29 de julho de 2017

Biografia

Amália Domingo Soler
Amália Domingo Soler nasceu na cidade de Sevilha, na região da Andaluzia, Espanha. Sua cidade natal, cujo simbolo é a "Torre da Giralda", antigo minarete mouro transformado em campanário (com um ornamento em seu topo que gira com o vento: La Giralda), tem brilhante participação na história da Espanha e do Ocidente. 
Durante a idade média foi uma das principais cidades de Al-Andalus e um dos focos mais brilhantes da civilização árabe medieval, a fama de seu rei poeta Almotamid permanece como testemunho de uma época de esplendor. Após  a reconquista, foi importante centro de transmissão da cultura muçulmana para seus novos senhores cristãos. O Alcazar de Sevilha e a própria Giralda são testemunhos vivos desta mescla que marca até nossos dias o povo da Andaluzia.  
Durante os séculos em que o sol não se punha no vasto império espanhol - que cobria as Américas e se estendia pelo Pacifíco - a cidade, onde Amalia nasceu, era o principal porto de acesso aos territórios de além-mar.  Riquezas de todos os cantos fluiam por seus armazens e dalí seguiam para financiar as incontáveis guerras que travaram seus reis.  Foi justamente após o desmoronar desse império, ferido mortalmente pelas guerras napoleônicas e pela perda da maioria de suas colônias americanas, que nasceu Amalia, em 10 de dezembro de 1835. Estava no trono da Espanha uma criança, a rainha Isabel II (proclamada em 24 de outubro de 1833), com sua mãe - Maria Cristina - como regente. 
Este reinado tornou-se um período extremamente conturbado, marcado por ministérios de curta duração, crises religiosas (supressão da Companhia de Jesus e extinção de diversos conventos), epidemias e uma guerra civil - as  guerras Carlistas (Don Carlos, cunhado de Maria Cristina não reconheceu Isabel II como rainha, contando com o apoio de parte do clero, grandes proprietários e parte do exército) - cujas sequelas ainda se fariam sentir no século seguinte. Conseqüência direta de tantas dificuldades foi a penuria econômica que caracterizou a vida de grande parcela da população. Devido a miséria e a anarquia, esta também foi a época dos "bandoleros andaluzes" (aprox. 1817 a 1850), grupos de bandidos, que a partir da Serra Morena aterrorizavam os campos andaluzes. 
Alguns destes bandidos se transformaram em figuras do folclore e foram imortalizados em canções populares. É neste cenário conturbado que se passa a infância de Amalia Domingo Soler. Infância que não pode ser considerada feliz. Já antes de nascer, tem sua primeira grande perda, pois seu pai parte em uma longa viagem e nunca mais retorna.  Aos oito dias de idade fica cega, sendo curada aos três meses por um farmaceútico. Problemas com a vista a seguiriam por toda a vida, sempre ameaçando-a com a cegueira. Os anos seguintes de sua vida passam em relativa segurança, amparada pela  mãe, com quem tinha grande afinidade:

"Em meus olhos, que ficaram muito imperfeitos, não sei o que via, mas o certo é que se consagrou em absoluto a mim e não teve outro afã senão o de tornar-me feliz, zelando para não se descuidar, nem de leve com minha educação; basta dizer que quando completei dois anos começou ela a tarefa penosa de ensinar-me a ler, obtendo como prêmio de seu afã que aos cinco anos eu lesse corretamente, fazendo-me ler em voz alta duas horas por dia.

