8 de novembro de 2009

Anjo amigo


Anjo amigo "


Só tu tens o dom de me fazer feliz
Tu és a razão do meu viver
És tudo que eu sempre quis
Minha luz, meu caminho, meu querer

A imagem de um anjo que desce
Que me ilumina, em todas as direções
E nas noites de frio me aquece
Ouço sua voz nas canções

Um anjo do céu que escolheu
A minha alma entre outras mil
O mundo todo ele me deu
E meu coração assim o sentiu

A Lua e as Estrelas, todas minhas
O Sol e o Mar em sua imensidão
Os Montes e a Estrada por onde caminhas
Não há tristeza, nem escuridão

Meu anjo, feliz eu sou contigo
E foi Deus que um dia escreveu
Que em você acharia um amigo
Que acharia meu destino, meu eu.

(Clarissa Watanabe)

Amor


Amor
Ninguém consegue entender o Amor,
É um sentimento sem limites
Sem razões
Sem alternativas...
O amor não enxerga a beleza
E nem a riqueza,
Apenas a pureza e a simplicidade.
Não escolhe tempo e nem espaço para surgir.
É algo espontâneo,
O qual nada consegue impedir que se
Transforme num sentimento inexplicável,
O qual te faz passar noites em claro,
E viagens pensando
Sem reações...
Deixando que os pensamentos tomem conta de seu ser,
Te deixando com os olhos arregalados
Por não entender como isso foi acontecer...
E quando o Amor passa de sonhos
Para Realidade, é como se seu ser
Ganhasse asas,
E você conseguisse voar pra qualquer
Lugar do universo.
O segredo do Amor está trancado por sete chaves,
Chaves perdidas as quais todos procuram...
Mas a procura será eterna,
Pois o segredo do Amor é algo sagrado,
Só DEUS tem em mente esse sagrado segredo,
Que será guardado pela
Eternidade!!!

Fabiana Thais Oliveira

Amigos são Anjos


Amigos são Anjos
Os verdadeiros amigos são anjos! Descobri essa irrefutável verdade ao perceber o quanto são raras essas preciosidades que chegam de repente na vida da gente e se alojam devagarzinho em local especial e essencial da nossa existência.No decorrer dos anos, encontramos vários tipos de anjos. Alguns são sonsos, vão se apoderando do nosso carinho como quem não quer nada, até que, quando percebemos, já lhes dedicamos nosso afeto integral... Outros são mais atirados; já chegam mostrando claramente com seus olhos sinceros o quanto nossa amizade é importante para eles... Alguns chegam necessitando de curativos nos ferimentos causados por amigos que não eram anjos... Outros chegam para sarar nossos próprios ferimentos... Alguns são leves e divertidos; nos mostram a alegria da vida... Outros, não menos honestos, nos mostram a seriedade com que a vida deve ser enfrentada... Alguns têm suas qualidades tão à mostra, que a um primeiro olhar já sabemos a que vieram...Outros têm essas mesmas qualidades muito bem guardadas e precisamos ir desvendando-as aos poucos... Alguns esbarram na gente numa esquina qualquer, sem avisar e nos dão carinhos reais, sorrisos reais, proteção real.... Uns não são melhores nem piores que os outros; são apenas diferentes, com suas qualidades que devemos salientar, com seus defeitos que devemos enfrentar (pois quando gostamos temos compromisso de ser fiéis até aos defeitos do nosso anjo). O importante é tentarmos, ao longo das nossas vidas, termos sempre algum anjo com o qual possamos contar nas horas difíceis para nos dar alento... e nas horas alegres para rir com a gente, rir da gente, da vida enfim... O importante é termos anjos... O importante é sermos anjos...
(Autoria: Lucia Padilha

AMIZADE VIRTUAL


AMIZADE VIRTUAL

Esta mensagem é uma homenagem ao amigo virtual.
Ao contrário do que muitas pessoas pensam, a amizade virtual não é fria, impessoal e desprovida de sentimento. Não, bem pelo contrário, a amizade virtual é singela, surpreendente e sincera.
O amigo virtual é aquele que mesmo nunca tendo nos visto pessoalmente, nos admira e respeita pela nossa essência. Não importa se somos brancos, negros, altos, baixos, gordos, magros... Não importa se temos carro do ano, se a nossa casa é rica ou se não temos nada. A distância também não é um problema, pois a amizade virtual é também universal.
É aquela pessoa que nos manda recadinhos carinhosos todos os dias, um bom dia, uma boa noite... Muitas vezes apenas nos encaminha, vez ou outra, os e-mails que recebeu dos outros amigos, mas nunca nos esquece. E como isso faz bem!
E quantas vezes Deus se utiliza desta amizade para dar respostas às nossas orações. Sabe aquele problema que não sabemos como resolver, daí oramos muito e pedimos a ajuda divina. De repente, alguém nos encaminha uma mensagem bonita que nos diz exatamente o que estávamos precisando naquele momento?! Não é coincidência. É Deus falando conosco através do amigo virtual.
E é por esse e por muitos outros motivos que queremos hoje, através desta mensagem, deixar a você "AMIGO", um abraço muito carinhoso e dizer MUITO OBRIGADO . Você é muito importante...

