8 de agosto de 2020

A dor de Hebe

 

A dor de Hebe


A apresentadora, que não assumia compromissos no final de semana para ficar com Lélio Ravagnani, perde o companheiro de 25 anos

Paula Quental e Rose Delfino

Marina Malheiros/AE


“Infelizmente não posso mais ter Lélio. Jesus o quer ao seu lado”, diz Hebe

Louco por chocolates, o empresário Lélio Ravagnani tinha de comê-los de forma comedida. Como quem administrava a saúde do marido com pequenas porções de carinho, a cada noite Hebe Camargo colocava três bombons importados na sua mesa de cabeceira. Há 23 dias este ritual afetivo foi interrompido -- e desta vez para sempre. Lélio Ravagnani, companheiro há 25 anos da mais tradicional apresentadora da televisão brasileira, morreu aos 78 anos, às 16h20 de terça-feira 18, no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, onde estava internado. Na vida de Hebe, o que antes era doçura, será, por algum tempo, sofrimento. Nos próximos dias, ninguém mais vai ouvir suas sonoras gargalhadas.

“Agradeço o apoio de todos. Infelizmente não posso mais ter Lélio comigo. Jesus o quer ao seu lado”, disse Hebe durante o velório do marido, na noite de terça-feira 18. Os óculos escuros mal disfarçavam a profunda tristeza, o rosto inchado por um drama que começara no sábado 26 de junho, quando Lélio foi hospitalizado com dores no peito.

Ele tinha duas pontes de safena, que estavam obstruídas. Um exame de cateterismo revelou insuficiência coronária e Lélio foi submetido a uma cirurgia de urgência para irrigar o coração. Em 3 de julho, os médicos constataram o início de um processo de falência múltipla dos órgãos vitais, em função da precária circulação sangüínea. Em seguida, os rins pararam e foi tentada a hemodiálise. As funções do fígado e pulmão também estavam comprometidas. Entubado e sedado, Lélio foi enfraquecendo aos poucos.

Hebe perdia as esperanças à medida que o estado dele se agravava. A apresentadora deixou de ir ao hospital nos últimos dias porque não queria ver Lélio tão debilitado. “Ela dizia que era terrível encontrar um homem como ele, que sempre gostou das coisas boas da vida, entubado sem poder falar e se locomover”, relata Helena Mottin, amiga de longa data do casal. “Hebe saia do Einstein arrasada.” Em casa, diante do altarzinho de Nossa Senhora, rezava, embora soubesse que o quadro clínico do marido era irreversível. O boletim assinado pelo médico José Henrique Germann Ferreira deu como causa da morte a falência múltipla dos órgãos e sistemas.

Marina Malheiros/AE


Hebe Camargo, às 10h30 da quarta-feira 19, minutos antes do último adeus a Lélio

Hebe chegou ao velório do marido às 22 horas da terça-feira 18. Mais de uma vez, ela não conteve a emoção ao se debruçar sobre o esquife lacrado sobre o qual estava um retrato de Lélio desenhado a carvão pela filha, Leila, e datado de 7 de junho. Hebe chorou também ao ser abraçada pelo ex-governador Paulo Maluf. “Lélio era um exemplo de caráter e honestidade”, declarou Maluf.

Outros amigos como Silvia Poppovic, Carlos Alberto de Nóbrega, Olacyr de Moraes, Betty Szafir, Adriane Galisteu, Lolita Rodrigues e Fausto Silva levaram sua solidariedade à família. Xuxa e Roberto Carlos telefonaram, Alexandre Pires, Leonardo e o prefeito Celso Pitta mandaram coroas de flores. Consolando a madrinha da televisão, Adriane Galisteu pediu-lhe que não perca o brilho. “Ela é forte e saberá superar a tristeza”, disse. As espectadoras de seu programa no SBT, nas noites de segunda-feira, notaram como Hebe estava abatida. Apesar disso, os mais próximos acreditam que ela voltará rapidamente à televisão. “A melhor forma de enfrentar a dor é trabalhar. Vamos estimular esse retorno”, disse o empresário Olacyr de Moraes.