Nossos espíritos se uniram de um modo tão admirável que só no olhar adivinhávamos os nossos pensamentos". Amalia Domingo Soler, Minha Vida. Amalia escreveu suas primerias poesias aos dez anos de idade e aos 18 publicou seus primeiros versos. Uma de suas poesias, recorda os melhores dias de sua juventude, de seus passeios com a mãe e os amigos nos jardins do Alcazar de Sevilha: 
A una Rosa
Flor de hermosura ideal,
Bella y delicada rosa,
Yo te contemplé orgullosa
En un jardín oriental.
Hubo un ser que compreendió
Que admiraba tu hermosura;
Temerário te arrancó:
En mi mano te dejó,
Y le miré con ternura.
Otra vez nos encontramos
Y en memoria de la rosa
Cariño eterno juramos;
De amistad pura y preciosa
Un santo lazo formamos.
Hoy tus hojas sin color
Las contemplo y bendigo;
Pues me dieron un amigo
Que es una ignorada flor.
Amalia Domingo Soler
Memorias de una Mujer
Esta poesia, escrita em sua juventude, foi-lhe relembrada, muitos anos depois, pelo espírito do amigo citado. Amalia não chegou a casar-se e aos vinte cinco anos, com o falecimento de sua mãe, começou a fase mais dificil de sua existência. Os recursos que sua mãe dispunha, praticamente se esgotaram no tratamento de sua saúde e as relações com seus familiares - parentes do pai - não eram das melhores. 
Assim, além da solidão, começaram para Amalia dias de grande penuria. As soluções propostas por seus familiares lhe foram impossiveis de aceitar: entrada no convento ou casamento arranjado com um senhor de muito mais idade, em boa situação financeira. Assim ela se dirigiu a Madrid, capital do país, na esperança de encontrar melhores condições de sobreviver, com suas poesias e com um trabalho modesto. Suas dificuldades foram imensas, até fome passou e teve de  recorrer a instituições de caridade, pois raríssimas as possibilidades de trabalho honrado para uma moça pobre e desamparada. Nesse período, no desespero da fome e da solidão, pensa até em matar-se. 
Em uma noite de grande amargura, em que tinha perdido até mesmo a noção de Deus e debatia-se na duvida do destino de sua mãe, esta lhe aparece e causa-lhe viva impressão. Impressionada pela visão de sua mãe, recorda-se da religião e busca reconforto nas igrejas. É porém junto a uma igreja luterana que encontra o apoio que procura. A palavra de seus pastores e a convicção de seus fiéis lhe trazem de novo a fé e o consolo da confiança em Jesus.  O esforço de escrever versos, dos pequenos trabalhos de costura, unidos a dificil condição em que vivia, lhe pioraram significativamente a vista e  somente graças ao tratamento feito por um médico homeopata, salvou-se da cegueira. 
Foi também este médico que lhe fala pela primeira vez de uns "loucos", adeptos de uma novidade chamada Espiritismo, e lhe empresta um exemplar do jornal espírita "El Critério". O curioso é que o médico era materialista e lhe fala do Espiritismo para consola-la de suas aflições. É lendo um artigo deste jornal - reproduzido nas suas memórias - que ela  se convence da verdade do Espiritismo e busca maiores informações. Estuda o que lhe chega as mãos sobre o Espiritismo e para poder ter acesso as revistas espíritas, começa a escrever artigos para elas. O primeiro de seus trabalhos espíritas é uma poesia para o jornal "El Critério", que embora não tenha sido publicada, lhe valeu uma carta do editor - Visconde de Torres Solanot - com um livro espírita de sua autoria (Preliminares del Espiritismo). 
É no periódico espírita "La Revelación", da cidade de Alicante, que pela primeira vez sai publicado um texto de Amalia Domingo Soler, uma poesia. Seu primeiro artigo doutrinário, "La Fe Espiritista" sai pelo "El Critério", em seu número 9, de 1872. Seus artigos chamaram a atenção e aos poucos integra-se ao movimento espírita espanhol, participando de  reuniões. Foi em 31 de março de 1875 - aniversário da desencarnação de Allan Kardec - que no salão da Sociedad Espiritista Española, diante dos membros desta sociedade, Amalia lê sua poesia "A la Memoria de Allan Kardec" e - como registra em suas memórias - passa a fazer parte das fileiras dos propagandistas da Doutrina Espírita.  Grande escritora, com textos que falam tanto ao coração como a razão, e de espírito tão extraordinário como seu talento com as letras, conquistou totalmente as simpatias dos espíritas espanhóis. Fernandes Colavida a presenteia com a coleção das obras de Allan Kardec. 
Os espíritas de Alicante a convidam a ficar junto a eles, sob sua proteção, dedicando-se exclusivamente a divulgação da Doutrina. Junto aos espíritas de Murcia permanece 4 meses recuperando-se de uma enfermidade. Amalia, firmemente acreditando que seria errado viver do Espiritismo, continua a trabalhar de dia e escrever de noite. Permance em Madrid até que se muda para Barcelona, em 10 de agosto de 1876, convidada pelo grupo espírita "Circulo La Buena Nueva" e com a esperança de encontrar melhores condições de trabalho na capital Catalã, já então cidade empreendedora e  de grande atividade econômica. Três meses após chegar a Barcelona, novamente os problemas de visão  voltaram a atormentar Amalia e quase cega encontrou amparo na familia de Luís Lach, presidente do Circulo. Lhe deram abrigo e condições de dedicar-se integralmente ao Espiritismo. Nas reuniões do Circulo, Amalia  veio a conhecer Miguel Vives, médium extraordinário, através do qual recebeu mensagens de sua mãe. 
Também entre os espíritas barcelonenses conheceu o médium sonâmbulo Eudaldo, que se tornou seu colaborador e através do qual recebeu grande número de mensagens, incluse as que foram reunidas no livro "Memórias del Padre German". O Padre Germano, guia espiritual de Amalia, se apresentou pela primeira vez em 9 de maio de 1879 e a publicação de suas memórias foi feita em partes a partir de 29 de abril de 1880. Além de publicar artigos em periódicos espíritas, Amalia também refutou ataques ao Espiritismo em jornais como a "Gaceta de Cataluña", ficando célebre sua polêmica com o orador católico Vicente de Manterola. Em 1878, Vicente iniciou uma série de conferências combatendo o Espiritismo, as quais Amalia assistia e respondia em artigos na "Gaceta de Cataluña". O mesmo orador chegou a publicar, em 1879, um livro intitulado "El Satanismo, o sea la Catédra de Satanás, combatida desde la Cátedra del  Espíritu Santo - Refutación de los errores de la Escuela Espiritista". Este foi refutado em uma série de 46 artigos de Amalia, reunidos posteriormente no livro "El Espiritismo refutando los errores del Catolicismo". Em 22 de maio de 1879 sai o primeiro número do periódico "La Luz del Porvenir", dirigido por Amalia Domingo Soler. O periódico surgiu devido a insistência de Luís Lach e do editor Juan Torrents que convenceram-na a aceitar a tarefa de criar um periódico direcionado a "mulher espiritista".