By Sandra

29 de setembro de 2009

ROGÉRIA MUNIZ

PARABENS Parabéns pelo seu dia. Que ao receber essa mensagem seu coração pulse mais forte, seus olhos brilhem e seus lábios sorriam. Esta é minha forma mais espontânea e simples para que você faça desse dia uma data muito importante para quem está a sua volta. Quero encher essa mensagem de flores, sorrisos, palavras significativas ao nível da sua bondade. Quero colocar dentro desta mensagem todos os corações que te apreciam, toda a luz e paz que você merece. Que a felicidade te acompanhe sempre e que ela seja ainda maior do que já é, pois é maravilhoso o bem que você planta ao longo do seu caminho. Tenha certeza que na vida, no tempo e na eternidade Deus te descreve sorrindo tudo isso que tentei te expressar. Feliz Aniversário

22 de setembro de 2009

Histórico Biográfico de Frei Lauro

Histórico Biográfico de Frei Lauro

1. IDENTIFICAÇÃO:

1.1. DADOS PESSOAIS

Nome: Johannes Schwarte
Filiação: Paul Schwarte e Clara Shwarte
Data de nascimento: 04/12/1935
Estado Civil: religioso – sacerdote
Naturalidade: Drolshagen – Alemanha Ocidental
Endereço Residêncial: Rua São Francisco, 195 – Conçeição – Campina Grande-PB


1.2. DADOS PROFISSIONAIS

Vigário Paroquial e superior do Convento de São Francisco na cidade de Campina Grande – Paraíba.


2. FORMAÇÃO ESCOLAR

2.1. ESCOLA DE 1 GRAU
Escola Volksschule em Drolshagen – Alemanha Ocidental no período de 1943 até 1952.

2.2. FORMAÇÃO PROFISSIONAL
Curso de mecânico realizado numa industria na Alemanha Ocidental, no período de 1953 até 1957 com estágio na SIEMENS.

2.3. ESCOLA DE 2 GRAU
Realizado em Drolshagen – Alemanha Ocidental de 1957 até 1959.

2.3. ESCOLA DE NÍVEL SUPERIOR
Curso de Filosofia realizado na cidade de Olinda em Pernambuco(Brasil) no período de 1960 até 1962



HISTÓRICO DA VIDA DE FREI LAURO


Quando nasceu em 1935 filho de uma família de pequeno industrial na cidade de Drolshagen, Frei Lauro teve até o ano de 1942 com sete anos, uma infância bastante feliz, em razão de que a Alemanha vivia em franco desenvolvimento econômico e social, sendo uma das maiores potências do mundo.

Com o desenrolar da Segunda Guerra Mundial em 1942, a Alemanha transformou-se numa grande tragédia para o seu povo, marcada com acontecimentos macabros que culminaram com a destruição da Alemanha.

Apesar de contar naquela época com apenas sete anos de idade, Frei Lauro guardava com ele em sua memória todos os fatos degradantes da Segunda Guerra Mundial, vendo parêntes, vizinhos e amigos que se foram para lutar na guerra e não mais voltaram e notícias diárias de mortes e desaparecimentos na peque cidade de Drolshagen, cuja tragédia final o mundo conhece.

Mesmo tendo iniciado seus estudos em 1943, com oito anos de idade, foi obrigado a interromper a frequência das aulas do 1 Grau, sendo forçado muitas vezes a deixar a sala de aula e correr para os abrigos a fim de se proteger dos bombardeios. Também nessa época, o Governo Alemão confiscou para fins militares todas as instalações escolares.

Em 1945, com a devassa da Alemanha levada pela fome e miséria, Frei Lauro como todos os moradores da pequena cidade de Drolshagen, foi obrigado a interromper seus estudos e passar a trabalhar no campo a fim de recolher alimentos para saciar a fome e garantir a sobrevivência.

Em 1948 já com 13 anos de idade reiniciou seus estudos para completar o 1 Grau, tendo participado em sua comunidade de jovens de grupos de escoteiros, amigos da natureza e sobretudo das atividades da igreja onde já demonstrava sua vocação sacerdotal.

De 1952 a 1956, além de trabalhar como industriário, passou a frequentar o curso profissional de mecânico geral, unindo a prática à teoria, obtendo o seu diploma de Técnico.

Entre 1956 a 1957, já na condição de técnico, trabalhou na conhecida industria AEG – SIEMENS, fabricando motores elétricos para locomotivas.

À partir de 1957 até 1959, continuou seus estudos em curso noturno e concluiu o 2 Grau, apesar de continuar trabalhando.
No final de 1969, Frei Lauro que já tinha vocação sacerdotal, realizou seu grande sonho de ser convocado para outro caminho, tendo ingressado no Convento dos Franciscanos na Alemanha, passando um ano como noviço, quando então foi admitido e recebeu o nome de Frei Lauro.

