Biografia de Maysa
vasculha diários íntimos 30 anos após sua morte
Nesta segunda-feira (22), completam-se os 30 anos da morte da cantora Maysa. No próximo mês, ela ganha uma alentada biografia --"Maysa: só numa multidão de amores" (Editora Globo)-- escrita pelo jornalista Lira Neto (leia trechos). Durante dois anos, o autor mergulhou no arquivo particular de Maysa, que lhe foi aberto pelo filho da cantora, o diretor de cinema e televisão Jayme Monjardim, atualmente trabalhando em "Páginas da Vida".
Foram pesquisados cerca de 30 kg de material (diários íntimos, cartas, bilhetes, fotografias e 100 mil recortes de jornais e revistas, do Brasil e do exterior). Com 450 páginas, o livro traz uma coleção de fotos raras e inéditas. No meio da montanha de papéis liberados por Monjardim, havia até mesmo um esboço de autobiografia, escrita por Maysa em 1972.Neto fez 200 entrevistas, com pessoas que conviveram direta ou indiretamente com Maysa, desde colegas e professoras de escola a ex-namorados, músicos, cantores, compositores, empresários, amigos e parentes. Vida tumultuada"Jayme Monjardim foi de uma extrema generosidade, e não me pediu absolutamente nada em troca, a não ser que fizesse um livro o mais fiel possível à vida tumultuada e intensa de Maysa, uma mulher que viveu sob o signo da ousadia e da transgressão", diz Neto. "As biografias ditas 'autorizadas' são vistas com certa desconfiança, mas esse não é o caso. Tive completa independência para escrever sobre tudo o que apurei durante a fase de pesquisa para o trabalho.""Maysa: só numa multidão de amores" promete muitas novidades e revelações para os fãs da cantora. "Maysa gostava de plantar pistas falsas sobre sua vida, inventava histórias fantasiosas, que fizeram muita gente que já escreveu sobre ela comer mosca", diz o autor.
Drogas, álcool e suicídioUma das maiores lacunas sobre a vida da cantora, relacionada aos quase oito anos que viveu fora do Brasil, são inteiramente elucidados no livro. A dependência química ao álcool, as internações em clínicas de desintoxicação, as tentativas de suicídio, os inúmeros casos amorosos vividos pela cantora, tudo será tratado com "transparência", afirma o autor. "O livro mostra os bons e maus momentos da personagem, seus instantes de glória e de fracasso. É um retrato de corpo inteiro de Maysa, para que o leitor possa compreender as motivações da artista e da mulher. Afinal, poucos tiveram vida e arte ligadas de forma tão indissociável quanto ela." Maysa morreu em 22 de janeiro de 1977, em uma acidente de carro na ponte Rio-Niterói. Tinha apenas 40 anos. "O que poucos conseguiam entender era como podia ser possível que, quanto mais bebesse, melhor Maysa cantasse", cita o livro.Confira trechos da biografia de Maysa
Confira trechos da biografia "Maysa: só numa multidão de amores" (Editora Globo), escrita pelo jornalista Lira Neto, com lançamento previsto para fevereiro.
Quem se debruçar sobre a coleção de jornais do Rio de Janeiro e de São Paulo naquele ano de 1958 vai chegar a uma assombrosa constatação: entre 1° de janeiro e 31 de dezembro não houve um único dia --e isso, acredite-se, não é força de expressão-- em que Maysa não tenha sido notícia em pelo menos um órgão da imprensa carioca ou paulista. Quando não estava sendo incensada nas páginas de crítica musical ou torpedeada nas colunas de fofocas, a onipresente Maysa rendia assunto quente até para o noticiário político. Diante da enorme popularidade que desfrutava, surgiram rumores de que ela havia sido sondada pelo diretório do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), no Rio, sobre uma possível candidatura a deputada federal. A idéia teria partido de ninguém menos do que João Goulart, o Jango, vice do presidente Juscelino Kubitscheck. Enquanto isso, em São Paulo, informações de bastidores davam conta de que o prefeito Adhemar de Barros havia convidado a cantora para disputar uma cadeira de vereadora, pelo Partido Social Progressista (PSP), na Câmara Municipal paulistana. "Jango e Adhemar convidaram Maysa Matarazzo", trombeteou o Última Hora. Ao ler aquilo, Maysa tratou de convocar uma entrevista coletiva para desmontar a central de boatos: "Não serei candidata nem sou mais Matarazzo", esbravejou.