No primeiro número saiu o artigo "La idea de Dios" que foi denunciado as autoridades e provocou a suspensão do periódico por 42 semanas (voltou a ser publicado antes devido a um decreto do rei Alfonso XII). Durante a  suspensão do periódico, foi publicado um substituto "El Eco de la Verdad", que chegou a ser denunciado por outro artigo ("Los Obreros" de Cándida Sanz) e absolvido. Importante notar que estas denuncias - embora uma reação de setores  religiosos que se sentiam ameaçados pelo Espiritismo - não são tão dificeis de se compreender, se considerarmos o clima geral da época de Alfonso XII. Este rei subiu ao trono com 17 anos em 29 de dezembro de 1874, em meio a uma crise politica que levou a abdicação de sua mãe, a rainha Isabel II. A Espanha vivia um clima de extremismos, com o governo tendo que defender-se tanto contra os "Carlistas", que retomam a guerra civil, quanto contra os republicanos que querem o fim da monarquia. Reformas liberais necessarias a modernização do pais, misturavam-se com manifestos militares, crises politícas e novas guerras na África. O Catolicismo é a religião oficial do estado e procura reagir com todas as suas forças as mudanças liberalizantes que podem comprometer-lhe essa posição. 
O periódico "La Luz del Porvenir" foi publicado até 1899 e muitos dos artigos de Amalia Domingos Soler publicados durante este período - incluindo "La Idea de Dios" - foram, a partir de 1972, reunidos por Salvador Sanchís Serra nos livros "La Luz del Porvenir" e "La Luz del Camino", distribuidos gratuitamente por ele e pelo grupo espírita "La Luz  del Camino" de Orihuela, Alicante. As memórias de Amalia Domingo Soler foram escritas em 1891, sob orientação do Padre Germano. Até aquela data ela tinha escrito 1286 artigos, que foram publicados em periódicos na Espanha e no exterior: "El Critério" e "El Espiritismo", de Madri; "La Gaceta de Cataluña", "La Luz del Porvenir" e a "Revista de Estudos Psicológicos" de Barcelona;" La Revelación", de Alicante; "El Espiritismo", de Sevilha; "La Ilustración Espirita", do  México;" La Ley del Amor", de Mérida de Yucatán; "La Revista Espiritista", de Montevidéu; "La Constancia", de Buenos Aires; os" Annali dello Spiritismo" na Italia;" El Buen Sentido", de Lérida e outros dos quais não há mais registro. 
Em 29 de abril de 1909, de Barcelona, Amalia retornou ao plano espiritual, o que não significa que se afastou de seu labor em pról do Espiritismo. Em 10 de julho de 1912, por intermédio da médium Maria - que colaborou com ela em vida, substituindo Eudaldo - completou suas memórias e, recentemente, nas viagens do médium Divaldo Pereira Franco à Espanha, tem transmitido mensagens de orientação e encorajamento aos espíritas espanhóis. O Espiritismo na Espanha continuaria a progredir até as vespéras da Guerra Civil de 1936-1939, quando o conflito latente desde a regência de Maria Cristina entre uma Espanha que queria ser moderna e uma que sonhava com o passado, transformou-se em uma sangrenta guerra civil. 
As proporções do conflito, se hoje não causam espanto, é porque foram eclipsadas pela II Guerra Mundial, imediatamente posterior. Ao final desta guerra civil, a Espanha mergulhou nos 40 anos da ditadura do General  Franco, que tudo fez para abafar qualquer idéia que não se enquadrasse na visão de mundo de seu regime.  O Espiritismo, perseguido e jogado na clandestinidade, porém voltou a surgir imediatamente ao fim do regime franquista, em uma Espanha nova, liderada por políticos mais maduros e por um rei esclarecido e humano, Juan Carlos I. 
O balanço da obra de Amalia Domingo Soler é dificil de se fazer, pois os seus frutos ainda continuam surgindo. O movimento espírita espanhol do final do século XIX, obra de Amalia e de outros grandes pioneiros, como Fernandes Colavida e Miguel Vives y Vives, abrigou o primeiro congresso espírita internacional em 1888, influenciou os movimentos nascentes nos vários países de lingua espanhola da América Latina e - como precedente histórico - é a base para o atual renascimento do espiritismo espanhol. Seus artigos são hoje, como foram ontem, exposições claras e diretas do  Espiritismo. Fieis interpretes da Doutrina Espírita codificada por Allan Kardec. Lidos e veiculados pelos meios de comunicação modernos, entre eles a Internet.
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Bibliografia
A Serviço do Espiritismo (Divaldo Pereira Franco na Europa), Nilson de Souza Pereira e Divaldo Pereira Franco, editora Leal, Bahia, Brasil;
Historia de España, Jose Terrero, Editorial Ramón Sopena, Barcelona, España;
Historia de Sevilha, José Maria de Mena, Plaza & Janes Editores, Barcelona, España;
La Luz del Camino, Amalia Domingo Soler, Editora Espírita Allan Kardec, Málaga;
La Luz del Porvenir, Amalia Domingo Soler, Editora Espírita Allan Kardec, Málaga;
Memórias de una Mujer, Amalia Domingo Soler, Editora Amelia Boudet, Barcelona, Espanha;
Memórias del Padre Germán, Amalia Domingo Soler, Editora Amelia Boudet, Barcelona, Espanha;
Minha Vida, Amalia Domingo Soler (trad. das Memórias por Isolina Bresolin Vianna e Wallace Leal V. Rodrigues), Casa Editora O Clarim, Matão, Brasil;

Reencarnação e Vida, Amalia Domingo Soler (trad. do livro "Hechos que Prueban" por Jurema de Castro), Instituto de Difusão Espírita, Araras, Brasil; 


Biografia

Almirante Almir José Isaías de Noronha


(1873 - 1963)


  Militar da Marinha do Brasil nascido no Rio de Janeiro, então capital imperial brasileira, integrante como contra-almirante da Junta Militar Governativa Provisória (1930) com os generais Augusto Tasso Fragoso e João de Deus Menna Barreto, quando o presidente Washington Luís foi deposto e seu sucessor eleito, Júlio Prestes, impedido de tomar posse. De uma família de tradição militarista, era filho do general-de-divisão Manuel Muniz de Noronha e de Zulmira Augusta Aguiar, era sobrinho de Júlio César de Noronha, Ministro da Marinha (1902-1906), e primo de Sílvio de Noronha, ministro da Marinha (1946-1951). Ingressou no curso preparatório da Escola Naval (1887), seguindo o exemplo de muitos membros da sua família que se destacaram na carreira militar e alcançou a patente de contra-almirante (1923). Assumiu então a direção da Escola Naval por dois períodos não consecutivos (1923-1925 / 1926-1927) e foi nomeado comandante-em-chefe da esquadra brasileira (1927-1928). Dois anos depois (1930), com o início do movimento revolucionário promovido pelas forças de oposição ao governo federal, membros da alta oficialidade das Forças Armadas anteciparam-se aos revoltosos e depuseram o presidente Washington Luís.e inviabilizaram a posse de seu sucessor eleito, Júlio Prestes. Foi indicado como representante da Marinha, acumulava, ainda, o cargo de ministro da Marinhapara compor uma junta governativa que governou o país quando da eclosão da Revolução (1930), constituída assim que o presidente foi deposto. Vale observar historicamente, que a Junta Governativa não deixou registros de sua investidura no Livro de Posse do governo federal. A junta mesmo com poucos dias de governo (24/10-03/11), organizou um novo ministério, do qual faziam parte, entre outros, o general José Fernandes Leite de Castro como Ministério da Guerra, Isaías de Noronha como Ministério da Marinha, e Afrânio de Melo Franco como Ministério das Relações Exteriores. Com a situação na capital sob controle, a junta entregou o poder para Getúlio Vargas, comandante das forças revolucionárias, que assumiu a presidência em 3 de novembro (1930) com o apoio popular e de movimentos militares de Minas Gerais e Rio Grande do Sul garantindo a suspensão total das hostilidades em todo o país. Pediu demissão da pasta da Marinha no mês seguinte e no ano seguinte, foi promovido a vice-almirante e elegeu-se para a presidência do Clube Naval ( 1931). Morreu em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro, aos 89 anos e meio, e seu nome foi dado ao primeiro navio rebocador de porto da Marinha do Brasil construído no Brasil (1972).
Figura copiada de página da WIKIPÉDIA:
http://en.wikipedia.org/wiki/Isa%C3%ADas_de_Noronha