Quando frequentava o convento Franciscano na Alemanha, teve conhecimento das atividades franciscanas na África, Índia, Bolívia e no Brasil.

Talvez por admirar o Brasil, terra de riquezas naturais e imensidade além de uma grande escassez de vocações sacerdotais para servir ao reino de Deus, resolveu Frei Lauro escolher o nosso país para admitir como sua nova pátria e servir aos menos favorecidos. Foi assim que em 1960, por via marítima chegou ao Brasil, desembarcando em Recife – Pernambuco para iniciar seus estudos de grau Superior em Olinda.

Entre 1960 e 1962, realizou no Instituto Franciscano de Olinda, seus estudos de Filosofia, base fundamental para o curso de Teologia.

No final de 1962, transferiu-se para Salvador Bahia, onde realizou o sonhado curso de Teologia, para o exercício do sacerdócio.

Em 24 de julho de 1965, foi ordenado sacerdote Franciscano.

Nos três anos em que esteve em Salvador, Frei Lauro realizou diversos trabalhos comunitários, entre eles o movimento de escoteiros, catequese do Orfanato de São Joaquim, trabalho com os meninos de rua de Salvador, onde muitas vezes foi obrigado a intervir para evitar agressões contra os desprotegidos da sociedade.

Em 1967 já na condição de sacerdote, foi transferido para a cidade de Fortaleza, onde trabalhou na Paróquia Franciscana no Bairro Otávio Bonfim até 1976, continuando suas atividades sacerdotais.

No final de 1976 foi transferido para a cidade de Aracaju, trabalhando como sacerdote até fevereiro de 1985. Neste período Frei Lauro descobriu o Radioamadorismo e ficou fascinado com o lema “Se não vives para servir, não serves para viver”. Desta forma complementando sua filosofia de vida voltada para os mais carentes e ainda mais, podendo desta vez aumnetar seu ciclo de amizades através das ondas do rádio. Logo após ao se tornar um radioamador autêntico com o prefixo PP6 ABR, criou uma escolinha no Convento Franciscano com outros radioamadores mais experientes para preparar os novos colegas que passariam a ingressar nesta modalidade. Ainda em Aracaju, Frei Lauro participou ativamente da Diretoria da LABRE – SE.


Em 1983 ainda em Aracajú, Frei Lauro resolveu adotar o Brasil como a sua Segunda Pátria, tendo requerido e recebido a naturalização.


No ano de 1985 por determinação superior Frei Lauro foi enviado para Campina Grande, para dar continuidade aos seus trabalhos como pároquo no Convento de São Francisco, assistindo às comunidades do Continental, Araxá e Jeremias.

No período de 1985 até 1989, Frei Lauro passou a acompanhar os trabalhos de vários colegas em Campina Grande Grande que faziam o nome do Radioamadorismo naquela época: o saudoso Pedro Feitosa PR7 LAJ(1982/1983) que vinha dando continuidade aos precursores do radioamadorismo Campinense, Mário Sérgio(1988/1989)

No período em que convivia com os colegas radioamadores , o saudoso Frade teve a idéia de transformar o Clube de Radioamadores numa Escola que pudesse além de formar e promover o radioamadorismo na Região, colaborasse com os mais carentes da sociedade oferecendo cursos básico de Eletrônica e Telecomunicações para que os mesmos pudessem ter uma base suficiente para desenvolver habilidades técnicas e finalmente com a prática prover alguma atividade rentável e de auto-sustento.

Alimentado pela idéia de realizar seu sonho maior e com apoio de vários colegas radioamadores da cidade apresentou a Chapa renovação para concorrer a Diretoria para o biênio 1990/1991.


Já em 1992 no seu segundo mandato, inaugurava a nova sede já com o nome de ESCOLA E CASA DE RADIOAMADORES, com uma infra-estrutura arroja e moderna, com espaços adequados para o laborátorio de Eletrônica e Telecomunicações e sala de aula.

O sonho estava apenas começando a se realizar. Já com os resultados da inauguração da nova sede, inacreditavel para alguns, o mesmo recebeu todo respaudo necessário para continuar a realizar o seu sonho que ainda tinha mais duas etapas: Mobíliar e equipar todas as depêndencias da nova casa

Em 1993 viajou para a Alemanha para passar três meses de férias com a sua família. Em outubro do mesmo ano Frei Lauro despachou para o Brasil três caixotes com todos os equipamentos necessários para equipar o Laboratório de Eletrônica, como também instrumentais básicos para a manutenção e alinhamento de transceptores e acessórios. Os equipamentos foram avaliados em US$ 35.000,00. Infelizmente a burocracia manteve no porto de Recife toda a mercadoria encaixotada até junho de 1994.
Em agosto de 1994 a Escola e Casa de Radioamadores realizava o primeiro curso Básico de Eletricidade/Eletrônica para os colegas radioamadores. Na primeira reunião de avaliação o nosso idealizador Frei Lauro suspira satisfeito em ver os primeiros frutos de seu sonho.

