugir da pobreza.[2] Fez a viagem em um navio que carregava açúcar e estava apenas com a roupa do corpo.[3] Teria encontrado o pai, mas com mais atritos com o pai, acabou ficando sozinho.[carece de fontes]
    Passou então a trabalhar na construção civil como pintor de paredes e tinha como endereço a obra na zona central da cidade, onde exercia sua profissão.[3] Pelos idos de 1949, começou a se enamorar de uma "dona" e foi morar com ela no Morro do Cantagalo, na Zona Sul.[3]

    Boemia, detenções e queda

    Juntamente com o trabalho de pintor, começou a desenvolver a verve musical, a partir do coco de Jackson do Pandeiro, e logo ingressou na bateria do bloco carnavalesco Unidos do Cantagalo, tocando tamborim.[3][5] Em 1950, conheceu Doca,[nota 2] também morador do Morro do Cantagalo, que o convidou para participar do "Programa da Rádio Clube do Brasil", onde Bezerra participava como ritmista — além do tamborim, tocava surdo e instrumentos de percussão em geral.[3] Boêmio e malandro, foi detido dezenas de vezes pela polícia e acabou desempregado em 1954.[2] Durante muitos anos viveu como morador de rua em Copacabana, quando chegou a tentar o suicídio, mas foi salvo e acolhido em um terreiro de umbanda. Lá, descobriu sua mediunidade e soube, através de uma mãe-de-santo, que o seu destino era a música.[2]

    Renascimento com a música

    Convencido de que não deveria mais procurar trabalho no ramo da construção civil, reinventou sua vida como músico profissional e compositor.[nota 3]
    Sob o nome artístico José Bezerra, teve as composições "Acorrentado" e "Leva teu gereré", em parceria com Jackson do Pandeiro, lançadas no primeiro álbum da carreira do pernambucano, em 1959. Na primeira metade da década de 1960, ingressou na orquestra da gravadora Copacabana Discos, que acompanhava vários artistas de renome, e também teve novas composições, assinadas com outros músicos, gravadas por Jackson do Pandeiro, como "Meu veneno" (com Jackson do Pandeiro e Mergulhão), "Urubu molhado" (com Rosil Cavalcanti), "Babá" (com Mamão e Ricardo Valente), "Criando cobra" (com Big Ben e Odelandes Rodrigues) e "Preguiçoso" (com Jackson do Pandeiro). Em 1965, a cantora Marlene gravou "Nunca mais", uma parceria de Bezerra com Norival Reis.
    Em 1967, compôs seu primeiro samba, chamado "Verdadeiro amor", que foi gravado por Jackson do Pandeiro naquele ano.

    Primeiros discos

    No final daquela década, mudou o nome artístico para Bezerra da Silva e, em 1969, gravou um compacto simples pela Copacabana Discos, com as músicas "Mana, cadê meu boi?" e "Viola testemunha".[5]
    Seu primeiro LP,"Bezerra da Silva - O Rei do Coco Volume 1", seria apenas lançado em 1975, pela gravadora Tapecar, e teve como destaque a canção "O rei do coco". No ano seguinte, pela mesma gravadora, lançou "Bezerra da Silva - O Rei do Coco Volume 2", cujo maior destaque foi "Cara de boi".[5]

    Fama

    A partir da série Partido Alto Nota 10 começou a encontrar o público. O repertório dos discos passou a ser abastecido por autores anônimos (alguns usando codinomes para preservar a clandestinidade) e Bezerra. Antes do Hip Hop brasileiro, ele passou a mostrar a sua realidade em músicas como: "Malandragem Dá um Tempo", "Sequestraram Minha Sogra", "Defunto Caguete", "Bicho Feroz", "Overdose de Cocada", "Malandro Não Vacila", "Meu Pirão Primeiro", "Lugar Macabro", "Piranha", "Pai Véio 171", "Candidato Caô Caô". Em 1995 gravou pela gravadora CID "Moreira da Silva, Bezerra da Silva e Dicró: Os Três Malandros In Concert", uma paródia ao show dos três tenores, Luciano PavarottiPlácido Domingo e José Carreras.

