23 de junho de 2010




Kaká

Nascido no Gama, cidade-satélite de Brasília, e criado em São Paulo, Kaká teve uma infância privilegiada pela boa condição de seus pais, mas isso não impediu que passasse por um momento difícil: aos dezoito anos, enquanto se divertia em uma piscina, sofreu uma fratura na espinha dorsal, lesão que quase o deixou paralisado, o que impediria a sua carreira no futebol.[5] "Em outubro de 2000. Eu estava disputando o Campeonato de Juniores. Fui visitar meus avós paternos em Caldas Novas, e lá fui descer num escorregador de piscina, um toboágua. Quando caí na água, bati a cabeça no fundo da piscina e torci o pescoço. Aquela virada causou a fratura de uma vértebra. Os médicos diziam que eu tinha muita sorte por ainda poder andar normalmente. Eles falando em sorte e minha família falando em Deus. Em casa, nós sempre agradecíamos a Deus porque sabíamos que tinha sido a mão e o livramento d'Ele que tinha me protegido."

São Paulo
Despontando em seu primeiro ano
Kaká estreou como profissional em 7 de março de 2001, contra o Botafogo, na final do Torneio Rio-São Paulo de 2001, jogo vencido por 2-1 pelo São Paulo. Ainda conhecido como Cacá, entrou no decorrer do jogo e fez dois gols em dois minutos, aos 34 e 36 do segundo tempo, fato que deu a vitória de virada sobre o clube carioca. O São Paulo foi o campeão do torneio, conquistando o único título oficial que ainda não havia conquistado. Logo, seu apelido fica com a letra K no lugar do C [6] e torna-se novo ídolo da torcida tricolor, surgindo comparações a Raí, que jogava na mesma posição do meio de campo e que, como o novo talento, desfrutava de grande carisma e assédio do público feminino em especial, pela imagem de galã e de bom moço.[7]
Em dez meses, tão querido quanto Rogério Ceni e França,[8] Kaká cumpre sete dos dez objetivos que havia traçado no final do ano anterior para a sua carreira: desde voltar a jogar futebol, após um acidente que quase o deixou paraplégico, a manter-se entre os titulares do São Paulo após jogar o Mundial Sub-20 pela Seleção Brasileira.[8] Apesar de alternar atuações boas e outras discretas, é um dos líderes do São Paulo no Campeonato Brasileiro de 2001, do qual deixa sobre uma maca, após violenta falta cometida nele por Cocito, na eliminação frente ao futuro campeão Atlético Paranaense.[6]
Protagonista no Tricolor
Foi chamado para a Seleção Brasileira principal (seu oitavo objetivo; jogar por ela era o nono) no ano seguinte, e convocado para a Copa do Mundo de 2002, onde fez parte do time misto que jogou já classificado contra a Costa Rica, na primeira fase.[6] Foi à Ásia como azarão[9] - o favorito para a vaga era o experiente Djalminha, preterido pelo técnico Luiz Felipe Scolari após desferir cabeçada em seu treinador no Deportivo La Coruña, Javier Irureta.[10]
A experiência na Copa e ter saído dela como campeão, embora jogado apenas cerca de vinte minutos, fez bem ao novato:[11] foi um dos líderes da boa campanha sãopaulina no Brasileirão que se seguiu, em que o São Paulo terminou a primeira fase do campeonato disparado na liderança, com ele mais maduro e se responsabilizando para armar as jogadas do time.[12] Seu desempenho no torneio, onde marcou nove vezes e distribuiu várias assistências para Reinaldo e Luís Fabiano,[13] lhe renderia a Bola de Ouro da Placar. Entretanto, nas oitavas-de-final, faz duas partidas ruins contra o rival Santos, que, vindo da oitava colocação, vence os dois clássicos, elimina o Tricolor e segue rumo ao título.
A eliminação precoce lhe renderia os primeiros atritos com a torcida..[6] A pecha de "amarelão" aumenta com outro título perdido a seguir, o Paulistão de 2003, em que ele, com um estiramento na coxa, não joga a final contra o Corinthians. Mesmo sem jogar, é apontado como culpado pelos torcedores pelos resultados ruins da equipe,[14] bem como na eliminação na Copa do Brasil, pelo Goiás.[6] Kaká chegou a disputar o Campeonato Brasileiro de 2003, quando finalmente recebe convite para transferir-se para um grande clube europeu da Itália ou Espanha, a última meta que ele havia traçado dois anos antes.[8]
Milan
Chegada