Ainda em 1994 Frei Lauro foi agraciado com o título de cidadão Baiano, indo até a capital Salvador para recebero o título tão merecido, em reconhecimento ao trabalho realizado em favor dos meninos de rua e do movimento escoteiro.

No período de 1995 até 1997 a ECRA desta vez se preocupava com os convênios para a manutenção dos cursos priorizando os jovens da comunidade mais carente. Desta forma foi firmado convênio de Cooperação com o Parque Técnológico, SINE e a Prefeitura Municipal de Campina Grande.

Em 1996 o nosso amigo Frade recebia desta vez o título de cidadão Campinense e ainda o título de sócio honorário do Rotary Club Oeste de Campina Grande em reconhecimento ao trabalho dedicado aos pobres das comunidades do Continental, Araxá e Jeremias.

Em 1997 formamos a primeira turma de 30 alunos

Em 1998 formamos mais 15 alunos no primeiro semestre. Devido as dificuldades de manutenção dos convênios não foi possível a realização de mais uma turma no segundo semestre.

No final do ano passado e início deste, recebemos visitas de fundações não governamentais da Alemanha amigos de Frei Lauro que vieram conhecer o trabalho por aqui realizado. Desta forma garantimos verbas suficiente para a manutenção das turmas para o exercício 1999.


Neste ano, no período de junho a agosto, Frei lauro viajava para mais um período de Férias junto a sua Família e rever a sua mãe que já estava com 90 anos !


Ao Chegar a Alemanha o mesmo realizou vários exames de rotina. Entre os quais se gerou a suspeita de tumores no Pâncreas. Realizaram-se outros exames mais precisos e foi confirmado um CA no centro do Pâncreas diminuindo as possibilidades de cirurgia. O mesmo passou por várias sessões de radio e quimio terapia. Não obtendo o resultado esperado.

Frei Lauro veio a falecer na sua terra Natal no dia 03 de novembro às 22:00hs GMT.

No dia da sua morte recebemos em Campina Grande uma quantia em dinheiro dentro de um envelope com sua prória letra, suficiente para manter mais duas turmas no período de 01 ano!

Carlos Drumond de Andrade

ANTOLOGIA POÉTICA -
Carlos Drumond de Andrade
________________________________________
Resumo
Desde Alguma poesia foi pelo prosaico, pelo irônico, pelo anti-retórico que Drummond se afirmou como poeta congenialmente moderno. O rigor da sua fala madura, lastreada na recusa e na contensão, assim como o fizera homem de esperança no momento participante de A rosa do povo, o faz agora homem de um tempo reificado até a medula pela dificuldade de transcender a crise de sentido e de valor que rói a nossa época, apanhando indiscriminadamente as velhas elites, a burguesia afluente, as massas.
"Eu não disse ao senhor que não sou senão poeta?"
A obra de Carlos Drummond de Andrade representa o melhor dos múltiplos cominhos da moderna poesia brasileira, do poema-piada como Cota zero: (Stop/ A vida parou/ Ou foi o automóvel?) ao poema social e político de Mãos dadas, da lírica existencial de Confidencia do itabirano ao épico-filosófico de Amar, de textos discursivos como Os ombros suportam o mundo aos textos elípticos e condensados.
Além da criação de uma poesia de alta qualidade, Drummond conseguiu conquistar significativo público para a poética modernista: ao morrer, em 1987, aos 85 anos, apesar de seu retraimento e seu jeito avesso à publicidade, era muito conhecido, dentro e fora do Brasil, uma espécie de personificação - não-institucional, não-acadêmica - do poeta e da poesia.
Nasceu em Itabira do Mato Dentro, Minas Gerais, em 1902. Em 1925, participa da A Revista, porta-voz de um grupo de jovens mineiros, estabelece contato com os modernistas do Rio e de São Paulo, principalmente com Manuel Bandeira e Mário de Andrade.
Sua atividade poética atravessará mais de 60 anos, sendo conciderado, quase por unanimidade, o mais totalizante e o mais significativo poeta do século XX no Brasil.
Seu primeiro livro é lançado em 1930, Algumas poesias, com poemas escritos durante os anos vinte.Drummond participa da segunda geração modernista, a de 1930-1945; no entanto, sua obra representa, a síntese, a unidade entre a primeira (a fase "heróica", de 1922 a 1930) e a segunda geração. A partir de Algumas poesias (poemas típicos de ruptura das convenções, em especial das acadêmicas e parnasianas), o poeta assume novas linguagens, até a coloquial e aborda temas do cotidiano, das pequenas cidades e das metrópoles.
Encontramos em Algumas poesias micro-poemas, poemas-piadas, poemas-paródias, versos livres, estrofação heterogênea, em uma realização radicalmente pessoal, com voz própria, marcada de inquietude e investigação existencial, de densa ironia, de antilirismo intencional, como verificaremos na Antologia comentada. O segundo livro, Brejos das almas, de 1934, representa essas características intensificando a temática existencial.