Separada, Maysa buscava encontrar a felicidade. Mas, ao contrário, enfrentou crises seguidas de depressão, que resultaram em pelo menos dois graves problemas simultâneos e, de certa forma, complementares: passou a comer avidamente e a beber de forma desregrada. Voltou a engordar horrores e a dar pequenos e grandes vexames em público, trocando o dia pela noite. Nos programas de tevê, exigia que só a filmassem do pescoço para cima. Mudou todo o guarda-roupa e só se apresentava com roupa preta, o que além de disfarçar a gordura acentuava a aura dark de sua imagem. "Comecei a viver à noite e, durante o dia, vegetava dentro de casa", revelaria Maysa, ao recordar aquele tempo em que chegou a passar novamente dos 90 quilos. "Só saía de dia para ir à praia nos desertos da Barra da Tijuca: era a única forma de pôr um maiô, pois não havia ninguém por lá. Comprei um terreno, construí uma casa e alimentava ali a minha solidão e a minha falta de perspectivas. Quando era preciso cumprir algum compromisso, bastava aliviar a tensão com alguns drinques".
Os telespectadores logo começaram a perceber que havia algo errado com Maysa. Muitas vezes ela chegou a cambalear diante das câmeras, durante a apresentação de seus programas. Os objetos do cenário --um poste aqui, uma coluna grega acolá-- passaram a funcionar como providenciais pontos de apoio, nos quais ela se segurava para não cair em pleno palco. As duas doses de antes, "pra dar coragem", estavam sendo substituídas agora por litros de vodca e uísque. O rosto de Maysa igualmente denunciava que alguma coisa não ia realmente bem com a estrela. Os raros sorrisos, muitas vezes carregados de amarga ironia, agora acentuavam a característica curvatura que possuía o lábio superior, voltado ligeiramente para baixo, o que lhe atribuía um certo semblante de tristeza até quando ria. Mas o que poucos conseguiam entender era como podia ser possível que, quanto mais bebesse, melhor Maysa cantasse.
"Ela é uma coitada, uma infeliz, uma alcoólatra, uma gorda", censurou-lhe a revista Escândalo. Quando uma atormentada Maysa enfiou seu fusquinha verde na traseira de um caminhão em Copacabana, exatamente naquele final de 1958, a imprensa teve uma das manchetes mais escandalosas de todos os tempos sobre ela. E, dessa vez, Maysa não podia negar, esconder-se atrás de um desmentido. "Maysa, bêbada e ferida, foi atendida em pronto-socorro", noticiou a Folha da Noite. Disseram que era o fim. Previram sua retirada de cena. Falaram que o rosto ficaria deformado para sempre, com uma enorme cicatriz. Era uma vez a Cinderela às avessas. O que poucos podiam prever era que aquela seria apenas a primeira das muitas destruições e reconstruções que Maysa faria de sua vida-- e de si mesma.
"Deusa da fossa", Maysa ganha biografia 30 anos após sua morte
KARINA KLINGERda Folha OnlineO diretor global Jayme Monjardim, 49, deu o aval para a publicação da biografia de sua mãe, a cantora Maysa (1936-1977) --considerada a "rainha da fossa" por cantar a tristeza e a melancolia em clássicos da MPB como "Meu Mundo Caiu" e "Se Todos Fossem Iguais a Você".
Prevista para chegar às livrarias em 2007 --30 anos após sua morte em um acidente de carro na ponte Rio-Niterói--, a obra será escrita pelo jornalista e escritor Lira Neto, 41.Sucesso nas décadas de 60 e 70, a intérprete e compositora Maysa, cujo nome completo era Maysa Figueira Monjardim Matarazzo, ficou conhecida por interpretar clássicos como "Ouça", "Meu Mundo Caiu", "Resposta" e "Felicidade Infeliz", entre outros. Célebre por interpretar músicas de fossa e dor-de-cotovelo, a cantora também foi um ícone da bossa nova, sendo uma das primeiras vozes a levar esse gênero musical para terras estrangeiras. Fã de Maysa, Lira Neto foi autorizado por Monjardim, filho único da cantora, a revirar o baú da família, repleto de correspondência, escritos inéditos e recortes de
jornais e revistas da época. "O primeiro passo foi recuperar a sua discografia, que está fora de catálogo; confesso que não foi fácil, percorri uma série de sebos em São Paulo e, pela internet, contatei lojas que vendem vinis em outras capitais brasileiras", conta o escritor.