Biografia

Alexandre N. Aksakof
Nasceu em Repievka (Rússia) em 27/05/1832 e desencarnou em S. Petersburgo (o nome mudou depois para Leningrado), a 04/01/1903. Foi um dos grandes cientistas que notabilizou-se na investigação e análise dos fenômenos espíritas, no século passado. Doutor em Filosofia e conselheiro íntimo de Alexandre III, Tzar de todas as Rússias. 
Sua mocidade sempre tendeu à seriedade, preocupou-se com investigações sérias o que o levou a enfrentar prolongados anos de dificuldades espirituais e sociais. Conquistando o pergaminho de doutor, enveredou pelos árduos caminhos que  conduzem ao êxito no campo do conhecimento, tornando-se professor da Academia de Leipzig, na Alemanha.  Integrando-se resolutamente no campo da investigação psíquica, tornou-se diretor do jornal Psychische Studiem , órgão publicado na Alemanha. Não satisfeito com o seu trabalho na direção deste órgão, lançou em Moscou, em  1891, a revista de estudos psíquicos Rebus , a primeira do gênero na Rússia. Sustentou viva polêmica com o filósofo alemão Dr. Von Hartmann, no decurso da qual refutou, com sobeja superioridade científica e demonstrações irretorquíveis, as explicações do sábio alemão sobre os fenômenos espíritas, aos quais atribuia um fundo biológico. 
Aksakof realizou numerosas experiências e observações no campo científico, tendo realizado trabalhos tão profundos, tão interessantes, que até hoje jamais foram esquecidos em matéria de espiritismo experimental. Para a consecução dessa finalidade valeu-se do valioso concurso da célebre médium italiana Eusapia Paladino. Fundamentado nesses trabalhos publicou na Alemanha o seu famoso livro Animismo e Espiritismo , em dois volumes, obra insuperável em todo o
mundo. 
Mais tarde com o valioso concurso dos médiuns Elisabeth D´Esperance e Politi, além da já mencionada Eusapia Paladino, o grande criminalista italiano Cesare Lombroso, expõe, de forma definitiva, o resultado das suas experiências realizadas quinze anos depois. Esse trabalho de Lombroso fortaleceu de forma decisiva tudo aquilo que Aksakof havia descrito em sua obra. O livro de Aksakof Animismo e Espiritismo foi uma réplica à brochura que o célebre filosofo alemão Eduardo von Hartmann - continuador de Schopenhauer - fez editar em 1885, abordando aspectos do Espiritismo. 
Escreveu ainda Aksakof, em fevereiro de 1890: Interessei-me pelo movimento espírita desde 1855 e, desde então, não deixei de estudá-lo em todas as suas particularidades e através de todas as literaturas. Em 1870 assisti à primeira sessão, em um círculo íntimo que eu tinha organizado. Não fiquei surpreendido de verificar que os fatos eram reais adquiri a convicção profunda de que eles nos ofereciam - como tudo o que existe na Natureza - uma base verdadeiramente sólida, um terreno firme para a fundação de uma ciência nova que seria talvez capaz, em um futuro remoto, de fornecer ao  homem a solução do problema da sua existência. Fiz tudo o que estava ao meu alcance para tornar os fatos conhecidos e atrair sobre o seu estudo a atenção dos pensadores isentos de preconceitos . 
Baseado no livro Personagens do Espiritismo de Antônio de Souza Lucena e
Paulo Alves Godoy Ed. FEESP - 1ª Ed. - 1982 - SP - BRASIL 


Biografia

Afonso Augusto Moreira Pena


(1847 - 1909)