Poesias de denuncia e dilaceração do mundo
Drummond escreve também uma poesia típica da segunda fase modernista, sempre com inconfundível voz pessoal. É uma poesia menos voltada para a ruptura, com mais universalidade de temas, de linguagens, e de imagens, desenvolvendo novos caminhos (filosóficos, políticos, sociais) e superando certa atitude maniqueísta de vanguarda, que negava em bloco e indiscriminadamente a herança passada.
Drummond publica Sentimento do mundo (1940), José (1942), A rosa do povo (1945), Novos poemas (1948).
Nessas obras, apresenta poesia social e política do mais alto nível, de denuncias das dilacerações do mundo, de resistência diante dos totalitarismo (principalmente do nazi-fascismo). Poesia que questiona e chama à ação, poesia publica, para se lida em voz alta, falada até em comícios, participante, altamente expressiva, com vigorosos versos livres, com intensa fabulação de imagens, sem se desfigurar em panfletos de propaganda.
Com claro enigma, (1951), seguido de fazendeiro do ar, (1959), outra face de Drummond prevalece: uma poesia de grande elaboração formal, fundindo o clássico e o moderno, com grande vigor de construção, muitas vezes hermética, de acentuada preocupação filosófica e mesmo metafísica.
Nessas obras o poeta questiona o sentido e a ausência de sentido da existência, a crise do indivíduo e da linguagem e da poesia. Uma poética de fundo desencantado, que não se faz cúmplice de aparências, que arranca todas as mascaras do real para olhar cara a cara os vazios, sem medo de perder as ilusões.
O crítico Alfredo Bosi escreve, em sua já citada História concisa da literatura brasileira: a partir de Claro enigma (1948-51), o desencanto que sobreveio à fugaz experiência da poesia política tem ditado para o poeta dois modos principais de comprar o poema:
a) escavar a real mediante a um processo de interrogações e negações que acaba revelando o vazio {à espreita do homem no coração da matéria e da história. O mundo define-se como (um vácuo atormentado/ um sistema de erros) (...)
b) fazer as coisas e as palavras - nome das coisas - boiar nesse vácuo se bordas a que a interrogação reduz os reinos do saber.
Essa poética de escavação, que predomina agora e que dissemina-se por toda a sua obra, pareça o avesso do desejo de totalização harmônica da vida, desejo sempre de transpor a cisão entre a palavra e a coisa, para alem do mistério e da precariedade do destino humano.
Com Lição de coisas, em 1962, já é outra face a predominante: Drummond retoma temas sociais e subjetivos, retoma os versos livres, e abre um campo de reiterada experimentação com as palavras. Na apresentação do livro Drummond escreve: O poeta abandona quase completamente a forma fixa que cultivou durante certo período, votando ao verso que tem apenas a medida e o impulso determinados pela coisa poética a exprimir. Pratica, mais do que antes, a violação e a desintegração da palavra, sem entretanto aderir a qualquer receita poética vigente.
A multiplicidade de ritmos de sua poesia não tem paralelo entre os modernistas: a densidade emocional, semântica e imagística a torna uma espécie de síntese da moderna poesia brasileira, matriz de muitos outros poetas.










