19 de janeiro de 2015

A república dos companheiros

A república dos companheiros

Deputados eleitos pelo PT, a maior bancada da Câmara, dividem apartamentos em Brasília e preservam o espírito de coletividade

Leila Youssef


João Magno (E), o amigo Edmo, Iara Bernardi, Luiz Sérgio e Angela Guadagnin: petistas unidos no café da manhã
BRASÍLIA - O fato de o PT ter conseguido eleger a maior bancada na Câmara do Deputados não vai mudar só o perfil das decisões políticas do Congresso, mas também o jeito de viver na capital do poder. Porque companheiro que é companheiro faz de tudo para manter tradições de coletividade. E alguns dos novos petistas eleitos que estão procurando lugar para morar em Brasília colocaram entre suas opções a formação de repúblicas.
Não dá para dizer, é claro, que são repúblicas totalmente aos moldes da época de faculdade. Agora no poder, os petistas podem se unir em belos apartamentos de quase 200 metros quadrados. E o que é melhor, sem pagar nada. Para quem quer saber se a experiência dá certo ou não, é só perguntar aos correligionários Luiz Sérgio (RJ), Angela Guadagnin (SP), João Magno (MG) e Iara Bernardi (SP). Os quatro foram reeleitos e dividem o mesmo teto desde 1998. Na linguagem partidária, pode-se dizer que convivem muito bem no seu núcleo de base domiciliar, obedecendo inclusive a direitos e deveres.

Jaques Wagner e Olívio Dutra, hoje ministros, já viveram em ‘república’

Angela se encarrega das finanças e, por ser médica, ainda presta atendimento a seus companheiros. Iara, cuida da alimentação. Ela faz questão de preparar suas três refeições diárias e acaba dividindo com todos. Mas, como na exploração de serviços deve haver igualdade, os homens também têm as suas. Luiz Sérgio, que é ex-prefeito de Angra dos Reis, prefere ser o animador da turma, mas vai ao supermercado, às vezes. Iara diz que ficaria feliz se ele trocasse mais lâmpadas na casa. João Magno, ex-prefeito de Ipatinga, também vai ao supermercado. Além disso, é o orientador espiritual do grupo: o mais zen, que coloca músicas de meditação e espalha incensos pela casa. A limpeza pesada fica por conta da diarista que vai uma vez por semana e ganha R$ 50 por dia. A hora sagrada para eles, por exemplo, é o café da manhã, quando todos estão juntos.
No dia da posse de Lula, 19 convidados na república
“Aqui nós obecedemos à regra do bom senso para conviver bem. Ninguém bagunça as áreas comuns, lavamos louça de vez em quando e não enchemos a casa com convidados, sem avisar”, diz Angela. Mas essa regra caiu por terra no dia da posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A república abrigou 19 convidados naquele dia. Os colchonetes foram espalhados pela sala, pelos quatro quartos e nos dois quartos de serviço – que, aliás, eles não chamam de “quarto de empregada”, e sim de hóspedes.
Todos racham as despesas por igual, exceto Angela. O apartamento, cedido pela Câmara, está em nome dela e, por isso, a deputada perde o direito ao auxílio-moradia em dinheiro, no valor de R$ 2.150. Os outros três retiram o dinheiro e dividem as despesas, em torno de R$ 600 para cada um. Angela também teve direito a escolher o seu quarto, a única suíte.



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