21 de março de 2008

RECORDAR...

Assim vou vivendo,
lembrando,
saudoso,
teus beijos,
abraços,
amassos...

Aquela boca úmida,
quente,
língua saliente,
dedos levados...
correndo meu corpo,
me fazendo arrepiar...

Ah, como é bom,
ter-se do que recordar...

Mãos de palma macia,
percorrendo minha pele,
uma massagem gostosa...
relaxamento total...
Depois aquele chegar,
corpo com corpo, unidos,
sentindo o prazer causado,
suor saindo dos poros,
um cheiro que fica...
Inebriante, sensual,
por ser aquele que sinto,
o teu cheiro natural.

Ah, como é bom,
muito bom,
ter-se o que
recordar !

(José Maciel)

MODELANDO IMAGEM

Vou aos poucos modelando a vida da minha vida
na terracota que acaricio
em minhas mãos.
Sinto a tua solidez
sem forma,
pulsando no meu pulsar,
causando-me inexplicável prazer.
Pouco a pouco vou esculpindo
a tua imagem.
Transfiro para os meus dedos
as minhas mais recônditas emoções e os meus sentimentos mais puros.
Ergo-te!
Capricho em teus olhos,
tua face, teus lábios, teus ombros musculosos,
teus braços.
Coloco o teu rosto em minhas mãos
e o redireciono para o alto,
como que buscando a força vital que em ti não se manifesta.
Nem mesmo a teoria da geração
espontânea nos auxilia
depois da comprovação científica
do Dr. Littlefield .
No entanto, sinto
desejos de que um milagre aconteça
em nome da força do amor
que te dedico.


(Alice Capel)

AONDE ?

Ando a chamar por ti, demente, alucinada,
Aonde estás, amor? Aonde...aonde...aonde?...
O eco ao pé de mim segreda...desgraçada...
E só a voz do eco, irônica, responde!
Estendo os braços meus! Chamo por ti ainda!
O vento, aos meus ouvidos, soluça a murmurar;
Parece a tua voz, a tua voz tão linda
Cantando como um rio banhado de luar!
Eu grito a minha dor, a minha dor intensa!
Esta saudade enorme, esta saudade imensa!
E só a voz do eco à minha voz responde...
Em gritos a chorar, soluço o nome teu
E grito ao mar, à terra, ao puro azul do céu:
Aonde estás amor? Aonde...aonde...aonde?...


Autor: Florbela

OUTONO

Foi um amor
acima de tudo.
Angustiado,
mas era belo.
Porque também era eterno
porque vestiu carinhos
porque era alegre e triste
e se perdeu no abandono.
De mãos que buscavam
de olhos que diziam
de bocas insatisfeitas
no calor de um só momento.
Tudo é frio e cinzento
uma chuva pequenina
lava meu passado
e as folhas, levadas pelo vento
vão caindo lentamente... no chão
em que caminho
é um outono de sensações,
desagregações de sonhos
pedaços do que senti
e no fim que se aproxima
restará outra vez
aquela amplidão imensa
o espaço sem limites
de sensações sem eco.
Eu te peço perdão, meu anjo
pela angústia que ficará comigo!

(Glácia Daibert)

Amanhã

Amanhã! - é o sol que desponta,
É a aurora de róseo fulgor,
É a pomba que passa e que estampa
Leve sombra de um lago na flor.

Amanhã! - é a folha orvalhada,
É a rola a carpir-se de dor,
É da brisa o suspiro, - é das aves
Ledo canto, - é da fonte - o frescor.

Amanhã! - são acasos da sorte;
O queixume, o prazer, o amor,
O triunfo que a vida nos doura,
Ou a morte de baço palor.

Amanhã! - é o vento que ruge,
A procela d'horrendo fragor,
É a vida no peito mirrada,
Mal soltando um alento de dor.

Amanhã! - é a folha pendida.
É a fonte sem meigo frescor,
São as aves sem canto, são bosques
Já sem folhas, e o sol sem calor.

Amanhã! - são acasos da sorte!
É a vida no seu amargor,
Amanhã! - o triunfo, ou a morte;
Amanhã! - o prazer, ou a dor!

Amanhã! - o que val', se hoje existes!
Folga e ri de prazer e de amor;
Hoje o dia nos cabe e nos toca,
De amanhã Deus somente é Senhor!

(Gonçalves Dias)

MADRIGAL MELANCÓLICO

O que eu adoro em ti
Não é sua beleza
A beleza é em nós que existe
A beleza é um conceito
E a beleza é triste
Não é triste em si
Mas pelo que há nela
De fragilidade e incerteza
O que eu adoro em ti
Não é a tua inteligência
Mas é o espírito sutil
Tão ágil e tão luminoso
Ave solta no céu matinal da montanha
Nem é tua ciência
Do coração dos homens e das coisas
O que eu adoro em ti
Não é a tua graça musical
Sucessiva e renovada a cada momento
Graça aérea como teu próprio momento
Graça que perturba e que satisfaz

O que eu adoro em ti
Não é a mãe que já perdi
E nem meu pai
O que eu adoro em tua natureza
Não é o profundo instinto matinal
Em teu flanco aberto como uma

ferida
Nem a tua pureza. Nem a tua impureza
O que adoro em ti lastima-me e consola-me
O que eu adoro em ti é A VIDA !!!

(Manuel Bandeira)

SENTIR PRIMEIRO

Sentir primeiro, pensar depois
Perdoar primeiro, julgar depois
Amar primeiro, educar depois
Esquecer primeiro, aprender depois
Libertar primeiro, ensinar depois
Alimentar primeiro, cantar depois
Possuir primeiro, contemplar depois
Agir primeiro, julgar depois
Navegar primeiro, aportar depois
Viver primeiro, morrer depois


(Mário Quintana)