Segundo o pesquisador, Maysa era uma intérprete versátil, que com sua voz rouca imortalizou canções brasileiras e também em outros idiomas, como o inglês, o francês e até mesmo o turco. Nos anos 50, ela mostrou coragem ao deixar o marido milionário para dedicar-se exclusivamente à música, já que ele não aceitava a sua carreira.Profissionalmente, argumenta o escritor, a cantora viveu um momento importante na história da música brasileira, a transição do samba-canção dos anos 40 e 50 para a moderna MPB. "Ela foi uma das grandes divas que vieram depois de Dolores Duran e Aracy de Almeida", diz Neto.Apesar do aval da família, permitindo acesso livre ao arquivo daintérprete, Lira Neto tem um desafio pela frente. Afinal, a vida de Maysa sempre foi alvo de fofocas. Na década de 60, além dos problemas que teve com a bebida, a imprensa vivia lhe atribuindo "namoricos" e casos tórridos. "Pretendo mostrar todas as faces de Maysa, seus bons e maus momentos, suas alegrias e suas dores, enfim, traçar um retrato de corpo inteiro de uma mulher que ousou romper com o bom-mocismo e os preconceitos de sua época", diz o autor, que já iniciou a fase de entrevistas para o livro, que deverá ter cerca de 500 páginas.José de AlencarO último trabalho de Neto foi "Castello - A Marcha para a Ditadura", biografia do ex-presidente Castello Branco, um dos finalistas do Prêmio Jabuti deste ano na categoria "reportagem e biografia". A obra recebeu avaliações positivas, como a do jornalista Fernando Morais ("Chatô -O Rei do Brasil" e "Olga"), e de a de Elio Gaspari, autor de uma série de livros sobre o regime militar como "A Ditadura Derrotada" (2003) e "A Ditadura Encurralada" (2004).A biografia sobre Castello chegou no ano passado a ficar entre os mais vendidos em rankings de vendas de algumas livrarias, como a Cultura. Atualmente, o escritor finaliza a biografia do romancista José de Alencar (1829-1877). Antes de se dedicar à carreira de escritor, Neto foi ex-ombudsman do jornal "O Povo", editado no Ceará. Neto estreou como biógrafo em 1999 com o lançamento de "O Poder e a Peste - A Vida de Rodolfo Teófilo" sobre a vida do farmacêutico baiano Rodolfo Teófilo (1853-1932), autor do romance "A Fome" (1890), um clássico da literatura brasileira
Nesta segunda-feira (22), completam-se os 30 anos da morte da cantora Maysa. No próximo mês, ela ganha uma alentada biografia --"Maysa: só numa multidão de amores" (Editora Globo)-- escrita pelo jornalista Lira Neto (leia trechos). Durante dois anos, o autor mergulhou no arquivo particular de Maysa, que lhe foi aberto pelo filho da cantora, o diretor de cinema e televisão Jayme Monjardim, atualmente trabalhando em "Páginas da Vida".
Foram pesquisados cerca de 30 kg de material (diários íntimos, cartas, bilhetes, fotografias e 100 mil recortes de jornais e revistas, do Brasil e do exterior). Com 450 páginas, o livro traz uma coleção de fotos raras e inéditas. No meio da montanha de papéis liberados por Monjardim, havia até mesmo um esboço de autobiografia, escrita por Maysa em 1972.Neto fez 200 entrevistas, com pessoas que conviveram direta ou indiretamente com Maysa, desde colegas e professoras de escola a ex-namorados, músicos, cantores, compositores, empresários, amigos e parentes. Vida tumultuada"Jayme Monjardim foi de uma extrema generosidade, e não me pediu absolutamente nada em troca, a não ser que fizesse um livro o mais fiel possível à vida tumultuada e intensa de Maysa, uma mulher que viveu sob o signo da ousadia e da transgressão", diz Neto. "As biografias ditas 'autorizadas' são vistas com certa desconfiança, mas esse não é o caso. Tive completa independência para escrever sobre tudo o que apurei durante a fase de pesquisa para o trabalho.""Maysa: só numa multidão de amores" promete muitas novidades e revelações para os fãs da cantora. "Maysa gostava de plantar pistas falsas sobre sua vida, inventava histórias fantasiosas, que fizeram muita gente que já escreveu sobre ela comer mosca", diz o autor.