Explicação
Meu verso é minha consolação.
Meu verso é minha cachaça. Todo mundo tem sua cachaça.
Para beber, copo de cristal, canequinha de folha-de-flandres,
folha de taioba, pouco imorta: tudo serve.
Para louvar a Deus como para aliviar o peito,
queixar o desespero da morena, cantar minha vida e trabalhos
é que faço meu verso. E meu verso me agrada
(...)
Se meu verso não deu certo, foi seu ouvido que entortou.
Eu não disse ao senhor que não sou senão poeta?
Sob o título provisório de Reunião, Drummond publicou em 1969, um volume contendo dez livros de poesia: Alguma poesia (1930), Brejos da alma (1934), Sentimento do mundo (1940), José (1942), A rosa do povo (1945), Novos poemas (1948), Claro enigma (1951), Fazendeiro do ar (1954), A vida passada a limpo (1959), Lição de coisas (1962).
Ao organizar a sua Antologia poética, em 1962, Drummond optou por apresentá-la em certos núcleos temáticos, que seriam, segundo suas próprias palavras, certas características, preocupações ou tendência que a condicionam ou definem em conjunto. A Antologia lhe pareceu assim mais vertebrada e, por outro lado, espelho mais fiel.
Para fazermos esta travessia de iniciação de sua obra, optamos por seguir a arquitetação proposta por lei: além disso, incluímos ao livro a que pertence cada poema, para que se possa identificá-lo nos momentos da criação de Drummond.
Um eu todo retorcido
Poema de sete faces
(Alguma poesia)
Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai Carlos! ser gauche na vida.
As casas aspiram os homens
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.
O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.
Porém meus olhos
Não perguntam nada.
O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos
o homem atrás dos óculos e do bigode.
Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus,
se sabias que eu era fraco.
Mundo mundo vasto mundo,
se eu chamaste Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
Mais vasto é meu coração.
Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido feito o diabo.
As sete faces correspondem a sete estrofes, com de fosse um retrato em sete partes. Poema tipicamente modernista, de ruptura com as convenções. Descontínuo, inesperado, coloquial. Escritos com versos livres e com estrofes heterogêneas. Irônico: neste poema de descoberta do eu e do mundo Drummond se coloca como gauche - um desajeitado - mas cujo o coração transborda, mais vasto que o mundo, com humor desencantado, sarcástico. Com uma secura que representa a emoção. Antilírica. Observe o tom de confidência da ultima estrofe, onde o poeta assume a emoção, embora a atribua ao conhaque e a lua...
Uma província: esta
Confidência do italiano
(Sentimento do mundo)
Alguns anos vivi em Itabira.
Principalmente nasci em Itabira.
Pó isso sou triste, orgulhoso: de ferro.
Noventa por cento de ferro nas calçadas.
Oitenta por cento de ferro nas almas.
E esse alheamento do que na vida é porosidade e comunicação
À vontade de amar, que me paralisa o trabalho,
vem de Itabira, de suas noites brancas, sem mulheres e sem horizontes.
E o hábito de sofrer, que tanto me diverte,
é doce herança itabirana.
De Itabira trouxe prendas diversas que hora te ofereço:
este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval:
este couro de anta, estendido no sofá da sala de visita:
este orgulho, esta cabeça baixa...
tive ouro, tive gado, tive fazendas.
Hoje sou funcionário publico.
Itabira é apenas uma fotografia na parede
Mas como dói!
Cidadezinha qualquer
(Alguma poesia)
Casas entre bananeiras
Mulheres entre laranjeiras
pomar amor cantar.
Um homem vai devagar.
Um cachorro vai devagar.
Um burro vai devagar.
Devagar... as janelas olham.
Eta vida besta, meu Deus.
Estes dois poemas são referencias para toda a obra de Drummond. O primeiro, um auto-retrato, e o segundo, um Flash de uma cidadezinha qualquer, ambas constituem reelaborações poética de sua cidade natal, Itabira. Enquanto em Confidência do itabirano há expressivas antíteses, de ironia amarga e sutil (pó exemplo, hábito de sofrer / que tanto me diverte / doce herança itabirana), em Cidadezinha qualquer os versos no infinitivo, as repetições e uma prosopopéia (Devagar... as janelas olham) expressam o tédio à monotonia da vida do interior, que no entanto deixa tanta saudade, como mostram os versos finais, antológicos, de Confidência do itabirano.


A família que me dei
Infância
(Alguma poesia)
Meu pai montava a cavalo, ia para o campo.
Minha mãe ficava sentada cosendo.
Meu irmão pequeno dormia.
Eu sozinho menino entre mangueiras
lia a história de Robinson Crusoé
Comprida história que não acabava mais.
No meio dia branco de luz uma voz que aprendeu
a ninar nos longe da senzala - e nunca se esqueceu
chamava para o café.
Café preto que nem a preta velha
café gostoso
café bom.
Minha mãe ficara em casa cosendo
Olhando para mim:
- Psiu... Não acorde o menino.
Para o berço onde pousou um mosquito.
E dava um suspiro... que fundo!
Lá longe meu pai campeava
no mato sem fim da fazenda.
E eu não sabia que a minha história
era mais bonita que a de Robinson Crosoé.
Outro antológico poema "itabirano". Observe que o prosaico, o cotidiano - montar a cavalo, ir para o campo, fazer criança dormir, tomar o café da preta velha, ler histórias - são transformados em elementos poéticos intensamente expressivos, com uma simplicidade essencial, raramente atingida na poesia brasileira. Novamente, versos livres, estrofes heterogêneas, linguagem coloquial.