  Presidente da república brasileira (1906-1909) nascido em Santa Bárbara, MG, que desenvolveu um governo caracteristicamente menos político e mais administrador. Estudou no Colégio Caraça, dos padres lazaristas, em Minas Gerais, e bacharelou-se pela Faculdade de Direito de São Paulo (1870), onde foi colega de Rodrigues Alves, Rui Barbosa e Castro Alves. Inicialmente dedicado à magistratura, voltou-se para a carreira política e foi deputado provincial e, por quatro vezes deputado geral pelo Partido Liberal (1878-1889).  Com a subida dos liberais ao poder (1878), foi ministro da Guerra, da Agricultura e da Justiça. Com a proclamação da república, tomou parte na Assembléia Constituinte mineira e foi relator da constituição estadual. Renunciou ao mandato de deputado em protesto contra a dissolução do Congresso Nacional pelo marechal Deodoro da Fonseca e apoiou Floriano Peixoto contra o então presidente, defendendo firmemente a realização de eleições normais, o que contribuiu decisivamente para que a república retornasse à normalidade constitucional. Com o afastamento de Cesário Alvim da presidência de Minas Gerais, foi eleito para completar seu mandato e tomou a iniciativa de transferir a sede do governo da então capital Ouro Preto, para Curral del-Rei, onde deu início a construção da nova capital, Belo Horizonte (1894), a primeira cidade brasileira totalmente planejada e com toda a infraestrutura urbana projetada. Fundou a Faculdade de Direito de Minas Gerais, onde foi professor durante o período em que governou a província. Ocupou a presidência do Banco do Brasil, no mandato de Prudente de Morais, e a presidência do conselho deliberativo de Belo Horizonte (1900), cargo correspondente ao hoje de prefeito. Com a morte de Francisco Silviano de Almeida Brandão, eleito mas não empossado, elegeu-se vice-presidente da república (1902-1906). Sem oposição elegeu-se presidente da república (1905) com Nilo Peçanha, para a sucessão de Rodrigues Alves. Viajou por todos os estados litorâneos brasileiros, ouvindo os governos locais e a opinião pública e deu ênfase às questões econômicas. Incentivou a imigração como meta de povoamento e colonização, promoveu o crescimento industrial, reformou o sistema monetário, por intermédio da Caixa de Conversão, facilitando o câmbio com moedas estrangeiras como marcos, francos, liras, dólares e libras esterlinas. Fomentou a construção de ferrovias e apoiou a obra de penetração de Rondon, encarregado-o de ligar por telégrafo a Amazônia à capital da república (1907). Criou também o Serviço Geológico e Mineralógico, para pesquisa e aproveitamento das riquezas minerais do país. Sua maneira de tratar a política em segundo plano provocou uma grave crise sucessória, gerando a famosa campanha civilista. Em plena crise, após rápida enfermidade, morreu no palácio do Catete, no Rio de Janeiro, em 14 de junho.
Figura copiada do site oficial da PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA:
https://www.presidencia.gov.br/


Biografia

Prudente José de Morais Barros


(1841 - 1902)


  Presidente da república brasileira nascido nos arredores de Itu, SP, primeiro presidente civil do Brasil (1894-1898) e primeiro a ser eleito por sufrágio universal. Com menos de três anos perdeu o pai, comerciante de animais, assassinado por um escravo. Após o segundo casamento da mãe, passou a residir na cidade, onde concluiu o curso primário. Graduou-se em direito em São Paulo, SP (1863) e transferiu-se para Piracicaba, SP, onde iniciou a carreira política. Eleito vereador (1865) pelo Partido Liberal, presidiu a Câmara Municipal e (1876) declarou-se republicano, tendência que representou na Assembléia Provincial e depois na Assembléia Geral do império (1885). Proclamada a república, foi um dos integrantes da junta de governo de São Paulo e governador (1889-1890). Elegeu-se em seguida senador e presidiu a constituinte (1890-1891) e disputou numa eleição indireta, e perdeu, a presidência da república para Deodoro da Fonseca. Depois presidiu o Senado até o fim do mandato e tornou-se sucessor de Floriano Peixoto, candidato pelo Partido Republicano Federal. Assumiu (1894), durante a guerra civil que só findou no ano seguinte, e dedicou todos os seus esforços à pacificação das facções, que tinham em seus extremos os defensores do governo forte de Floriano e os partidários da monarquia. Enfrentou a ocupação da ilha da Trindade pelo Reino Unido e a revolta da Escola Militar (1896) fechando a escola e o clube militar. Combateu na Bahia os amotinados de Antônio Conselheiro, mas obrigado a submeter-se a uma cirurgia, passou o cargo ao vice-presidente, Manuel Vitorino Pereira. Na volta ao governo nomeou ministro da Guerra o general Carlos Machado Bittencourt, que derrotou os fanáticos, mas morreu em um atentado, em Salvador. Obtida a paz interna, o que lhe deu grande popularidade ao fim do mandato, negociou com os banqueiros ingleses a consolidação da dívida externa, operação financeira que ficou conhecida como funding loan, com seus ministros da Fazenda, Rodrigues Alves e Bernardino de Campos, base da política executada por Joaquim Murtinho no governo de Manuel Ferraz do Campos Sales. Após deixar a presidência, retirou-se para Piracicaba, onde  morreu.

Figura copiada do site oficial da PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA:
https://www.presidencia.gov.br/

Biografia

Nélson Gonçalves

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Nota: Se procura o político fluminense, consulte Nelson dos Santos Gonçalves.

Nelson Gonçalves
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Informação geral
Nome completo
Antônio Gonçalves Sobral
Data de nascimento
Rei do Rádio
Origem
Data de morte
18 de abril de 1998 (78 anos)
Ocupação
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Instrumentos notáveis
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Tipo vocal
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Período em atividade
1941-1998
Outras ocupações
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Gravadoras
Afiliações
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Influências
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Integrantes
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Ex-integrantes
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Antônio Gonçalves Sobral, mais conhecido como Nélson Gonçalves, (Santana do Livramento, 21 de junho de 1919Rio de Janeiro, 18 de abril de 1998) foi um cantor brasileiro. Segundo maior vendedor de discos da história do Brasil, com 65 milhões de unidades, fica atrás apenas de Roberto Carlos, com oitenta milhões. Seu maior sucesso foi a canção A volta do boêmio.