Drogas, álcool e suicídioUma das maiores lacunas sobre a vida da cantora, relacionada aos quase oito anos que viveu fora do Brasil, são inteiramente elucidados no livro. A dependência química ao álcool, as internações em clínicas de desintoxicação, as tentativas de suicídio, os inúmeros casos amorosos vividos pela cantora, tudo será tratado com "transparência", afirma o autor. "O livro mostra os bons e maus momentos da personagem, seus instantes de glória e de fracasso. É um retrato de corpo inteiro de Maysa, para que o leitor possa compreender as motivações da artista e da mulher. Afinal, poucos tiveram vida e arte ligadas de forma tão indissociável quanto ela." Maysa morreu em 22 de janeiro de 1977, em uma acidente de carro na ponte Rio-Niterói. Tinha apenas 40 anos. "O que poucos conseguiam entender era como podia ser possível que, quanto mais bebesse, melhor Maysa cantasse", cita o livro.Confira trechos da biografia de Maysa
Confira trechos da biografia "Maysa: só numa multidão de amores" (Editora Globo), escrita pelo jornalista Lira Neto, com lançamento previsto para fevereiro.
Quem se debruçar sobre a coleção de jornais do Rio de Janeiro e de São Paulo naquele ano de 1958 vai chegar a uma assombrosa constatação: entre 1° de janeiro e 31 de dezembro não houve um único dia --e isso, acredite-se, não é força de expressão-- em que Maysa não tenha sido notícia em pelo menos um órgão da imprensa carioca ou paulista. Quando não estava sendo incensada nas páginas de crítica musical ou torpedeada nas colunas de fofocas, a onipresente Maysa rendia assunto quente até para o noticiário político. Diante da enorme popularidade que desfrutava, surgiram rumores de que ela havia sido sondada pelo diretório do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), no Rio, sobre uma possível candidatura a deputada federal. A idéia teria partido de ninguém menos do que João Goulart, o Jango, vice do presidente Juscelino Kubitscheck. Enquanto isso, em São Paulo, informações de bastidores davam conta de que o prefeito Adhemar de Barros havia convidado a cantora para disputar uma cadeira de vereadora, pelo Partido Social Progressista (PSP), na Câmara Municipal paulistana. "Jango e Adhemar convidaram Maysa Matarazzo", trombeteou o Última Hora. Ao ler aquilo, Maysa tratou de convocar uma entrevista coletiva para desmontar a central de boatos: "Não serei candidata nem sou mais Matarazzo", esbravejou.
Separada, Maysa buscava encontrar a felicidade. Mas, ao contrário, enfrentou crises seguidas de depressão, que resultaram em pelo menos dois graves problemas simultâneos e, de certa forma, complementares: passou a comer avidamente e a beber de forma desregrada. Voltou a engordar horrores e a dar pequenos e grandes vexames em público, trocando o dia pela noite. Nos programas de tevê, exigia que só a filmassem do pescoço para cima. Mudou todo o guarda-roupa e só se apresentava com roupa preta, o que além de disfarçar a gordura acentuava a aura dark de sua imagem. "Comecei a viver à noite e, durante o dia, vegetava dentro de casa", revelaria Maysa, ao recordar aquele tempo em que chegou a passar novamente dos 90 quilos. "Só saía de dia para ir à praia nos desertos da Barra da Tijuca: era a única forma de pôr um maiô, pois não havia ninguém por lá. Comprei um terreno, construí uma casa e alimentava ali a minha solidão e a minha falta de perspectivas. Quando era preciso cumprir algum compromisso, bastava aliviar a tensão com alguns drinques".
Os telespectadores logo começaram a perceber que havia algo errado com Maysa. Muitas vezes ela chegou a cambalear diante das câmeras, durante a apresentação de seus programas. Os objetos do cenário --um poste aqui, uma coluna grega acolá-- passaram a funcionar como providenciais pontos de apoio, nos quais ela se segurava para não cair em pleno palco. As duas doses de antes, "pra dar coragem", estavam sendo substituídas agora por litros de vodca e uísque. O rosto de Maysa igualmente denunciava que alguma coisa não ia realmente bem com a estrela. Os raros sorrisos, muitas vezes carregados de amarga ironia, agora acentuavam a característica curvatura que possuía o lábio superior, voltado ligeiramente para baixo, o que lhe atribuía um certo semblante de tristeza até quando ria. Mas o que poucos conseguiam entender era como podia ser possível que, quanto mais bebesse, melhor Maysa cantasse.