ÚLTIMO ADEUS
Lélio e Hebe faziam uma parceria e tanto, testemunham pessoas que conviviam com o casal. Ele era um eterno apaixonado, deixava bilhetinhos para ela quando saía cedo de casa, e sempre voltava para o almoço. Também a presenteava mesmo quando não havia qualquer motivo especial. Todas as sextas-feiras, os dois jantavam no restaurante O Leopolldo, um dos endereços chiques da cidade. Hebe usava seus novos vestidos e exibia jóias exuberantes. Lélio tomava seu uísque devagar, enquanto a mulher fulgurante distribuía atenção e sorrisos. Ao contrário dela, o empresário era introvertido, mas quando decidia falar, tinha sempre uma frase espirituosa. Era elegante, cortês mas impositivo. E Hebe respeitava seus desejos. Para estar com ele, nunca marcava compromissos nos finais de semana.

Lélio foi enterrado às 10 horas da quarta-feira 19, no Cemitério do Morumbi, depois de uma missa celebrada pelo padre José Stella. O cantor Sérgio Reis lamentava a perda: “Adorávamos pescar juntos”. Hebe, que passara a noite no velório, não acompanhou a cerimônia. Ficou em seu carro, uma Mercedes prateada, amparada pelo filho, Marcello. Mas juntou-se ao cortejo para o enterro, que foi rápido e silencioso. Ao final, ela tirou um botão de rosa de uma coroa, beijou a flor e a colocou sobre a lápide. Se para ele foi o final da agonia imprevista, para ela resta a saudade.

 

A BALEIA

 

A BALEIA

 

Eu vi a baleia

Graciosa, charmosa,

Numa dança do mar.

Parecia garbosa!

 

Ia bela. Tão dona,

De fato, do fato.

Coberta de azul,

Sem nem aparato!

 

Ingênua. Às vezes,

Teimosa da vida.

Subia, descia,

Nada aguerrida!

 

Tão grande e dócil!

Tão pouca. Tão viva!

Eu quero gritar:

"-Baleia, o barco já vem.

Se esconde no mar!"

 

Veio o homem ignaro,

Então, lançando o arpão.

Querendo matar,

Sem tempo de ouvir

A baleia chorar!

 

 

 

 

 

A capital das flores

 A capital das flores

 

Meio século depois da chegada ao Brasil, os holandeses formam no interior de São Paulo uma das mais bem-sucedidas colônias do país

 

 

Festa

Piet Schoenmaker, o coordenador do grupo de danças, chegou em 1959 

Na tarde do dia 14 de julho de 1948, ao fincar a primeira pá no solo da Fazenda Ribeirão, no município de Mogi Mirim, 144 quilômetros ao norte de São Paulo, o imigrante holandês Geert Heymeijer invocou ajuda divina. "Otrabalho que agora vamos iniciar é difícil e de grande importância. Rezemos um pai-nosso", proclamou. Era o começo da exploração das terras que viriam a se transformar, anos depois, em Holambra, uma das mais sólidas colônias de imigrantes do Brasil. A cidade, cujo nome é a junção das iniciais de Holanda, América e Brasil, abriga a maior comunidade holandesa do país e é conhecida pela vasta produção de flores e plantas ornamentais.

 

Não foi fácil no começo. Eles chegaram à região depois do fim da Segunda Guerra Mundial para escapar das dificuldades impostas pela destruição da Europa. As terras na Holanda ficaram muito caras e a legião de desempregados não parava de crescer. OBrasil foi o destino escolhido porque era um dos poucos países que aceitavam receber grupos de estrangeiros, facilitando a formação de colônias. Outro ponto a favor: deu-se prioridade a um país católico, porque a imigração era apoiada pela Organização dos Lavradores e Horticultores Católicos da Holanda.

 

"Nossa chegada foi cercada de problemas", recorda-se Wilhelmus Welle, de 85 anos, um dos primeiros a se aventurar no novo país. "A língua era difícil, o clima diferente e a região muito pobre, faltava tudo." Ao chegar à fazenda, os imigrantes eram acomodados em casas de taipa. Não tinham móveis, eram infestadas de cobras, aranhas e insetos. Os caminhões de mudança demoravam seis semanas para ir do Porto de Santos a seu destino, e, no caminho, grande parte dos pertences se quebrava. Welle lembra que os colonos brincavam à noite para ver quem encontrava mais cobras debaixo da cama.

 

As dificuldades não se restringiam à falta de conforto ou à nova realidade inóspita. A primeira atividade econômica tentada pelos holandeses fracassou. A maior parte do rebanho de 718 vacas trazidas da Europa não resistiu à febre aftosa e ao calor tropical do interior paulista. Em pouco tempo, o gado estava dizimado. "Alguns imigrantes desanimaram e resolveram voltar para a Holanda ou se aventurar pelo sul do país", diz Catharine Welle Sitta, filha de Welle e coordenadora do Museu da Imigração. A instituição, montada em um barracão ao lado da primeira casa de taipa da fazenda, dispõe de um acervo de 2 mil fotos que documentam a saga holandesa.