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Biografia

[1] nasceu no Rio Grande do Sul, mudou-se com os seus pais portugueses para São Paulo, no bairro do Brás. Quando criança, era levado, para praças e feiras pelo seu pai, que fazendo-se de cego, tocava violino, enquanto ele cantava.
Foi jornaleiro, mecânico, engraxate, polidor e tamanqueiro. Foi também lutador de boxe na categoria peso-médio, recebendo aos dezesseis anos o título de campeão paulista.
Mesmo com o apelido de "Metralha", por causa da gagueira, decidiu ser cantor. Em uma de suas primeiras bandas, teve como baterista Joaquim Silva Torres. Foi reprovado duas vezes no programa de calouros de Aurélio Campos. Finalmente foi admitido na rádio PRA-5, mas dispensado logo depois.
Nesta época, casou-se com Elvira Molla e com ela teve dois filhos. Sem emprego, trabalhou como garçom, no bar do seu irmão, na avenida São João.
Seguiu para o Rio de Janeiro em 1939, onde trilhou mais uma vez o caminho dos programas de calouros. Foi reprovado novamente na maioria deles, inclusive no de Ary Barroso, que o aconselhou a desistir. Finalmente, em 1941, conseguiu gravar um disco de 78 rotações, que foi bem recebido pelo público. Passou a crooner do Cassino Copacabana (do Hotel Copacabana Palace) e assinou contrato com a Rádio Mayrink Veiga, iniciando uma carreira de ídolo do rádio nas décadas de 40 e 50, da escola dos grandes, discípulo de Orlando Silva e Francisco Alves.
Alguns de seus grandes sucessos dos anos 40 foram Maria Bethânia (Capiba), Normalista (Benedito Lacerda / Davi Nasser), Caminhemos (Herivelto Martins), Renúncia (Roberto Martins / Mário Rossi) e muitos outros. Maiores ainda foram os êxitos na década de 50, que incluem Última Seresta (Adelino Moreira / Sebastião Santana), Meu Vício É Você e a emblemática A Volta do Boêmio (ambas de Adelino Moreira).
Na década de 50, além de shows em todo o Brasil, chegou a se apresentar em paises como Uruguai, Argentina e Estados Unidos, no Radio City Music Hall.
Em 1952, casou-se com Lourdinha Bittencourt, substituta de Dalva de Oliveira no Trio de Ouro. O casamento durou até 1959.
Em 1965, casa-se de novo, COM Maria Luiza da Silva Ramos, com quem teve dois filhos, Ricardo da Silva Ramos Gonçalves e Maria das Graças da Silva Ramos Gonçalves. A caçula tem seu apelido no refrão da música Até 2001. (É no gogo gugu).
No entanto, o seu envolvimento com a cocaína, em 1958, tendo, inclusive, sido preso em flagrante em 1965 e passado um mês na Casa de Detenção, o que lhe trouxe problemas pessoais e profissionais. Superada a crise, lançou o disco A Volta do Boêmio nº1, um grande sucesso.
Após abandonar o vício com o apoio de sua mulher, retomou uma carreira bem sucedida.
Continuou gravando regularmente nos anos 70, 80 e 90, reafirmado a posição entre os recordistas nacionais de vendas de discos. Além dos eternos antigos sucessos, Nelson Gonçalves sempre se manteve atento a novos compositores, e chegou a gravar canções de Ângela Rô Rô (Simples Carinho), Kid Abelha (Nada por Mim), Legião Urbana (Ainda É Cedo) e Lulu Santos (Como uma Onda).
Ganhador de um prêmio Nipper da RCA, dado aos que permanecem muito tempo na gravadora, sendo somente Elvis Presley outro agraciado. Durante sua carreira, gravou mais de duas mil canções, 183 discos em 78 rpm, 128 álbuns, vendeu cerca de 78 milhões de discos, ganhou 38 discos de ouro e 20 de platina.[2]
Morreu em consequencia de um enfarte agudo do miocárdio no apartamento de sua filha Margareth, no Rio de Janeiro.

Dramatizações

A vida de Nelson Gonçalves teve sua biografia dramatizada nas seguintes obras:
  • Na década de 90, foi encenado nas principais capitais do país o musical Metralha.
  • Em 2001 foi lançado o documentário Nélson Gonçalves, contando a sua trajetória, com direção de Elizeu Ewald e protagonizado por Alexandre Borges e Júlia Lemmertz, e tendo a sua filha Margareth Gonçalves como produtora executiva.

] Discografia

Ver artigo principal: Discografia de Nelson Gonçalves

] Maiores sucessos

(ordem cronológica)
  • 1941 - Se Eu Pudesse um Dia
  • 1942 - Dorme que Eu Velo por Ti
  • 1942 - Fingiu Que Não Me Viu
  • 1942 - Renúncia
  • 1943 - Noite de Lua
  • 1943 - Quando a Saudade Vier
  • 1943 - Não Sou Feliz nos Amores
  • 1943 - A Saudade É um Compasso de Mais
  • 1943 - A Mulher do Seu José
  • 1943 - Solidão
  • 1943 - Perfeitamente
  • 1944 - Sabiá de Mangueira
  • 1944 - Quase Louco
  • 1944 - Dos Meus Braços Tu Não Sairás
  • 1944 - Ela me Beijou
  • 1945 - Eu Não Posso Viver Sem Mulher
  • 1945 - Aquela Mulher
  • 1945 - Meus Amores
  • 1945 - Maria Bethânia
  • 1946 - Pelas Lágrimas
  • 1946 - Seus Olhos na Canção
  • 1946 - Segure no Meu Braço
  • 1946 - Quando É Noite de Lua
  • 1946 - Menina dos Olhos
  • 1946 - A Você
  • 1946 - Coração
  • 1946 - Espanhola
  • 1947 - Dona Rosa (com Isaura Garcia)
  • 1947 - Segredo
  • 1947 - A Rainha do Mar
  • 1947 - Odalisca
  • 1948 - Princesa de Bagdá
  • 1948 - Perdôo, Sim
  • 1949 - Normalista
  • 1949 - Quando Voltares
  • 1949 - Pepita
  • 1952 - Confete Dourado
  • 1953 - Camisola do Dia
  • 1953 - Meu Vício É Você
  • 1954 - Carlos Gardel
  • 1954 - Francisco Alves
  • 1955 - Último Desejo
  • 1955 - Esta Noite me Embriago
  • 1955 - Hoje Quem Paga Sou Eu
  • 1956 - Nossa Senhora das Graças
  • 1956 - Por um Beijo de Amor
  • 1956 - Meu Vício É Você
  • 1956 - Natal Branco (com o Trio de Ouro)
  • 1957 - A Volta do Boêmio
  • 1957 - Pensando em Ti
  • 1957 - História da Lapa
  • 1957 - Grilo Seresteiro
  • 1958 - Escultura
  • 1958 - Pensando em Ti
  • 1959 - Prece ao Sol
  • 1959 - Revolta
  • 1959 - Deusa do Asfalto
  • 1960 - Meu Dilema
  • 1960 - Chore Comigo
  • 1960 - Queixas
  • 1961 - Negue
  • 1961 - Fica Comigo Esta Noite
  • 1962 - Dois Amores
  • 1963 - Enigma