Kaká em partida pelo Milan
Em 2003, embora houvesse uma proposta de €12 milhões do Chelsea, Kaká preferiu o ambiente recém-campeão europeu e de ambiente brasileiro do Milan (que contava com Dida, Cafu, Roque Júnior, Serginho, Rivaldo e o cartola Leonardo, um dos responsáveis pela sua contratação e seu ex-colega de São Paulo, em 2001),[15] numa transação inicialmente programada apenas para o verão seguinte,[16] e apressada justamente pelo interesse do clube inglês.
O acerto da transferência de Kaká para o clube de Milão foi fechado por €8,5 milhões. Devido ao destaque que vinha tendo no São Paulo, este valor foi considerado muito baixo pelos torcedores do tricolor e jornalistas esportivos, além de ter sido ridicularizado pelo presidente do Milan, Silvio Berlusconi, que, com seu característico bom-humor, batizou a contratação de Kaká como "preço de banana".[16]
Chegou para ser reserva, mas, surpreendendo a todos, desbancou o português Rui Costa (e também a Rivaldo) ainda no primeiro turno e transformou-se no principal astro da equipe, ao lado de Andriy Shevchenko.[17] Em dois meses sua camisa já estava entre as mais vendidas do clube,[16] tornando-se ídolo logo no início do campeonato, ao dar passe de 30 metros para Shevchenko marcar o gol da vitória contra o Ancona, logo em sua estreia pela Serie A[18] e, rodadas depois, ao marcar um dos gols da vitória por 3 x 1 sobre a rival Internazionale, em partida em que peitou o argentino e carniceiro adversário Kily González. "Eu precisava me impor naquele momento. Não por maldade, mas para mostrar que estava ali de fato, que vim para ficar, que não era só um garoto", declarou.[16]
Eleito o melhor da partida em diversos jornais, tornou-se o primeiro jogador latinoamericano a fazer parte de campanha mundial da Adidas, da qual também entrou no grupo dos cinco atletas mais importantes, desbancando Oliver Kahn.[16] Foi eleito pelo Guerin Sportivo também o melhor jogador da campanha que levou o Milan novamente ao título italiano depois de cinco anos, marcando dez gols em seus trinta jogos no campeonato.
As decepções ficaram na Liga dos Campeões: defendendo o título, o Milan venceu a partida de ida contra o La Coruña, no San Siro, por 4 x 1, com Kaká marcando duas vezes. Na partida de volta, na Espanha, os galegos conseguiram espantosamente reverter o resultado e vencer por 4 x 0, eliminando os rossoneri nas quartas-de-final; e quanto ao sonho de participar das Olimpíadas de 2004, mas a Seleção foi eliminada ainda no torneio pré-olímpico, do qual ele não foi liberado pelo Milan para participar.[19]
Já como estrela mundial


Kaká em treinamento com a Seleção Brasileira
Na temporada seguinte, a de 2004/05, com Kaká já intocável, mas sendo melhor conhecido entre os adversários da Serie A, o time não teve o mesmo desempenho. Em determinado momento do campeonato, com o título cada vez mais próximo da Juventus, o Milan abriu mão da competição, escalando reservas para priorizar a Liga dos Campeões.[20] A equipe chegou à final, eliminando no caminho a rival Internazionale. Na decisão, favorita, abriu 3 x 0 no primeiro tempo sobre o oponente, os ingleses do Liverpool. Na segunda etapa, novo revés espantoso, com o clube britânico empatando em seis minutos o placar, no que ficou conhecido como Milagre de Istambul, cidade onde foi realizada a partida. O título foi decido nos pênaltis e, abalados, os milanistas perderam, com Kaká sendo um dos dois únicos do Milan que acertaram as cobranças, junto com o colega dinamarquês Jon Dahl Tomasson. A nova decepção é compensada com o título na Copa das Confederações de 2005 sobre a rival Argentina, em que Kaká fez o segundo gol na vitória por 4 x 1.
A estratégia do Milan repete-se na temporada seguinte, com o time ficando em segundo no italiano, atrás da campeã Juventus, para tentar novo título europeu. Na Liga dos Campeões, entretanto, a equipe é parada nas semifinais pelo Barcelona de Ronaldinho Gaúcho, com quem foi à Copa do Mundo de 2006 como dois dos componentes do "quadrado mágico", composto também por Ronaldo e Adriano. Kaká inicia a Copa como protagonista da Seleção, marcando o gol da vitória apertada de 1 x 0 sobre a Croácia na estreia.
Entretanto, passou a ter desempenho aquém do primeiro jogo e afundou com o resto do time na eliminação frente à França,[6] em partida em que foi um dos piores em campo.[21] Atribuiu a má atuação a fortes dores no joelho, que fizeram-lhe jogar no sacrifício.[22]
Melhor do Mundo
Ainda assim, é bastante assediado pelo Real Madrid após a Copa,[23] tornando-se a estrela máxima do Milan com a saída de Shevchenko,[24] seu melhor amigo no elenco.[25] Na seleção, é a primeira estrela do fiasco na Copa a ser chamada pelo novo técnico, Dunga, que adota como medida pô-las inicialmente na reserva.[6]