Cantar de amigos
Mário de Andrade desce aos infernos
(fragmento)
(A Rosa do povo)
I
Daqui a vinte anos farei teu poema
e te cantarei com tal suspiro
que as flores pasmarão, e as abelhas,
confundidas, esvairão seu mel.
Daqui a vinte anos: poderei
tanto esperar o preço da poesia?
É preciso tirar da boca urgente
o canto rápido, ziquezagueante, rouco,
feito da impureza do minuto
e de vozes em febre, que golpeiam
esta viola desatinada
no chão, no chão.
Escrito para a morte de Mario de Andrade, este fragmento já revela a tensão do texto, a intensidade emocional do poema. Tendo como tema o desconcerto diante da morte (observe as imagens da natureza caótica, a repetição no chão, no chão que dá maior ênfase ao destino, ao desespero), Drummond anuncia um poema futuro no entanto realizado no aqui/agora da perplexidade, da emoção.
Amar-Amaro
Mãos dadas
(Sentimento do mundo)
Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre ele, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.
Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,
não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,
não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,
não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,
a vida presente.
Este é um dos mais fundamentais poemas políticos de todo o modernismo. Texto engajado, comprometido, participante, e, ao mesmo tempo, de grande força poética. Ritmo intenso, imagens intensas. Observe o tom da fala, da oralidade, a linguagem coloquial muito expressiva, acentuada pela pulsão livre dos versos. Na construção do poema, observe a enumeração de negações - que recusam as variadas de escapismo romântico, de fuga a realidade. A repetição de palavras, em especial a palavra presente, carrega ainda mais o texto de alta tensão poética.
Canção antiga, é um dos textos de ritmo mais fluente e mais musical de toda a obra de Drummond, fundado em versos redondilhos maiores (sete sílabas). As imagens são de muita simplicidade iluminada. Neste poema, a desejada unidade harmônica da vida - para além das negações, das rupturas, das cisões, das precariedades - está anunciada: há uma rara e difícil positividade das idéias e das metáforas. Observe a interação entre os versos redondilhos, as estrofes regulares (quatro de quatro versos, uma de três versos) e o coloquial intensamente expressivo.
Canção amiga
(Novos poemas)
Eu preparo uma canção
em que minha mãe se reconheça,
todas as mães se reconheçam,
e que falem como dois olhos.
Caminho por uma rua
que passa em muitos países.
Se não me vêem, eu vejo
E saúdo velhos amigos.
Eu distribuo um segredo
como quem ama ou sorri.
No jeito mais natural
dois carinhos se procuram.
Minha vida, nossas vidas
formam um só diamante.
Aprendi novas palavras
e tornei outras mais belas.
Eu preparo uma canção
que faça acordar os homens
e adormecer as crianças.
Os ombros suportam o mundo
(Sentimento do mundo)
Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.
Em vão mulheres batem a porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És toda a certeza, já não sabe sofrer.
E nada esperas de teus amigos.
Pouco importa velha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pensa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertam ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo
Preferiam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é um ordem.
A vida apenas, sem mistificação.



Outro poema político e existencial de grande intensidade, representante do poema social de Drummond, aquela em que o coração é menor, muito menor que o mundo. Questionador da relação conflituosa do indivíduo e do mundo, numa perspectiva anti-romantica, anti-lírica convencional, chamando à vida que a por fazer. Texto que exemplifica como a linguagem coloquial e as imagens diretas podem ser altamente expressivas, no conhecimento da necessidade de perceber que a vida é uma ordem, sem mistificação, sem ilusões vãs, com sobriedade, clareza e desencanto irônico, amargo, embora não resignado.
Uma, duas argolinhas
Quadrilha
(Alguma poesia)
João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para a tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.
Poema-piada, em versos livres, tipicamente modernista e drummondiano: carregado de anti-lirismo, de ironia seca e amarga, sobre os desconcertos do amor, sobre a cadeia de desencontros e a permanente falta de correspondência das relações amorosas, mas com humor, que se acentua na figura de Lili, a que não amava e que se casa... Como se o casamento nada tivesse a ver com as histórias de amor.
Amar
(Claro enigma)
Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,
amar, desamar, amar?
Sempre, e até de olhos vidrados, amar?
Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?
amar o que o mar trás a praia
o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?
Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o cru,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina.
Este o nosso destino: amar sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma eterna ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.
Amar a nossa falta de amor, e na secura nossa
amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.
Poema filosófico do alto nível, observe os ritmos, ao mesmo tempo tensos e fluentes, a complexa rede de metáforas enumeradas. O texto funde o lírico da temática amorosa e o episódio da reflexão coletiva, universal, sobre a necessidade de amar. A linguagem funde o coloquial - amar e malamar - e o culto - e amar o inóspito.
Atravessado de indagações e de respostas, este é um dos mais significativos poemas de amor de toda a língua portuguesa.
Poesia contemplada
Procura da poesia
(fragmentos)
(A rosa do povo)
Não faças versos sobre acontecimentos.
Não há criação nem morte perante a poesia.
Diante dela, a vida é um sol estático,
não aquece nem ilumina.
As afinidades, os aniversários, os incidentes pessoais não contam.
Não faças poesias com o corpo,
esse excelente, completo e confortável corpo, tão inofensivo à efusão lírica.
Tua gota de bile, tua careta de gozo ou de dor no escuro
são indiferentes.
Nem me revele seus sentimentos,
que se prevalecem do equívoco e tentam a longa viagem.
O que pensas e sentes, isso ainda não é poesia.
Não cantes tua cidade, deixa-a em paz.
O canto não é o movimento das maquinas nem o segredo das casas.
Não é a música ouvida de passagem: rumor do mar nas ruas junto à linha de espuma.
(...)
penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intacta.
Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.
Convive com teus poemas, antes de escrevê-los.
Tem paciência, se obscuros. Calma, se te provocam.
Espera que cada um se realize e consuma
com seu poder de palavra
e seu poder de silêncio.
Não forces o poema a desprender-se do limbo.
Não colhas no chão o poema que se perdeu.
Não adules o poema. Aceita-o
como ele aceitará sua forma definitiva e concentrada
no espaço.
Chega mais perto e contempla as palavras.
Cada uma
tem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta
pobre ou terrível, que lhe deres:
Trouxeste a chave?
Repara:
Ermas de melodia e conceito,
Elas se refugiam na noite, as palavras.
Ainda úmidas e impregnas de sono,
rolam num rio difícil e se transformam em desprezo.