Biografia

Biografia de Maysa vasculha diários íntimos 30 anos após sua morte


Nesta segunda-feira (22), completam-se os 30 anos da morte da cantora Maysa. No próximo mês, ela ganha uma alentada biografia --"Maysa: só numa multidão de amores" (Editora Globo)-- escrita pelo jornalista Lira Neto (leia trechos).

Durante dois anos, o autor mergulhou no arquivo particular de Maysa, que lhe foi aberto pelo filho da cantora, o diretor de cinema e televisão Jayme Monjardim, atualmente trabalhando em "Páginas da Vida".


Foram pesquisados cerca de 30 kg de material (diários íntimos, cartas, bilhetes, fotografias e 100 mil recortes de jornais e revistas, do Brasil e do exterior). Com 450 páginas, o livro traz uma coleção de fotos raras e inéditas. No meio da montanha de papéis liberados por Monjardim, havia até mesmo um esboço de autobiografia, escrita por Maysa em 1972.

Neto fez 200 entrevistas, com pessoas que conviveram direta ou indiretamente com Maysa, desde colegas e professoras de escola a ex-namorados, músicos, cantores, compositores, empresários, amigos e parentes.

Vida tumultuada

"Jayme Monjardim foi de uma extrema generosidade, e não me pediu absolutamente nada em troca, a não ser que fizesse um livro o mais fiel possível à vida tumultuada e intensa de Maysa, uma mulher que viveu sob o signo da ousadia e da transgressão", diz Neto.

"As biografias ditas 'autorizadas' são vistas com certa desconfiança, mas esse não é o caso. Tive completa independência para escrever sobre tudo o que apurei durante a fase de pesquisa para o trabalho."

"Maysa: só numa multidão de amores" promete muitas novidades e revelações para os fãs da cantora. "Maysa gostava de plantar pistas falsas sobre sua vida, inventava histórias fantasiosas, que fizeram muita gente que já escreveu sobre ela comer mosca", diz o autor.


Drogas, álcool e suicídio

Uma das maiores lacunas sobre a vida da cantora, relacionada aos quase oito anos que viveu fora do Brasil, são inteiramente elucidados no livro. A dependência química ao álcool, as internações em clínicas de desintoxicação, as tentativas de suicídio, os inúmeros casos amorosos vividos pela cantora, tudo será tratado com "transparência", afirma o autor.

"O livro mostra os bons e maus momentos da personagem, seus instantes de glória e de fracasso. É um retrato de corpo inteiro de Maysa, para que o leitor possa compreender as motivações da artista e da mulher. Afinal, poucos tiveram vida e arte ligadas de forma tão indissociável quanto ela."

Maysa morreu em 22 de janeiro de 1977, em uma acidente de carro na ponte Rio-Niterói. Tinha apenas 40 anos. "O que poucos conseguiam entender era como podia ser possível que, quanto mais bebesse, melhor Maysa cantasse", cita o livro.

Confira trechos da biografia de Maysa



Confira trechos da biografia "Maysa: só numa multidão de amores" (Editora Globo), escrita pelo jornalista Lira Neto, com lançamento previsto para fevereiro.


Quem se debruçar sobre a coleção de jornais do Rio de Janeiro e de São Paulo naquele ano de 1958 vai chegar a uma assombrosa constatação: entre 1° de janeiro e 31 de dezembro não houve um único dia --e isso, acredite-se, não é força de expressão-- em que Maysa não tenha sido notícia em pelo menos um órgão da imprensa carioca ou paulista. Quando não estava sendo incensada nas páginas de crítica musical ou torpedeada nas colunas de fofocas, a onipresente Maysa rendia assunto quente até para o noticiário político. Diante da enorme popularidade que desfrutava, surgiram rumores de que ela havia sido sondada pelo diretório do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), no Rio, sobre uma possível candidatura a deputada federal. A idéia teria partido de ninguém menos do que João Goulart, o Jango, vice do presidente Juscelino Kubitscheck. Enquanto isso, em São Paulo, informações de bastidores davam conta de que o prefeito Adhemar de Barros havia convidado a cantora para disputar uma cadeira de vereadora, pelo Partido Social Progressista (PSP), na Câmara Municipal paulistana. "Jango e Adhemar convidaram Maysa Matarazzo", trombeteou o Última Hora. Ao ler aquilo, Maysa tratou de convocar uma entrevista coletiva para desmontar a central de boatos: "Não serei candidata nem sou mais Matarazzo", esbravejou.


Separada, Maysa buscava encontrar a felicidade. Mas, ao contrário, enfrentou crises seguidas de depressão, que resultaram em pelo menos dois graves problemas simultâneos e, de certa forma, complementares: passou a comer avidamente e a beber de forma desregrada. Voltou a engordar horrores e a dar pequenos e grandes vexames em público, trocando o dia pela noite. Nos programas de tevê, exigia que só a filmassem do pescoço para cima. Mudou todo o guarda-roupa e só se apresentava com roupa preta, o que além de disfarçar a gordura acentuava a aura dark de sua imagem. "Comecei a viver à noite e, durante o dia, vegetava dentro de casa", revelaria Maysa, ao recordar aquele tempo em que chegou a passar novamente dos 90 quilos. "Só saía de dia para ir à praia nos desertos da Barra da Tijuca: era a única forma de pôr um maiô, pois não havia ninguém por lá. Comprei um terreno, construí uma casa e alimentava ali a minha solidão e a minha falta de perspectivas. Quando era preciso cumprir algum compromisso, bastava aliviar a tensão com alguns drinques".