Kaká com sua seleção nacional, no final de 2006
Logo conquistou a confiança deste, não criando polêmicas e marcando inclusive belíssimo gol de arrancada em sua reestreia, em amistoso contra a Argentina vencido por 3 x 0.[6] A temporada segue com Kaká demonstrando sua melhor fase desde a de sua chegada na Europa, culminando finalmente em título na Liga dos Campeões, vencido em revanche contra o Liverpool. Não marcou na decisão, mas foi o artilheiro do torneio, marcando dez gols, quatro cruciais: o da vitória sobre o retrancado Celtic, nas oitavas-de-final, e três na vitória agregada de 5 x 3 nas semifinais, contra o Manchester United (os dois na derrota por 2 x 3, no jogo de ida, e um na vitória por 3 x 0 na volta).
O desempenho decisivo lhe rendeu ao final de 2007, quando já tinha seu irmão Digão alçado ao time principal,[26] os prêmios de melhor do mundo pela FIFA e do Ballon d'Or da France Football.
2007-2008 viu Kaká formar no Milan um trio brasileiro denominado Ka-Pa-Ro (uma referência ao trio sueco Gre-No-Li, que fizera sucesso no clube nos anos 1950), com os reforços de Alexandre Pato e Ronaldo, mas o time não se deu bem no italiano, não se classificando para a Liga dos Campeões de 2008-09. Na edição de 2007/08 do torneio, o detentor do título foi eliminado logo nas oitavas-de-final pelo Arsenal. A nova temporada iniciou-se com Ronaldinho Gaúcho substituindo o xará Fenômeno (que deixara lesionado o time, no início de 2008) na sigla do trio e com o clube tendo de contentar-se em disputar a Copa da UEFA, com o consolo de jamais ter conquistado o troféu. Nesta competição, todavia, os rossoneri foram eliminados no início do mata-mata.
Saída
Em meio à temporada, Kaká balançou com tentadora proposta de €105 milhões do Manchester City, novo-rico clube da Inglaterra.[27] Embora pressionado pelos próprios dirigentes do Milan e por parte da família,[28] recusou o que seria a mais cara transferência do futebol mundial e permaneceu no Milan, ajudando-o a voltar a classificar-se para a Liga dos Campeões do ano seguinte: na última rodada, em confronto direto contra a Fiorentina, fora de casa, Kaká marcou o primeiro o gol e deu a assistência ao outro na vitória por 2 x 0.[29]
Especulações na imprensa que davam como certa sua transferência para o Real Madrid vieram na semana que se seguiu, o que foi confirmado no dia 8 de junho de 2009, em valores estimados em €65 milhões por um contrato de seis anos com o clube madrilenho.[30][31]
Real Madrid