    Anos finais

    Em 2001 tornou-se evangélico neopentecostal da Igreja Universal do Reino de Deus.[6] Em 2005, perto da morte, mas ainda demonstrando plena atividade, participou de composições com Planet HempO Rappa e outros nomes de prestígio da Música Popular Brasileira.
    Em setembro de 2004, foi internado em uma clínica privada do Rio de Janeiro, quando foi diagnosticado com pneumonia e enfisema pulmonar e chegou a ficar por quase uma semana em coma.[7] Um mês depois, o sambista passou mal novamente. Foi levado pelo Corpo de Bombeiros de seu apartamento, no bairro de Copacabana (zona sul carioca), ao Hospital dos Servidores do Estado, onde foi internado com problemas pulmonares e faleceu em 17 de janeiro de 2005, aos 77 anos.[8][9][10]
    Ainda naquele ano, teve lançado postumamente seu disco evangélico Caminho de Luz, que vinha sendo preparado nos últimos anos da vida do sambista.[8][10]

    Vida pessoal

    Foi casado com Regina de Oliveira, que também foi sua empresária e até mesmo uma de suas compositoras, sob o pseudônimo de Regina do Bezerra.[9]
    Antes de se tornar cristão evangélico ao final da vida, Bezerra foi por décadas ligado à umbanda e assíduo frequentador do terreiro do Pai Nilo, em Belford Roxo.[3]
    Um de seus filhos, Ytallo Bezerra da Silva, também seguiu a carreira de músico.[11]

    Legado

    O sambista pernambucano foi tema do livro "Bezerra da Silva - Produto do Morro", de Letícia Vianna, lançado em 1998.[carece de fontes]
    O rapper Marcelo D2 lhe prestou homenagem quando lançou em 2010, pela gravadora EMI, o álbum "Marcelo D2 canta Bezerra da Silva", no qual perfilou parte da obra interpretada pelo sambista.[carece de fontes]
    Em 2012, foi lançado o documentário "Onde a coruja dorme", de Márcia Deraik e Simplício Neto, que destaca os compositores de suas músicas, trabalhadores anônimos, que abordavam em suas letras temas da realidade brasileira como o malandro, o otário, o alcaguete, a maconha. O filme teve origem no curta-metragem homônimo, lançado onze anos antes.[12]
    Outro legado é o incontestável e único estilo do típico malandro carioca com seu boné brad brim estampado até hoje inspira muitos admirados em rodas de samba.[carece de fontes]

    Obra

    Temática

    Os principais temas de suas canções foram a vida do povo e os problemas da sociedade e das favelas, como a exploração e a opressão sofridas pelos trabalhadores, a malandragem e ladrões à margem da lei, a questão do uso de drogas como a maconha e a condenação à caguetagem (delação de companheiros).[13] "Essas músicas que eu canto são de compositores que são servente de pedreiro, camelô, outro tá desempregado, outro limpa o carro da madame e a mulher é a cozinheira."[14]

    Discografia

    Notas

    1. Ir para cima Uma prova disso é que ele só tocou no Canecão, uma das mais tradicionais casa de espetáculos do país, em 1996, depois de duas décadas de uma carreira de consecutivos sucessos.[3]
    2. Ir para cima José Alcides, ou Doca, é mais conhecido por um dos autores da música "General da banda" (ao lado de Tancredo Silva e Sátiro de Melo)
    3. Ir para cima Como ele próprio explica, sua ligação com o mundo musical se deu por causa do "medo da fome". Diz também que a única saída que tinha era "lutar por dias melhores", pois "tinha dias que trabalhava e não comia". Não se cansa de afirmar que saiu da construção civil porque achava que algum dia iria "virar uma escada, um tijolo, um saco de cimento".[3]

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