Os telespectadores logo começaram a perceber que havia algo errado com Maysa. Muitas vezes ela chegou a cambalear diante das câmeras, durante a apresentação de seus programas. Os objetos do cenário --um poste aqui, uma coluna grega acolá-- passaram a funcionar como providenciais pontos de apoio, nos quais ela se segurava para não cair em pleno palco. As duas doses de antes, "pra dar coragem", estavam sendo substituídas agora por litros de vodca e uísque. O rosto de Maysa igualmente denunciava que alguma coisa não ia realmente bem com a estrela. Os raros sorrisos, muitas vezes carregados de amarga ironia, agora acentuavam a característica curvatura que possuía o lábio superior, voltado ligeiramente para baixo, o que lhe atribuía um certo semblante de tristeza até quando ria. Mas o que poucos conseguiam entender era como podia ser possível que, quanto mais bebesse, melhor Maysa cantasse.



"Ela é uma coitada, uma infeliz, uma alcoólatra, uma gorda", censurou-lhe a revista Escândalo. Quando uma atormentada Maysa enfiou seu fusquinha verde na traseira de um caminhão em Copacabana, exatamente naquele final de 1958, a imprensa teve uma das manchetes mais escandalosas de todos os tempos sobre ela. E, dessa vez, Maysa não podia negar, esconder-se atrás de um desmentido. "Maysa, bêbada e ferida, foi atendida em pronto-socorro", noticiou a Folha da Noite. Disseram que era o fim. Previram sua retirada de cena. Falaram que o rosto ficaria deformado para sempre, com uma enorme cicatriz. Era uma vez a Cinderela às avessas. O que poucos podiam prever era que aquela seria apenas a primeira das muitas destruições e reconstruções que Maysa faria de sua vida-- e de si mesma.



"Deusa da fossa", Maysa ganha biografia 30 anos após sua morte


KARINA KLINGER
da Folha Online

O diretor global Jayme Monjardim, 49, deu o aval para a publicação da biografia de sua mãe, a cantora Maysa (1936-1977) --considerada a "rainha da fossa" por cantar a tristeza e a melancolia em clássicos da MPB como "Meu Mundo Caiu" e "Se Todos Fossem Iguais a Você".
Prevista para chegar às livrarias em 2007 --30 anos após sua morte em um acidente de carro na ponte Rio-Niterói--, a obra será escrita pelo jornalista e escritor Lira Neto, 41.

Sucesso nas décadas de 60 e 70, a intérprete e compositora Maysa, cujo nome completo era Maysa Figueira Monjardim Matarazzo, ficou conhecida por interpretar clássicos como "Ouça", "Meu Mundo Caiu", "Resposta" e "Felicidade Infeliz", entre outros. Célebre por interpretar músicas de fossa e dor-de-cotovelo, a cantora também foi um ícone da bossa nova, sendo uma das primeiras vozes a levar esse gênero musical para terras estrangeiras. Fã de Maysa, Lira Neto foi autorizado por Monjardim, filho único da cantora, a revirar o baú da família, repleto de correspondência, escritos inéditos e recortes de

 jornais e revistas da época.

"O primeiro passo foi recuperar a sua discografia, que está fora de catálogo; confesso que não foi fácil, percorri uma série de sebos em São Paulo e, pela internet, contatei lojas que vendem vinis em outras capitais brasileiras", conta o escritor.





Segundo o pesquisador, Maysa era uma intérprete versátil, que com sua voz rouca imortalizou canções brasileiras e também em outros idiomas, como o inglês, o francês e até mesmo o turco. Nos anos 50, ela mostrou coragem ao deixar o marido milionário para dedicar-se exclusivamente à música, já que ele não aceitava a sua carreira.

Profissionalmente, argumenta o escritor, a cantora viveu um momento importante na história da música brasileira, a transição do samba-canção dos anos 40 e 50 para a moderna MPB. "Ela foi uma das grandes divas que vieram depois de Dolores Duran e Aracy de Almeida", diz Neto.

Apesar do aval da família, permitindo acesso livre ao arquivo da
intérprete, Lira Neto tem um desafio pela frente. Afinal, a vida de Maysa sempre foi alvo de fofocas. Na década de 60, além dos problemas que teve com a bebida, a imprensa vivia lhe atribuindo "namoricos" e casos tórridos.

"Pretendo mostrar todas as faces de Maysa, seus bons e maus momentos, suas alegrias e suas dores, enfim, traçar um retrato de corpo inteiro de uma mulher que ousou romper com o bom-mocismo e os preconceitos de sua época", diz o autor, que já iniciou a fase de entrevistas para o livro, que deverá ter cerca de 500 páginas.

José de Alencar

O último trabalho de Neto foi "Castello - A Marcha para a Ditadura", biografia do ex-presidente Castello Branco, um dos finalistas do Prêmio Jabuti deste ano na categoria "reportagem e biografia".

A obra recebeu avaliações positivas, como a do jornalista Fernando Morais ("Chatô -O Rei do Brasil" e "Olga"), e de a de Elio Gaspari, autor de uma série de livros sobre o regime militar como "A Ditadura Derrotada" (2003) e "A Ditadura Encurralada" (2004).

A biografia sobre Castello chegou no ano passado a ficar entre os mais vendidos em rankings de vendas de algumas livrarias, como a Cultura. Atualmente, o escritor finaliza a biografia do romancista José de Alencar (1829-1877). Antes de se dedicar à carreira de escritor, Neto foi ex-ombudsman do jornal "O Povo", editado no Ceará.

Neto estreou como biógrafo em 1999 com o lançamento de "O Poder e a Peste - A Vida de Rodolfo Teófilo" sobre a vida do farmacêutico baiano Rodolfo Teófilo (1853-1932), autor do romance "A Fome" (1890), um clássico da literatura brasileira