21 de março de 2008

UMA LÁGRIMA

Pelo beijo que eu não te dei
Pelo afago que eu sufoquei
Pelos sonhos que malbaratei
Pelo encontro que em vão sonhei
Pelo beijo que não me roubaste
Pelo afago que me recusaste
Pelo encontro que tu evitaste
Pelo sonho que tu não sonhaste


Uma lágrima

Pela mão que não entrelacei
Pelo olhar que jamais cruzei
Pela valsa que eu não dancei
Pela música que não entoei
Pela mão que não apertaste
Pelo olhar que tu desviaste
Pela dança que tu não dançaste
Pela canção que não escutaste


Uma lágrima

Pela espera da festa... sem festa
Pela espera do gozo... sem gozo
Pela espera da vida... sem vida
Pelo ápice do fim... sem fim


Uma lágrima

Sem festa... pela fresta que tu me fechaste
Sem gozo... pois no meio do caminho declinaste
Sem vida... foste minha luz e te apagaste
Sem fim... começaste a amar e não terminaste

(Fátima Irene Pinto)

PARALELAS

Tu és o sótão e eu o porão
Tu és a cumeeira e eu o alicerce oculto
Tu és a parte exposta do iceberg
Eu sou a metade submersa
Tu és o zênite e eu o nadir
Tu és a cara da moeda e eu a coroa
Eu te conheço porque és a outra parte de mim
Tu me conheces porque sou a outra parte de ti
Para que possas ser a metade exposta
É preciso que eu seja a metade implícita
Para que possas declinar versos angelicais
É preciso que eu derrame versos abismais
Eu não minto e nem tu mentes jamais
Escolhes falar da luz por opção
Escolho rasgar abismos por oposição
Caminhamos paradoxalmente na mesma direção
Para que possas suportar-te na cumeeira
Faço-me a base segura e obscura do teu altar
E nesta junção milenar
Somos qual duas linhas paralelas
Fadadas a andar lado a lado
Sem jamais poder se encontrar

( Fátima Irene Pinto)

Poeta, Viajante das Estrelas

coração errante,
eterno navegante sem porto
habitante das cidades ilusórias
nascidos sem dores de parto.

Sou filho do sol e da lua
no meu coração batem rimas,
no meu sangue circulam versos
e meu sorriso traduz poemas
jamais escritos por medo ou incerteza.

Cresci no meio de olhares,
alimentei-me de sentimentos
diversos.
Crescendo dentro de almas estranhas
sou o poeta das rimas provisórias.
Meu alimento é paixão, ódio, amor
e todo sentimento existente
nas entranhas humanas
seja ele qual for

Sou filho do céu e do mar,
minhas veias são estradas
infinitas
por onde passam caravanas ciganas,
minha mente imenso espaço com profusão de estrelas e astros,
minhas mãos são pergaminhos sagrados
revelando segredos antigos, meus olhos espelho de alma tímida
traduzindo versos que eu não quis escrever
por uma razão qualquer.

Meu destino é seguir eternamente
sem rumos ou guias,
por estradas vazias
que levam sempre ao meu lugar.

Sou filho do tudo e do nada,
da beira da estrada,
do chão e do ar.

Minha voz é doce balada,
cantiga suave para o mundo sonhar.
Sou som e sou cor
sou ódio e amor
sou vida, sou morte
sou sangue sem corte
Poeta eu sou.

(Mauro Gouvea)

RECORDAR...

Assim vou vivendo,
lembrando,
saudoso,
teus beijos,
abraços,
amassos...

Aquela boca úmida,
quente,
língua saliente,
dedos levados...
correndo meu corpo,
me fazendo arrepiar...

Ah, como é bom,
ter-se do que recordar...

Mãos de palma macia,
percorrendo minha pele,
uma massagem gostosa...
relaxamento total...
Depois aquele chegar,
corpo com corpo, unidos,
sentindo o prazer causado,
suor saindo dos poros,
um cheiro que fica...
Inebriante, sensual,
por ser aquele que sinto,
o teu cheiro natural.

Ah, como é bom,
muito bom,
ter-se o que
recordar !

(José Maciel)

MODELANDO IMAGEM

Vou aos poucos modelando a vida da minha vida
na terracota que acaricio
em minhas mãos.
Sinto a tua solidez
sem forma,
pulsando no meu pulsar,
causando-me inexplicável prazer.
Pouco a pouco vou esculpindo
a tua imagem.
Transfiro para os meus dedos
as minhas mais recônditas emoções e os meus sentimentos mais puros.
Ergo-te!
Capricho em teus olhos,
tua face, teus lábios, teus ombros musculosos,
teus braços.
Coloco o teu rosto em minhas mãos
e o redireciono para o alto,
como que buscando a força vital que em ti não se manifesta.
Nem mesmo a teoria da geração
espontânea nos auxilia
depois da comprovação científica
do Dr. Littlefield .
No entanto, sinto
desejos de que um milagre aconteça
em nome da força do amor
que te dedico.


(Alice Capel)

AONDE ?

Ando a chamar por ti, demente, alucinada,
Aonde estás, amor? Aonde...aonde...aonde?...
O eco ao pé de mim segreda...desgraçada...
E só a voz do eco, irônica, responde!
Estendo os braços meus! Chamo por ti ainda!
O vento, aos meus ouvidos, soluça a murmurar;
Parece a tua voz, a tua voz tão linda
Cantando como um rio banhado de luar!
Eu grito a minha dor, a minha dor intensa!
Esta saudade enorme, esta saudade imensa!
E só a voz do eco à minha voz responde...
Em gritos a chorar, soluço o nome teu
E grito ao mar, à terra, ao puro azul do céu:
Aonde estás amor? Aonde...aonde...aonde?...


Autor: Florbela

OUTONO

Foi um amor
acima de tudo.
Angustiado,
mas era belo.
Porque também era eterno
porque vestiu carinhos
porque era alegre e triste
e se perdeu no abandono.
De mãos que buscavam
de olhos que diziam
de bocas insatisfeitas
no calor de um só momento.
Tudo é frio e cinzento
uma chuva pequenina
lava meu passado
e as folhas, levadas pelo vento
vão caindo lentamente... no chão
em que caminho
é um outono de sensações,
desagregações de sonhos
pedaços do que senti
e no fim que se aproxima
restará outra vez
aquela amplidão imensa
o espaço sem limites
de sensações sem eco.
Eu te peço perdão, meu anjo
pela angústia que ficará comigo!

(Glácia Daibert)