Nunca vemos o amor chegar; só o vemos a
ir-se embora. Estou numa estação de comboios, sentada num banco de pau,
completamente só. Perdi o teu comboio e não quero apanhar nenhum outro. Está
frio. Um vento seco e cortante faz com que me encolha como um bicho da conta.
Já não sonho, já não há dádiva, os dias voltaram a ser cinzentos e tristes.
Agora são todos iguais, sempre iguais. Trabalho, respiro, durmo e como o melhor
que posso e sei, e tento esquecer-te. Deixei de falar de ti e de dizer o teu nome,
deixei de o desenhar no espelho da casa de banho, quando o vapor inunda todas
as superfícies. Em vez disso, tenho o coração embaciado de dúvidas e o olhar
desfocado pelo absurdo do teu silêncio continuado, o olhar de quem aprende a
adaptar-se a uma luz desconhecida, a uma nova realidade.
Respeito o teu silêncio porque ainda me
sobra uma ponta de orgulho, porque sempre te disse que uma força imensa me
empurrava para ti – I will always run to you but never after you, lembras-te?
Por isso, e porque sei que não queremos
guardar mágoa um do outro, tento esquecer-te devagar, sem te odiar, porque o
ódio também é uma forma desesperada de amar ainda e sempre aqueles que já não
podemos ter ao nosso lado.
Diário da Tua Ausência, Margarida Rebelo
Pinto
Nenhum comentário:
Postar um comentário