Outro poema fundamental na obra de Drummond e no Modernismo brasileiro. Metapoema, metalinguagem. Poesia que fala de poesia. A concepção é universal na poética moderna: a poesia se faz com palavras, a poesia está na linguagem. O fazer poético é penetração no reino das palavras, descoberta de suas faces secretas, que se escondem sob a face neutra, aparente, usual.



Na praça de convites
Os materiais da vida
(A vida passada a limpo)
Drls? Faço o meu amor em vidrotil
nossos coitos são de modernfold
até que a lança de interflex
vipax nos separe
em clavilux
camabel camabel o vale ecoa
sobre o vazio de ondalit
à noite asfáltica
plks
Poema de experimentação verbal, de experiências com palavras: criação de neologismo, disposições visuais significantes, jogos sonoros fragmentários, descontinuidade radical dos versos. Observe a intensa ironia drummondiana, parodiando os termos e os slogans da sociedade de consumo altamente urbana e industrial.
Tentativa de exploração e de interpretação do estar-no-mundo
No meio do caminho
(Alguma poesia)
No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.
Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minha retina tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.
Provavelmente este é o mais polemico poema da história do Modernismo, por sua concepção e sua estrutura revolucionárias: os versos se repetem, circulares, em torno da pedra (a frase vai até a pedra e volta, sem ultrapassá-la). Por essa organização sintática, pelo radical coloquialismo da linguagem, pelos inumeráveis leituras metafóricas que possibilita, este poema tornou-se um símbolo da poesia de Drummond e do Modernismo brasileiro, No meio do caminho, de poesia antipoética, de lírica antilírica, ilustra a travessia do poeta e de todos nós entre o individual e o social, o coração e a pedra no meio do caminho, o mundo.
A máquina do mundo
(claro enigma)
E como eu palmilhasse vagamente
uma estrada de Minas, pedregosa,
e no fecho da tarde um sino rouco
se misturasse ao som de meus sapatos
que era pausado e seco: e aves pairassem
no céu de chumbo, e suas formas pretas
lentamente se fossem diluindo
na escuridão maior, vida dos montes
e de meu próprio ser desenganado,
a maquina do mundo se entreabriu
para quem de a romper já se esquivava
e só de o ter pensado se carpia.
Abriu-se majestosa e circunspecta,
sem emitir um som que fosse impuro
nem um clarão maior que o tolerável
pelas pupilas gastas na inspeção
contínua e dolorosa do deserto,
e pela mente exausta de mentar
toda uma realidade que transcende
a própria imagem sua debuxada
no rosto do mistério, nos abismos.
(...)
baixei os olhos, incurioso, lasso,
desdenhado colher a coisa oferta
que se abria gratuita a meu engenho.
A treva mais estrita já pousara
sobre a estrada de Minas, pedregosa,
e a máquina do mundo, repelida,
se foi miudamente recompondo,
enquanto eu, avaliando o que perdera,
segui vagaroso, de mãos pensas.



Poema épico-filosófico de dimensão universal. Escrito em tercetos/estrofes de três versos (como a Divina comédia, de Dante) e em versos decassílabos camonianos, sem rima. O texto representa o tema da máquina do mundo, do episódio de Ilha dos amores (Os Lusíadas), em que Vênus, em homenagem às conquistas portuguesas, revela a Vasco da Gama a máquina do cosmos, a estrutura do universo, síntese da concepção da natureza. Numa postura moderna, radicalmente anti-épica, anti-heróica, o narrador-personagem se recusa a contemplá-la e continua o caminho, de mãos pensas...


Estrutura formal de composição:

a. Versilibrismo: o uso indiscriminado do verso livre.
b. Prosaísmo: adoção na poesia de processos adequados à prosa como o discurso direto, a ausência de rimas, a conversa com o leitor;
c. Linguagem dinâmica e irônica: versos pequenos e concisos no significado, semelhante ao poema pílula de Oswald de Andrade;
Cenas do cotidiano: a infância, a metrópole, Itabira e a família;
Recriação metonímica da realidade sentida: Drummond apreende filosoficamente o mundo a partir de assuntos banais.