Apresentação de Kaká no Real Madrid
Sua chegada ao Real Madrid, pouco tempo após a eleição de Florentino Pérez à presidência do clube, marcou uma volta à era galáctica (em que Pérez era o presidente) dos merengues, sensação intensificada com a contratação, dois dias depois, de seu sucessor nos prêmios de melhor do mundo, o português Cristiano Ronaldo.
A primeira temporada, no entanto, acabaria frustrante para as expectativas merengues: apesar dos reforços caros (que incluíam também Raúl Albiol, Xabi Alonso e Karim Benzema), o Real não conseguiu nenhum título. No campeonato espanhol, perseguiu o arquirrival Barcelona até a última rodada, com o título ficando com os catalães, cujas vitórias nos dois clássicos mostraram-se decisivas. Na Copa do Rei, os blancos caíram frente a uma equipe da terceira divisão. Na Liga dos Campeões da UEFA, torneio prioritário, inclusive pelo fato de a decisão estar programada para o Santiago Bernabéu, a eliminação veio nas quartas, para o Lyon.
Além da falta de troféus, Kaká conviveu com críticas ao futebol aquém do esperado, ainda por cima ofuscado com as boas atuações de Cristiano Ronaldo.[22] Seu rendimento foi prejudicado por pubalgias, que lhe fizeram ficar fora dos gramados duas vezes por mais de um mês.[22] A torcida madridista deu sinais de impaciência, com alguns exaltados afirmando que o brasileiro estaria se poupando para a Copa do Mundo de 2010.[22] Ao ser substituído no jogo em que o time terminaria elimado pelo Lyon, sofreu vaias e demonstrou irritação pela substituição, com seu assessor de imprensa polemizando ao fazer declarações contra o técnico Manuel Pellegrini no twitter.[22]

8 de novembro de 2009

Da sedução dos anjos


Da sedução dos anjos

Anjos seduzem-se: nunca ou a matar.
Puxa-o só para dentro de casa
e mete-lhe a língua na boca e os dedos sem frete

Por baixo da saia até se molhar
Vira-o contra a parede, ergue-lhe a saia
E fode-o. Se gemer, algo crispado
Segura-o bem, fá-lo vir-se em dobrado

P'ra que do choque no fim te não caia.
Exorta-o a que agite bem o cu
Manda-o tocar-te os guizos atrevidos
Diz que ousar na queda lhe é permitido

Desde que entre o céu e a terra flutue
-Mas não o olhes na cara enquanto fodes
E as asas, rapaz, não lhas amarrotes.

(Tradução de Aires Graça)

Bertolt Brecht

Corpo de mulher


Corpo de mulher
Corpo de mulher, alvas colinas, coxas brancas,
ao mundo te assemelhas em teu ato de entrega.
O meu corpo selvagem de camponês te escrava
e faz saltar o filho das entranhas da terra.
Fui um túnel vazio. De mim fugiam pássaros
e a noite me infiltrava sua invasão resoluta.
Para sobreviver forjei-te qual uma arma,
uma flecha em meu arco e pedra em minha funda.
Tomba porém a hora da vingança e eu te amo.
Corpo de pele e musgo, de leite ávido e firme.
Ah os vasos do peito! Ah os olhos de ausência!
Ah as rosas do púbis! Ah tua voz lenta e triste!
Corpo de mulher minha, persisto em tua graça.
Minha ânsia sem limites, meu caminho indeciso!
Sulcos escuros onde a sede corre,
onde a fadiga corre, e a dor, este infinito.

Pablo Neruda

Fotos de:
Philippe Pache

Cometi Um Erro


Cometi Um Erro

Estou escrevendo para, em primeiro lugar, pedir-lhe desculpas. Cometi um imenso erro, talvez o maior de toda a minha vida, quando briguei com você...
Desculpe-me, por favor. Talvez, num momento de infeliz destempero, eu não tenha percebido o quanto o seu carinho e amizade são importantes para mim.
Gosto de você, confio em você, e não suporto a idéia de nunca mais falar contigo, de nunca mais me dirigir a você olhando para os seus olhos sinceros, que de tão sinceros quase chegam a mostrar o caminho para o seu coração...
Desculpe-me, mais uma vez. Agi feito uma grande idiota, pois logo em seguida percebi o quanto você me faz falta.
Chego a pensar, inclusive, que o meu equívoco tenha se originado graças a uma frustração, pois começa a se cristalizar a idéia de que a sua amizade me é muito pouco: acho que estou apaixonada por você...
Perdoa e telefona!

Um beijo,

Asas Para Voar


Asas Para Voar


falou:
"Senhor... visitei sua criação como pediu.
Fui a todos os cantos.
Estive no sul, no norte.
No leste e oeste.
Vi e fiz parte de todas as coisas.