 

A situação só começou a melhorar quando a fazenda foi dividida em lotes e os colonos, com apoio financeiro do governo holandês, diversificaram a atividade produtiva. Passaram a fabricar queijo e ração para animais, a criar aves e suínos e a plantar café e milho. A produção era comercializada pela Cooperativa Agropecuária Holambra, fundada pelos primeiros imigrantes. No final de 1950, a colônia holandesa era composta de 649 pessoas. A tentativa de desenvolver a floricultura ocorreu em 1956, quando sementes de gladíolo, conhecido por palma-de-santa-rita, foram trazidas da Europa. Mas a produção em grande escala só prosperou a partir da segunda metade dos anos 60.

 

 

Floricultura

A produção anual é de 12 milhões de dúzias de rosas e 19 milhões de violetas 

Hoje, Holambra concentra 30% da produção de flores do país. Os 190 produtores do município cultivam mais de 250 espécies e 2 mil variedades de plantas. "Vendemos por dia 1.600 lotes de flores por meio de leilões e 1.200 por contratos", diz Renato Opitz, diretor-geral do Veiling, setor da cooperativa responsável pela comercialização. "O mercado de flores tem crescido continuamente e já movimenta R$ 1,2 bilhão no varejo", informa.

 

O sucesso da floricultura deu ao município de 8.500 habitantes, dos quais 15% são holandeses ou descendentes, uma qualidade de vida comparável à do Primeiro Mundo. Todas as casas estão integradas às redes de água e esgoto, o índice de mortalidade infantil é de 5,9 (a taxa brasileira é de 36,1 crianças mortas por mil nascidas vivas) e o consumo anual per capita de energia elétrica (1.300 kWh) é o maior do país. A cidade lembra a terra natal dos imigrantes. É pontilhada de moinhos e as ruas do centro dispõem de 5 quilômetros de ciclovia, um incentivo ao tradicional hábito de pedalar dos holandeses. Na falta dos canais, Holambra é cortada por dois lagos, nos quais a população pesca. As casas de tijolos aparentes e com amplos jardins floridos também ajudam a recordar a Holanda.

 

Setembro é o mês ideal para visitar a região e conhecer um pouco da cultura dos imigrantes. É quando acontece a Expoflora, a maior exposição de flores do país, e 230 mil visitantes invadem o pequeno município de 65 quilômetros quadrados. Um dos maiores destaques é o grupo de danças folclóricas criado por Piet Schoenmaker, o garoto-propaganda do evento. Os turistas podem experimentar a culinária típica, visitar fazendas de flores e conhecer o maior borboletário do país, instalado no Parque Ecológico Lindenhof.

 

 

Yuri Vasconcelos, em Holambra

 

Fotos: La Costa/Época

 

Volta

 

 

 

 

 

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Ângela Maria lamenta falta de homenagens pelos 50 anos de carreira

Ângela Maria lamenta falta de homenagens pelos 50 anos de carreira


Débora Batista

CAMPOS, RJ - Como poucos, teve a oportunidade de escolher seu próprio nome. Ela nasceu Abelim Maria da Cunha, mas o Brasil inteiro a conhece como Ângela Maria.

Dona de uma voz amada nos quatro cantos do país, a mulher de voz doce e pele da cor de sapoti, segundo o presidente Getúlio Vargas, se apresentou hoje de manhã no Jardim São Benedito, em Campos, dentro do projeto Viva Melhor Viva Música e das comemorações pelos seus 50 anos de carreira.

Apesar do sol forte, uma multidão fez questão de conferir o show até o final. No palco, um pianista cego fazia seu espetáculo à parte, utilizando um reluzente piano meia-calda.

No entanto, Ângela Maria está completando 50 anos de palcos sem a salva de homenagens que acredita merecer. Há 15 anos, quando comemorou seus 35 anos de profissão, as comemorações foram bem suntuosas: desfilou em carro aberto - um Cadilac branco conversível -, saindo do Copacabana Palace em direção à Ipanema.

A diva lamentou a falta de homenagens. "Pensei que fosse receber alguma homenagem por meus 50 anos de carreira, como acontece com Zezé di Camargo e Luciano e outros artistas".