"Ela é uma coitada, uma infeliz, uma alcoólatra, uma gorda", censurou-lhe a revista Escândalo. Quando uma atormentada Maysa enfiou seu fusquinha verde na traseira de um caminhão em Copacabana, exatamente naquele final de 1958, a imprensa teve uma das manchetes mais escandalosas de todos os tempos sobre ela. E, dessa vez, Maysa não podia negar, esconder-se atrás de um desmentido. "Maysa, bêbada e ferida, foi atendida em pronto-socorro", noticiou a Folha da Noite. Disseram que era o fim. Previram sua retirada de cena. Falaram que o rosto ficaria deformado para sempre, com uma enorme cicatriz. Era uma vez a Cinderela às avessas. O que poucos podiam prever era que aquela seria apenas a primeira das muitas destruições e reconstruções que Maysa faria de sua vida-- e de si mesma.
"Deusa da fossa", Maysa ganha biografia 30 anos após sua morte
KARINA KLINGERda Folha OnlineO diretor global Jayme Monjardim, 49, deu o aval para a publicação da biografia de sua mãe, a cantora Maysa (1936-1977) --considerada a "rainha da fossa" por cantar a tristeza e a melancolia em clássicos da MPB como "Meu Mundo Caiu" e "Se Todos Fossem Iguais a Você".
Prevista para chegar às livrarias em 2007 --30 anos após sua morte em um acidente de carro na ponte Rio-Niterói--, a obra será escrita pelo jornalista e escritor Lira Neto, 41.Sucesso nas décadas de 60 e 70, a intérprete e compositora Maysa, cujo nome completo era Maysa Figueira Monjardim Matarazzo, ficou conhecida por interpretar clássicos como "Ouça", "Meu Mundo Caiu", "Resposta" e "Felicidade Infeliz", entre outros. Célebre por interpretar músicas de fossa e dor-de-cotovelo, a cantora também foi um ícone da bossa nova, sendo uma das primeiras vozes a levar esse gênero musical para terras estrangeiras. Fã de Maysa, Lira Neto foi autorizado por Monjardim, filho único da cantora, a revirar o baú da família, repleto de correspondência, escritos inéditos e recortes de
jornais e revistas da época. "O primeiro passo foi recuperar a sua discografia, que está fora de catálogo; confesso que não foi fácil, percorri uma série de sebos em São Paulo e, pela internet, contatei lojas que vendem vinis em outras capitais brasileiras", conta o escritor.
Segundo o pesquisador, Maysa era uma intérprete versátil, que com sua voz rouca imortalizou canções brasileiras e também em outros idiomas, como o inglês, o francês e até mesmo o turco. Nos anos 50, ela mostrou coragem ao deixar o marido milionário para dedicar-se exclusivamente à música, já que ele não aceitava a sua carreira.Profissionalmente, argumenta o escritor, a cantora viveu um momento importante na história da música brasileira, a transição do samba-canção dos anos 40 e 50 para a moderna MPB. "Ela foi uma das grandes divas que vieram depois de Dolores Duran e Aracy de Almeida", diz Neto.Apesar do aval da família, permitindo acesso livre ao arquivo daintérprete, Lira Neto tem um desafio pela frente. Afinal, a vida de Maysa sempre foi alvo de fofocas. Na década de 60, além dos problemas que teve com a bebida, a imprensa vivia lhe atribuindo "namoricos" e casos tórridos. "Pretendo mostrar todas as faces de Maysa, seus bons e maus momentos, suas alegrias e suas dores, enfim, traçar um retrato de corpo inteiro de uma mulher que ousou romper com o bom-mocismo e os preconceitos de sua época", diz o autor, que já iniciou a fase de entrevistas para o livro, que deverá ter cerca de 500 páginas.José de AlencarO último trabalho de Neto foi "Castello - A Marcha para a Ditadura", biografia do ex-presidente Castello Branco, um dos finalistas do Prêmio Jabuti deste ano na categoria "reportagem e biografia". A obra recebeu avaliações positivas, como a do jornalista Fernando Morais ("Chatô -O Rei do Brasil" e "Olga"), e de a de Elio Gaspari, autor de uma série de livros sobre o regime militar como "A Ditadura Derrotada" (2003) e "A Ditadura Encurralada" (2004).A biografia sobre Castello chegou no ano passado a ficar entre os mais vendidos em rankings de vendas de algumas livrarias, como a Cultura. Atualmente, o escritor finaliza a biografia do romancista José de Alencar (1829-1877). Antes de se dedicar à carreira de escritor, Neto foi ex-ombudsman do jornal "O Povo", editado no Ceará. Neto estreou como biógrafo em 1999 com o lançamento de "O Poder e a Peste - A Vida de Rodolfo Teófilo" sobre a vida do farmacêutico baiano Rodolfo Teófilo (1853-1932), autor do romance "A Fome" (1890), um clássico da literatura brasileira
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