Observei cada uma de suas crianças humanas.
E por ter visto, vim até o senhor... para tentar entender.
Por que? Por que cada uma das pessoas sobre a terra tem
apenas uma asa?
Nós anjos temos duas... podemos ir até o amor que o senhor
representa sempre que desejarmos. Podemos voar para
a liberdade sempre
que quisermos.
Mas os humanos com sua única asa não podem voar".

E Deus respondeu:
"Eles podem voar sim meu anjo.
Dei aos humanos apenas uma asa para que eles pudessem voar
mais e melhor que Eu ou vocês meus arcanjos...
Para voar, meu amigo, você precisa de suas duas asas...
Embora livre, sempre estará sozinho.
Talvez da mesma maneira que Eu...

Mas os humanos... os humanos com sua única
asa precisarão
sempre dar as mãos para alguém a fim de terem suas
duas asas.
Cada um deles tem na verdade um par de asas... uma outra asa
em algum lugar do mundo que completa o par.
Assim eles aprenderão a respeitarem-se pois ao
quebrar a única
asa de outra pessoa podem estar acabando com as suas próprias
chances de voar.

Assim meu anjo, eles aprenderão a amar verdadeiramente
outra
pessoa... aprenderam que somente permitindo-se
amar eles poderão
voar. Tocando a mão de outra pessoa em um abraço correto e
afetuoso eles poderão encontrar a asa que lhes falta... e poderão
finalmente voar.
Somente através do amor irão chegar até onde estou... assim como
você meu anjo. E eles nunca... nunca estarão sozinhos quando
Certo dia, um anjo ajoelhou-se aos pés de Deus e forem voar."


Pela transcrição: Antonio Carlos.

Aqui e Agora


Aqui e Agora


Às vezes, sinto que gostavas de apagar, para sempre, todos os traços do meu passado como se nunca tivessem existido, da mesma forma que me pedes para guardar debaixo do forro de papel da gaveta, as fotografias das mulheres que conheci. Sei que o meu passado te pesa cada vez que o presente o resgata, em telefonemas rápidos e cordiais que vou recebendo de outras mulheres que já passaram pela minha vida e com quem criei esse laço raro e difícil que sucede à desordem do amor quando este se extingue depois da dor e o segredo da pele já se esgotou. Em vão te explico que essas mulheres passaram com a leveza de uma pena ou a intensidade de uma tempestade. Nunca as vejo, mas também não preciso, primeiro porque a minha vida és tu, e por isso não fazem parte dela e depois porque em todas elas descobri coisas de que não gostava e foi isso que me ajudou a amar-te melhor.
Mas vocês não percebem isto nos homens; chamam-nos predadores, animais, insensíveis, como se não tivéssemos honra nem princípios nem coração. Nenhum homem quer magoar uma mulher, olhamo-vos com um misto de medo, admiração e incompreensão e se pudéssemos, construíamos um pedestal e uma escada para vocês subirem, mesmo que seja por escassas semanas. O que damos é o que temos de melhor, sem pensar porquê, nem como, nem até quando.
Mas vocês não, têm sempre que questionar tudo, inventar segredos e intenções em cada movimento que fazemos.
O que conta é o que vivo contigo, aqui e agora, que a pureza de sentir é não ter que pensar que amanhã ficarei triste se partires, e feliz se ainda me quiseres guardar, por isso, esquece o passado e não temas o futuro, porque tudo e nada está nas nossas mãos e é por isso que para nós o amor é uma coisa fácil, simples e transparente. Ou se ama, ou não se ama, e se eu sinto que te amo, sem ter de pensar se é verdade ou não, é porque deve mesmo ser, não achas?

Artista de Circo, Margarida Rebelo Pinto

Ao Anjo da Guarda


Ao Anjo da Guarda "


Em teu silêncio minha vida dispersa
se recolhe qual onda calma no canto da derradeira luz.

Em tua oração minha sede infinita se apaga
qual súbito veio de água na grama da árida montanha

Em teu amor meu coração se purifica
na confiança qual lamparina iluminada pelo jorrar do óleo.

Oh! Anjo do Louvor e da eterna contemplação,
Anjo em adoração, toma em tuas puras mãos,
o breve fulgor de minha vida e torna-a
um Hosana de fogo que não se apaga mais.


Mª Pia Giudici